Está a nascer uma orquestra não convencional na Bairrada com músicos e não músicos
Projecto cultural está a ser promovido pela associação cultural Promob, de Bustos. Primeiros sons serão dedicados a Fausto Bordalo Dias, recentemente falecido.
Chama-se Barroca, Orquestra Não Convencional da Bairrada, e pretende reunir pessoas de todas as idades e habilidades musicais, celebrando a importância da cultura e da criação em comunidade. O projecto nasce pelas mãos da Promob – Associação de Promoção e Mobilização da Comunidade e abre as portas a músicos profissionais, amadores, mas também aos que nunca tocaram um instrumento musical.
Os primeiros ensaios irão decorrer em Setembro e, segundo adiantou ao PÚBLICO Ricardo Regalado, presidente da colectividade sediada em Bustos, Oliveira do Bairro, irão contemplar sonoridades dedicadas ao músico Fausto Bordalo Dias, recentemente falecido. “Era algo que já tínhamos em mente, com a possibilidade de o convidarmos para vir cá, mas infelizmente isso já não será possível. De qualquer das formas, iremos homenageá-lo”, diz Ricardo Regalado.
A Orquestra Barroca foi criada com a perspectiva de promover a unidade, o convívio e a identidade (ao mesmo tempo que a diversidade) cultural, através da música. “Acreditamos que a música é uma linguagem universal que transcende barreiras e une as pessoas. Não importa se são músicos experientes, entusiastas desta arte ou pessoas que não têm qualquer experiência musical, a Barroca tem as portas abertas a todos [estão abertas as inscrições]. Esperamos, em conjunto, criar algo bonito, enquanto construímos (ou reforçamos) a comunidade”, destaca a associação bairradina.
Já não é a primeira vez que a Promob avança com uma experiência deste género. “Em 2017, criámos uma orquestra comunitária só para um concerto específico, de homenagem a Zeca Afonso”, recorda Ricardo Regalado. Uma experiência que veio demonstrar que “participar numa actividade cultural como uma orquestra comunitária enriquece a vida dos indivíduos, mas também fortalece o sentido de pertença e a coesão social”, destaca. Salienta ainda que, através da música, os participantes terão a oportunidade não só de fazer uso da sua criatividade, descobrindo novas aptidões e interesses, como também de colaborar e estreitar laços com outros membros da comunidade, construindo um ambiente de apoio e inclusão.
Caberá ao maestro Carlos Raposo dirigir a nova orquestra – tal como aconteceu nesse anterior projecto dedicado a Zeca Afonso – que também tem o propósito de “valorizar a música portuguesa”, afiança o presidente da associação cultural nascida de um movimento cívico. “Surgiu na altura do encerramento do Colégio Frei Gil. Com o fim dos contratos de associação, gerou-se um movimento para lutar pela manutenção da escola e ainda conseguimos angariar 12.000 euros para pagar propinas aos alunos”, recorda Ricardo Regalado.
O colégio acabou por fechar – entretanto, a autarquia adquiriu as suas instalações e integrou-as na oferta pública de ensino –, mas “a energia humana e o dinheiro angariado nesse movimento foram aproveitados para dar lugar à associação”, acrescenta o presidente.
A fazer a cultura acontecer fora dos grandes centros
Com poucos anos de existência, a Promob já conseguiu comprar uma sede própria – um antigo armazém de móveis, localizado em Bustos –, que espera vir a reabilitar nos próximos anos de forma a acolher os seus projectos e também os da comunidade. “Para já, ainda somos nós o motor, mas a ideia é que as pessoas tenham a oportunidade de promover nas nossas instalações as suas próprias criações e iniciativas”, refere.
Entre as principais iniciativas da associação está o Festival Semente, que, todos os anos, ocupa a vila da Mamarrosa, no mesmo município, com uma feira do livro e da árvore e uma programação cultural diversificada. Destaque também para o Concurso Literário Professora Rosinda de Oliveira, que perpetua o nome de uma professora da comunidade e já premiou mais de cinco dezenas de trabalhos. Iniciativas que, em conjunto com as oficinas de fotografia e as feiras de Natal, demonstram que é possível fazer a cultura acontecer fora das grandes cidades. A Orquestra Barroca promete ser mais um (bom) exemplo disso mesmo.