Movimento Menos Ecrãs, Mais Vida considera medida sobre manuais digitais insuficiente

Ministério da Educação avançou que, no próximo ano lectivo, o projecto-piloto dos manuais digitais não será alargado a mais turmas do 1.º ciclo e secundário. Impacto na aprendizagem vai ser estudado.

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O projecto-piloto dos manuais digitais arrancou no ano lectivo 2020/2021 Daniel Rocha/Arquivo
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O Movimento Menos Ecrãs, Mais Vida, que lançou uma petição pública pelo fim imediato do projecto-piloto dos manuais digitais nas escolas, considera que o passo dado pelo Ministério da Educação de suspender o alargamento deste projecto apenas a mais turmas do 1.º ciclo e do ensino secundário é "insuficiente". "Tivemos um aumento de 500% no número de alunos no projecto sem que os seus impactos tenham sido estudados. É uma medida insuficiente para o que está em causa, que é uma falta de conhecimento sobre o impacto que este projecto está a ter nos alunos actualmente", nota Catarina Prado e Castro, uma das fundadoras deste movimento.

O projecto-piloto dos manuais digitais arrancou no ano lectivo 2020/2021. Desde então, o número de escolas, do 1.º ciclo ao ensino secundário, a substituir os manuais escolares impressos por digitais tem aumentado: no ano passado abrangeu cerca de 24 mil alunos. O Ministério da Educação opta agora por travar a integração de novas turmas do 1.º ciclo e do secundário no projecto-piloto, mantendo, contudo, tudo nos mesmos moldes para turmas do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico" (do 5.º ao 9.º ano).

"O projecto vai entrar em 2024/2025 no seu quinto ano lectivo, ainda em piloto, sem que tenha sido avaliado o seu impacto na aprendizagem dos alunos, existindo apenas resultados de questionários a alunos, professores e directores. Nesse sentido, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação vai solicitar um estudo de avaliação de impacto para tomar uma decisão sobre o projecto baseada em evidência para o ano lectivo 2025/2026 e seguintes", refere o ministério.

Para a promotora da petição, que foi entregue e discutida na Assembleia da República, era essencial suspender totalmente o projecto e não apenas travar o seu alargamento em alguns ciclos de ensino. "Parecem-me umas pequenas migalhas. Na verdade, os 24 mil alunos abrangidos vão continuar. O que gostaríamos é que nenhum aluno no 1.º ciclo tivesse aulas com manuais digitais", considera, adiantando que irá questionar o ministério sobre os "critérios pedagógicos" que estão na base da decisão de suspender o alargamento do projecto apenas ao 1.º ciclo e ensino secundário.

Catarina Prado e Castro lembra ainda o resultado de um inquérito, realizado pelo próprio movimento em Fevereiro, no qual, dos 454 encarregados de educação que responderam, 85% disseram não estar satisfeitos com o projecto-piloto e desejar que ele termine.​

Governo compromete-se a dotar escolas de recursos

Já a presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Mariana Carvalho, reconhece vantagens na utilização de manuais digitais, mas entende que não existem condições para a substituição dos livros em papel.

"Os manuais digitais poderiam ser uma alternativa caso o planeamento fosse um bocadinho diferente e se tivéssemos infra-estruturas para ter uma boa implementação", considerou a presidente da Confap em declarações à agência Lusa.

Além da ligação à Internet nas escolas, Mariana Carvalho acrescentou que nas salas de aula não existem, por exemplo, tomadas para carregar o computador de todos os alunos e que, muitas vezes, os aparelhos não têm capacidade para que os manuais sejam descarregados e possam ser utilizados offline.

"Há vantagens, mas como não temos infra-estrutura, não conseguimos apoiar a 100% a transição digital neste caso específico", lamentou a representante dos pais.

Sobre esta questão, o ministro da Educação, Fernando Alexandre, reiterou, este sábado, que o Governo está a trabalhar para que todas as escolas tenham igualdade de circunstâncias no acesso à internet para a utilização dos manuais digitais.

"Há um projecto muito grande, que está atrasado, mas estamos a tomar medidas para que os prazos sejam cumpridos para garantir conectividade, em todas as escolas. No último Conselho de Ministros foi aprovado um pacote alargado de mais de 30 milhões de euros para aquisições de dispositivos de dados, para a ligação à internet e que agora vai a concurso público internacional, para garantir aos alunos que têm manuais digitais o seu acesso", explicou Fernando Alexandre, que falou aos jornalistas à margem da apresentação do projecto OliveCôa, em Vila Nova de Foz Côa.

A tutela pretende desta forma colmatar as deficiências existentes em matéria de dados para "navegação na internet" e ter acesso aos respectivos manuais digitais. "Estamos muito comprometidos nesta matéria e não basta dizer que vamos fazer uma transição digital, sem antes garantir os recursos necessários para que isto aconteça de forma efectiva", vincou o governante. com Lusa

Notícia actualizada às 19h21: Acrescenta declarações do ministro da Educação

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