Nobel da Paz Muhammed Yunus lidera governo interino do Bangladesh

O banqueiro de 84 anos foi nomeado pelo Presidente do Bangladesh, Mohammed Shahabuddin, para liderar o governo interino do país. Recebeu o Prémio Nobel da Paz em 2006 pela invenção do microcrédito.

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Yunus é apoiado pelos estudantes, que se manifestaram nas ruas de várias cidades dos país no último mês Abdul Saboor / REUTERS
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Muhammad Yunus, vencedor do Prémio Nobel da Paz em 2006, foi nomeado líder do governo interino no Bangladesh pelo Presidente, Mohammed Shahabuddin. Yunus era o principal nome apontado pelos manifestantes, a sua maioria estudantes, que forçaram a então primeira-ministra Sheikh Hasina a demitir-se e a fugir do país, que governava desde 2009.

O anúncio foi feito pelo Presidente do país esta quarta-feira, depois de uma reunião com os líderes dos três ramos militares, que têm controlado a situação no país desde a queda do Governo e a fuga da ex-primeira-ministra na segunda-feira. O nome de Yunus foi primeiro apontado pelos estudantes, organizados na Liga Estudantil Antidiscriminação, que organizaram a maioria dos protestos, primeiro contra o controverso sistema de quotas na função pública e depois contra o Governo de Sheikh Hasina.

A investidura do governo, segundo o chefe do Exército, Waker-Uz-Zaman, está marcada para amanhã às 20h00 locais (15h00 em Portugal).

“Pareceu-me que ele está muito ansioso por fazer este trabalho. Estou certo de que será bem-sucedido em levar-nos a um processo democrático e de que beneficiaremos”, disse o responsável do Exército, citado pelo jornal local The Daily Star.

Numa entrevista publicada na terça-feira no jornal indiano ThePrint, Muhammad Yunus declarou que o fim do Governo de Hasina trouxe uma “segunda libertação” ao Bangladesh, comparando-a à independência do país, celebrada a 26 de Março.

“Éramos um país ocupado enquanto ela [Hasina] lá esteve. Ela comportava-se como uma força de ocupação, uma ditadora, um general, a controlar tudo. Hoje, todo o povo do Bangladesh sente-se libertado”, disse Yunus na entrevista, dizendo ainda que Hasina estragou o legado do seu pai, Sheikh Mujibur Rehman, conhecido pela alcunha de “Bangabandhu”.

“Estão a sentir a sensação de libertação e a alegria de podermos começar tudo de novo... Quisemos fazê-lo na primeira fase, quando nos tornámos independentes em 1971. E não o fizemos devido a todos os problemas que temos actualmente”, acrescentou o agora chefe do governo interino do Bangladesh.

Antes de partir de Paris, onde Yunus foi conselheiro e embaixador dos Jogos Olímpicos de 2024, o banqueiro disse aos jornalistas: “[Estou] ansioso por regressar a casa e ver o que está a acontecer e como nos podemos organizar para sair dos problemas em que nos encontramos.”​ A chegada de Yunus ao Bangladesh está marcada para esta quarta-feira.

Muhammed Yunus foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz em 2006 pela invenção do microcrédito, uma forma de empréstimo de montantes baixos e termos muito facilitados dirigido às pessoas mais desfavorecidas efectuada pelo Grameen Bank, que Yunus fundou e que leva o site do Prémio Nobel a chamar-lhe o “banqueiro para os mais pobres dos pobres”.

Esta quarta-feira, um tribunal do Bangladesh reverteu uma decisão judicial que tinha condenado Yunus a seis meses de prisão em Janeiro por ter violado a legislação laboral do país, algo que Yunus sempre negou, alegando que o julgamento tinha sido politicamente motivado.

“Apelo ao povo do Bangladesh para que fale a uma só voz contra a injustiça e a favor da democracia e dos direitos humanos para todos e cada um dos nossos cidadãos”, disse na altura sobre a sua condenação.

Os protestos nas ruas de várias cidades do Bangladesh, especialmente na capital, Daca, que provocaram a demissão da anterior primeira-ministra, Sheikh Hasina, na segunda-feira, duraram quase um mês e provocaram a morte, segundo o The Daily Star, de mais de 400 pessoas, especialmente devido à violência da resposta policial.

O novo inspector-geral da Polícia do Bangladesh, Md Mainul Islam, nomeado depois da demissão de Hasina, admitiu aos jornalistas que alguns “agentes da polícia pouco profissionais” não seguiram os princípios aceites quanto ao uso da força e violaram direitos humanos.

“Apelo fervorosamente a todos para que mantenham a calma. Por favor, abstenham-se de todo o tipo de violência”, pediu Yunus numa declaração citada pela televisão indiana NDTV. E acrescentou: “Se seguirmos o caminho da violência, tudo será destruído.” E instou os seus concidadãos: [Agora é a hora de] se prepararem para construir o país.”

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