Taiwan é palavra proibida nos Jogos Olímpicos, por isso os taiwaneses escrevem “terra do chá de bolhas”

Taiwan é obrigado a competir nos Olímpicos com o nome Taipé Chinês. O COI está a apreender cartazes com o nome da ilha, mas os taiwaneses encontraram uma solução: chamam-lhe terra do chá de bolhas.

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O cartaz de Angelina Yang, que dizia Força Taiwan, foi apreendido pelos seguranças dos Jogos Olímpicos de Paris Ann Wang/Reuters via X
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As regras dos Jogos Olímpicos são claras: não são permitidos cartazes com mensagens políticas nem religiosas durante as provas. Como a República Popular da China, que é membro das Nações Unidas, reivindica que o Taiwan é parte do país, exibir uma cartolina com o nome da ilha é, no entender do Comité Olímpico Internacional (COI), motivo de repreensão.

Desde o início da competição, que decorre desde 26 de Julho em Paris, foram reportados vários incidentes com cidadãos de Taiwan que, escreve o site The Diplomat, dizem ter sido denunciados aos seguranças dos estádios por chineses que não gostam de os ver com cartazes sobre a ilha.

O desacato mais recente aconteceu durante a prova masculina de badminton, no domingo, 4 de Agosto, que colocou frente-a-frente dois atletas de Taiwan e dois da China. Os taiwaneses Lee Yang e Wang Chi-lin venceram os chineses Liang Weikeng e Wang Chang por 2-1.

Angelina Yang, uma jovem taiwanesa que estuda em França, exibiu no torneio um cartaz com caracteres chineses onde se lia jiayou Taiwan (Força Taiwan, em tradução livre). A cartolina era verde, a cor utilizada pelo Partido Democrático Progressista (DPP) do território insular.

Em declarações ao Guardian, a estudante disse ter sido autorizada pelo segurança que estava na entrada do estádio a entrar com a mensagem. Já no interior, afirma que um homem que acredita ser chinês lhe tirou o cartaz das mãos “à força” segundos antes de ter sido rodeada por dois seguranças.

“Fiquei muito surpreendida. E muito triste e zangada ao mesmo tempo. Não estava a fazer nada de mal. Porque é que me trataram daquela forma?”, questiona, citada pelo diário britânico.

Num comunicado citado pela CNN, o ministério dos Negócios Estrangeiros de Taiwan condenou o “acto violento” que desrespeita a liberdade de expressão e “viola o ambiente civilizado da competição”. Em resposta, o COI reforçou que as regras sobre as mensagens dos cartazes "são claras".

Taiwaneses festejam medalha de ouro no torneio de badmínton Ann Wang/Reuters
Taiwaneses festejam medalha de ouro no torneio de badmínton Ann Wang/Reuters
Taiwaneses festejam medalha de ouro no torneio de badmínton Ann Wang/Reuters
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Taiwaneses festejam medalha de ouro no torneio de badmínton Ann Wang/Reuters

Na verdade, as regras do comité em relação a Taiwan são as mesmas há décadas e resultam da pressão da China, que quer anexar a ilha e tenta limitar a presença do território em competições desportivas. Os atletas taiwaneses nos Jogos Olímpicos são, por isso, obrigados a competir com o nome Taipé Chinês, em vez de Taiwan ou República da China desde 1984, ano em que participaram pela primeira vez na competição.

Actualmente, além de não serem permitidos cartazes com a palavra Taiwan, o hino e a bandeira nacional da ilha também estão proibidos nas competições olímpicas dada a pressão do Governo chinês. Para vários políticos norte-americanos, adianta o Guardian, a decisão do COI é “irracional”, uma vez que, recordam, Porto Rico (que é controlado pelo Governo dos Estados Unidos, mas não faz parte do país) ou as Bermudas (território insular britânico) competem com os próprios nomes.

Força “terra do chá de bolhas”

Apesar das fortes restrições, os adeptos taiwaneses têm encontrado formas peculiares de apoiarem a nação nas várias provas. De acordo com o jornal britânico, muitos desenham alimentos até formarem a palavra Taiwan. Outros referem-se ao país como bubble tea land (terra do chá de bolhas) nos cartazes.

No torneio de badminton de domingo, Taiwan conseguiu a primeira medalha de ouro nestes Jogos Olímpicos. Na ilha, milhares de pessoas assistiram ao momento através dos ecrãs gigantes instalados nas ruas e viram entrega da medalha. Como sempre, sem a presença da bandeira ou do hino nacional.

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Ann Wang/Reuters
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