Raygun, a australiana que nada conquistou no breaking e de que nada se arrepende

Rachael Gunn, 36 anos, é professora na Macquarie University, em Sydney, com especializações em dança, políticas de género e a dinâmica entre metodologias teóricas e práticas. Mundo do break defende-a

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A atleta Rachael Gunn, conhecida por Raygun, da Australia, a competir em Paris Angelika Warmuth/Reuters
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O breaking foi uma das novas modalidades que subiu ao palco dos Jogos Olímpicos de Paris, naquela que pode ser a primeira e última vez, já que daqui a quatro anos não estará representada em Los Angeles, EUA. Nesta fugaz aparição, houve uma atleta que se tornou viral nas redes sociais, a australiana Rachael Gunn, também conhecida por Raygun, que foi derrotada, mas celebrizada pelos seus movimentos. Por isso, a comunidade do breaking declarou o seu apoio à atleta.

Durante umas horas, Rachael Gunn — de 36 anos, doutorada e professora na Macquarie University, em Sydney, com especializações em dança, políticas de género e a dinâmica entre metodologias teóricas e práticas — competiu em três batalhas, perdendo todas. Contudo, as redes sociais apoderaram-se dos seus movimentos para criticá-la — como é que tinha chegado até ali, perguntaram muitos internautas — ou para fazer piadas sobre os seus movimentos.

A comunidade do breaking veio em auxílio de Raygun, o nome de guerra da australiana, defendê-la, elogiá-la e oferecer-lhe ajuda em relação à sua saúde mental. "O breaking tem tudo a ver com originalidade, com trazer algo de novo e representar o seu país ou região", declarou Martin Gilian, também conhecido como MGbility, juiz desta modalidade, em conferência de imprensa, citado pela NBC. "Era exactamente isso que Raygun estava a fazer. Ela inspirou-se no que a rodeava, que neste caso, por exemplo, era um canguru."

Por seu lado, Sergey Nifontov, secretário-geral da Federação Mundial de Desportos de Dança, informou que a organização tem estado em contacto directo com Rachael Gunn e os responsáveis da equipa olímpica australiana. "Oferecemos o nosso apoio. Estamos cientes do que aconteceu, especialmente nas redes sociais, e definitivamente devemos colocar a segurança da atleta, neste caso, a sua segurança mental em primeiro lugar", disse. "Ela tem-nos a nós, enquanto federação, a apoiá-la", referiu, citado pela Associated Press

A atleta — a mais bem classificada pela Associação de Break da Austrália em 2020 e 2021, e vencedora do Campeonato de Break da Oceânia em 2023 — estava consciente que a competição era difícil, uma vez que a maioria das suas rivais era mais jovem, logo, capaz de fazer movimentos com técnicas mais difíceis, reconheceu a própria. Por isso, optou pela criatividade, por "algo artístico e criativo", disse.

"Eu nunca iria vencer estas raparigas naquilo que elas fazem melhor, os movimentos dinâmicos e poderosos", declarou, citada pelo The Washington Post. "Por isso, quis fazer um movimento diferente. Queria fazer algo artístico e criativo. Porque quantas oportunidades se têm na vida para fazer isso num palco internacional?"

Ao mesmo jornal, a atleta confessa que a Austrália não tem a "infra-estrutura" necessária para desenvolver mais talentos dignos de medalhas no breaking, mas não põe em causa a ascensão da modalidade aos Jogos Olímpicos e questiona, segundo o The Guardian: "O que é um desporto olímpico?" Para responder de seguida: "O break é claramente atlético. Exige todo um nível de dedicação numa série de aspectos diferentes. Por isso, sinto que preenche esses critérios [olímpicos]".

O breaking, que originalmente se chama breakdance, mas a designação é mal vista na esfera desportiva, é uma dança, uma forma de arte, cultura, de estar em comunidade e também um desporto, que nasceu nas ruas de Nova Iorque na década de 1970. Rachael Gunn lamenta que a modalidade tenha sido deixada de fora pela organização de Los Angeles 2028 — afinal, trata-se de uma cidade do país onde esta nasceu. "Mas não é o fim do breaking. A cultura do breaking é muito forte. Temos competições fora desta [que] são realmente importantes para a nossa cultura. Por isso, vamos continuar", conclui, citada pelo The Washington Post. Pode ser que regresse para os Jogos seguintes, que serão em Brisbane, na Austrália, no Verão de 2032.

No final dos Jogos, neste domingo, Raygun foi vista com a portuguesa Vanessa Marina, 32 anos, que também teve três derrotas, a dançar, incentivada por outros atletas.

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