“Já bloqueei algumas pessoas por comentários racistas, sexistas ou xenófobos”

Escritora Marta Hugon diz que a ilha de Santiago, em Cabo Verde, “é o lugar onde volta sempre a ser feliz” e sente que é “chata” todos os dias ao tentar educar os filhos.

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A escritora confessa que odeia fazer dieta DR
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Que rede social mais usa? Já desistiu de alguma, e porquê?
Uso mais o Instagram. Já desisti do Twitter e estou no LinkedIn, mas nunca me lembro. Sou péssima na autopromoção nas redes, parece-se sempre tempo roubado à vida real e à escrita. Adorava ter quem gerisse a coisa por mim, mas não funciona dessa maneira.

Já se arrependeu de alguma coisa que escreveu numa rede social? O quê?
Não me lembro de nenhum arrependimento, mas há muitas alturas em que fico a pensar na redundância do que partilho e no pouco impacto que tem na vida das pessoas. Estou nas redes sociais com uma enorme sensação de impotência.

Tem a noção de quantos ex-amigos tem? Cinco? Dez? Ou nunca se zangou com um amigo?
Não faço ideia. No entanto, já bloqueei algumas pessoas por comentários racistas, sexistas ou xenófobos.

Qual é o elogio que menos gosta que lhe façam?
“Bem! Estás com imenso trabalho! Tenho visto imensa coisa tua nas redes sociais!”

Se pudesse viver no cenário de um romance literário, qual escolheria?
Na Veneza de Jan Morris.

Fora de Portugal, qual é o lugar onde se sente em casa? E porquê?
Na ilha de Santiago, porque lá se mantêm, até hoje, algumas das memórias mais estruturais da minha adolescência, e porque é o lugar onde volto sempre a ser feliz.

Qual o melhor conselho que lhe deram na vida?
Do your thing.”

Em que situações se considera uma “chata”?
Todos os dias, quando tento educar os meus filhos.

Tem algum vício que gostaria de não ter? E um de que se orgulhe?
Gosto de comer e beber, e fumo um cigarro de dois em dois meses. Leio muito, mas não acho que seja propriamente um vício.

Diga o nome de três portugueses vivos que admira (não vale a sua mãe nem o seu pai).
Maria João Pires, Hélia Correia, António Damásio. Tem de ser só três?

Já teve algum ataque de ansiedade? Em que circunstâncias?
No passado tive alguns. Aconteciam sempre em situações em que sentia não ter qualquer controlo sobre as circunstâncias. Hoje em dia reconheço os primeiros sinais e geralmente não passa de uma ansiedade moderada. A ansiedade pode, por vezes, ser a melhor amiga do escritor.

E já se sentiu profundamente exausta? Foi burnout?
Quando os meus filhos eram muito pequenos, passei longos períodos sem dormir, com a consequente perda de memória e exaustão. Não foi burnout nem depressão, mas procurei ajuda para lidar comigo própria nesses momentos mais difíceis.

Se lhe pedissem conselhos para uma relação amorosa feliz, o que é que dizia?
Um dia de cada vez.

É vegetariana, vegan, faz alguma dieta especial? Porquê?
Não. Como de tudo e odeio fazer dieta. É pena, mas ultimamente cedo mais ao prazer do que à contrição.

Qual foi o último filme que viu? E qual foi o último de que gostou?
Revi recentemente o One From the Heart do Francis Ford Copolla, que é uma obra-prima mal amada, com uma banda sonora maravilhosa e que por acaso vai voltar agora às salas de cinema numa versão mais curta com tratamento digital. O último de que gostei foi Jeanne du Barry, da realizadora Maiwenn.

Qual o seu maior arrependimento?
Não me ter despedido condignamente daqueles que já partiram.

Qual foi a última vez em que se surpreendeu?
Surpreendo-me todos os dias com as coisas que nos tornam diferentes enquanto seres humanos, mas também com as que nos aproximam. Surpreendo-me com a capacidade que a natureza tem de nos devolver à nossa insignificância.

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