Estarei em burnout? Como lidar com isso?

O esgotamento pode ter sintomas parecidos com o da depressão e resulta da sobrecarga e falta de descanso. Sophie Seromenho dá dicas para identificar, prevenir e tratar.

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O que é o burnout? Como lidar? Tatiana Smirnova/Getty Images
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Quando ir para o trabalho é um pesadelo, quando por muito que durmas já acordas cansado, quando concentrar já não é possível... presta atenção porque podes estar em burnout ou esgotamento nervoso, que resulta da sobrecarga e falta de descanso e vai-se instalando, uma fase de cada vez.

No limite, pode levar a sintomas muito parecidos com os da depressão, como a falta de sentido de vida e desesperança. A psicóloga Sophie Seromenho explica quais os sintomas a ter em consideração e indicações para prevenir.

O que é o burnout?

Em três palavras: chegar ao limite. Pegando na palavra em inglês, é quando a pessoa “queima os fusíveis”, quando fica “esgotada com o excesso de trabalho”.

Mas não só em contexto profissional se desenvolve o burnout. “Por exemplo, quando estamos a cuidar de familiares doentes, em situações que exijam muito de nós”, e que são desgastantes, pode começar a desenvolver-se burnout.

“O burnout vai-se instalando”, esclarece a psicóloga. “Uma pessoa não está normal e, de repente, entra em burnout.” Há diferentes fases, cada uma delas com sintomas associados.

O burnout e a depressão são o mesmo?

Pode ser confundido com a depressão, já que tem alguns sentimentos em comum, como “a tristeza, a melancolia, a falta de esperança na vida”. A diferença entre ambas é que “o burnout é caracterizado por um esgotamento nervoso” – como também se pode chamar, se quisermos uma expressão portuguesa. “A raiz do problema é a sobrecarga e a falta de descanso.”

A depressão, por sua vez, é “um estado interno em que a pessoa acaba por se sentir isolada e isolar-se também dos outros”, desenvolve-se uma “tristeza crónica”. Também é comum o “sentimento de inferioridade” e o isolamento “para processar [lidar com] essa inferioridade”.

Quais os sintomas de burnout?

O burnout tem três fases. Começa com “desinteresse no trabalho, cansaço, falta de energia para levar a cabo as actividades profissionais e até pessoais”: “Quando a pessoa fazia exercício físico e já não lhe apetece, apetece antes ficar no sofá; ou quando o trabalho começa a ser visto como algo penoso e doloroso.”

A segunda fase é a de “desumanização/despersonalização”. Há um sentimento “cada vez mais impessoal nas relações no trabalho ou em casa, dependendo do contexto que está a esgotar a pessoa”. Há menos empatia, afectividade e torna-se difícil a conexão com os outros. Há desinteresse, desmotivação, começa a custar levantar da cama. Aparecem as dificuldades de concentração e a falta de interesse.

Na última fase, a fase parecida com a depressão, “a pessoa está profundamente descontente e desmotivada com o trabalho, que começa a parecer um fardo”. “Cada vez investe menos trabalho, está menos realizada, cada vez é menos eficaz e competente, porque a sua qualidade está completamente comprometida por causa deste cansaço, fadiga e falta de realização”, descreve Sophie Seromenho. “E isto pode ser levado para a vida, é aquele sentimento de ‘não sei o que hei-de fazer à minha vida’.”

Alguns sintomas a estar atento:

  • Nervosismo constante
  • Taquicardia
  • Sensação de falta de ar
  • Tonturas
  • Crises de ansiedade
  • Ataques de pânico
  • Fadiga profunda e crónica (por mais que durma, a pessoa está sempre cansada)
  • Dores e tensão muscular
  • Crises de choro (até antes de entrar no trabalho)
  • Ataques de raiva
  • Irritabilidade

Como prevenir o burnout?

Tirar férias. Esta é a chave para impedir o cansaço extremo. Mas, avisa a psicóloga, a forma certa de tirar férias não é “tirar um mês em Agosto e uns dias no Natal”. Se assim for, está a ser “acumulado cansaço de forma extrema e só no final desse mês de férias é que se descansa realmente”. O ideal, “a nível de gestão de fadiga e stress”, é fasear. Se possível, tirar uma semana a cada três meses.

É também importante “ir fazendo pausas no trabalho” e ter actividades fora dele que “promovam felicidade e alegria”. Exercício físico é um exemplo e “não precisa de ser ginásio, pode ser dança, podem ser caminhadas, pode ser yoga ou outras coisas em grupo, onde haja partilha e troca de afectos com outras pessoas”.

Ao fim-de-semana, é importante “desligar completamente do trabalho” (não, não vale responder àquele e-mail). Além disto a psicóloga aconselha a “cuidar da alimentação, sono, não consumir açúcar e cafeína em excesso, para não aumentar a ansiedade”.

Acho que estou em burnout. E agora?

A resposta de Sophie Seromenho é peremptória: “Procurar urgentemente um psiquiatra, entrar em baixa médica e, se possível, fazer psicoterapia, para reaprender a estar. O burnout retira um bocado a alma e as cores da vida.”

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