Jovens denunciam agressões no Cais do Sodré. Bar nega acusação de racismo

Par viu negada a entrada num bar, acusando o estabelecimento de racismo. Discussão terminou em agressões. Proprietário do espaço nega alegações de discriminação racial.

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Rua Nova do Carvalho, conhecida como Rua Cor-de-Rosa, no Cais do Sodré, em Lisboa Nuno Ferreira Santos
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Dois jovens afirmam terem sido agredidos por um segurança de um bar no Cais do Sodré, em Lisboa, na madrugada de segunda-feira. Ambos alegam que se terá tratado de um caso de racismo. O estabelecimento de diversão nocturna em causa, no entanto, nega as acusações de discriminação racial e diz já ter dispensado o indivíduo envolvido no incidente.

Aires Chichava, imigrante moçambicano de 23 anos, e Edilson Conceição, com cerca de 30 anos, afirmam ter sido vítimas de discriminação ao tentar entrar no bar Oásis by Aché, na Rua Nova do Carvalho, mais conhecida como Rua Cor-de-Rosa, na zona da Baixa de Lisboa.

Edilson, que tinha um braço imobilizado, terá sido o primeiro a ser empurrado e agredido com socos, ficando com hematomas na cara e feridas na boca. Aires foi agredido em seguida, também com murros no rosto, mesmo quando já estava no chão. Ambos acusam o mesmo indivíduo, segurança do bar, da autoria das agressões.

“Neste momento não consigo comer alimentos sólidos, os meus dentes da frente estão abalados, as minhas gengivas feridas, a minha boca inflamada e a minha cara machucada”, contou Aires Chichava ao PÚBLICO.

Os jovens e a gerência do bar têm versões contraditórias sobre o incidente. Aires e Edilson chegaram ao estabelecimento pouco depois da 1h desta segunda-feira, quando lhes foi dito que não poderiam entrar porque o espaço estava cheio. Pouco tempo depois, terão visto outros clientes a entrar no bar, todos eles brancos, o que os levou a questionar os seguranças.

O bar alega que os clientes que passaram à frente dos jovens já tinham entrado antes no estabelecimento e tinham saído para fumar no exterior. Aires e Edilson, por seu turno, afirmam que se tratavam de novos clientes.

Nesse momento, Aires pegou no telemóvel e avisou que ia filmar o que estava a acontecer, mas sem chegar a fazê-lo. “Os seguranças alegaram o direito à imagem e, por respeito, não avancei com a gravação”, disse. A gerência do bar, por seu turno, acusa Aires de ter filmado o segurança.

De acordo com o relato de Anso da Silva Júnior, sócio-gerente do bar Oásis by Aché, um dos seguranças ter-se-á então exaltado perante a insinuação de que estaria a ser racista ao barrar a entrada aos dois jovens. “Empurrou uma vez, duas vezes... Quando cheguei o segurança já estava a agredir com socos. Quanto à violência, admito que poderia ter sido evitada. A partir daí, estarem a acusar-nos de racismo, acho um pouco exagerado”, disse ao PÚBLICO.

Durante a segunda-feira, o estabelecimento recorreu às redes sociais para rejeitar publicamente a acusação de racismo. “Reiteramos que o Oásis by Aché repudia qualquer forma de discriminação racial. O proprietário do nosso estabelecimento é um homem negro e africano e jamais aceitaria qualquer acto de racismo no seu bar”, lê-se no comunicado.

Na mesma nota, o bar menciona ainda que “a entrada exige o cumprimento de um determinado dress code, que é aplicado para manter o ambiente e os padrões do estabelecimento”, sugerindo que Edilson e Aires não estariam a cumpri-lo. Questionado sobre qual é esse dress code, o gerente afirma que o estilo de roupa que procuram é “mais casual”.

Em fotografias enviadas ao PÚBLICO, é possível ver Aires com a roupa usada nessa noite: uma t-shirt branca ensanguentada (na sequência das agressões), umas calças bege e uns ténis brancos. Estava vestido de forma casual, admite a gerência do bar. Já Edilson vestia um casaco branco e calças de ganga, na descrição de Anso da Silva Júnior. Terá sido o casaco a fugir ao dress code pretendido.

“Tentamos evitar os rapazes com bolsas tiracolo, rapazes que andam de casaco quando está calor na rua, os fatos de treino, as camisolas de clubes, os chinelos, tudo o que se possa associar àquela malta que pára ali na esquina”, diz o gerente, referindo-se aos membros de grupos que descreve como “gangues” da Rua Cor-de-Rosa.

Entretanto, os dois jovens apresentaram queixa às autoridades por crimes contra a integridade física. No auto de denúncia elaborado pela PSP, a polícia confirma que “ambos os lesados apresentavam vários hematomas na face”.

O Oásis by Aché disse entretanto ter dispensado de funções o segurança responsável pelas agressões ocorridas na última madrugada.

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