Morreu a política desportiva

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1. Faleceu José Manuel Constantino e atrevo-me a dar o meu testemunho, que é o de uma pessoa que se honra de receber dele o seu respeito que, em dados momentos da vida, se tornou em cumplicidade no pensar e agir.

2.Não andarei longe da verdade ao afirmar que o nosso primeiro encontro ocorreu aquando do Fórum Horizonte (30, 31 de Março e 1 de Abril de 1995), tendo sido por ele convidado a falar sobre a responsabilidade civil decorrente da prática desportiva. No final, lembro-me que, chamado à parte, remunerou tal intervenção com um montante bem simbólico, ainda em escudos. Mais tarde, aquando do lançamento das minhas “Desporto a Direito. As crónicas indignadas do PÚBLICO”, convidei-o para a apresentação pública do meu trabalho, tendo ele frisado – e era verdade – que sendo um destinatário de algumas delas ou de outros escritos (era então presidente do instituto que incorporava Administração Pública desportiva), pela crítica áspera, achava curioso que o convite lhe fosse dirigido. Contudo, a apresentação como sempre foi brilhante, num clima de mútuo respeito.

3. Um outro registo comum foi a vivência em blogue (Colectividade Desportiva), ensaio crítico permanente aos governantes na área desportiva. Ele, mais polido; eu, bem agressivo. Iniciámos o projecto, com outros colegas, em 2007 e encerrámos no dia 17 de Dezembro de 2013.

4. Foi presidente da Confederação do Desporto de Portugal, ocupou a chefia da Administração Pública desportiva e, para além de outros cargos, morreu no exercício – para levar à letra – das funções de presidente do Comité Olímpico de Portugal. Faltou-lhe ser responsável governamental pela área do desporto, cargo que desempenharia de “pleno direito”, mas que, porventura, chocaria com o todo de um Governo, fosse ele qual fosse.

5. José Manuel Constantino foi um dos maiores políticos desportivos nacionais, realmente candidato a uma medalha de ouro. A qualidade da sua acção como político desportivo, a nosso ver, desdobrava-se, em duas. Em primeiro lugar, foi uma vida a estudar e a pensar o desporto, adiantando, incluindo em inúmeros escritos na imprensa, uma ideia de desporto e apontando medidas para sua concretização. Em segundo lugar, tinha o condão de enformar o seu espírito crítico em textos e intervenções dotadas de elegância, dessa forma deixando sempre aberto um espaço de debate, não fechando portas, um diplomata.

6. Há uma semana contactei-o por telefone, algo que sucedia, amiúde. Trocados galhardetes sobre as nossas doenças - a dele bem mais grave do que a minha – exprimiu alguma desesperança sobre o futuro após o final “desta geração” (onde por gentileza me incluiu). Para honrar a memória de José Manuel Constantino “os novos” têm, pois, uma árdua tarefa: aproximar-se (já não era mau) do seu exemplo de serviço público em prol do desporto.

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