De Paris, uma pergunta: porquê ser bom num desporto se pode ser bom em dois?

Chase Budinger está em Paris a competir no voleibol de praia. Coisa pouca? Então e se estiver a fazê-lo depois de uma carreira na NBA? Aí, já é uma história – até porque ninguém o tinha feito.

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Chase Budinger em acção em Paris CAROLINE BLUMBERG / EPA
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Estar na Liga dos Campeões, na NBA, nas Seis Nações, num Grand Slam ou nos Jogos Olímpicos – neste caso, se exceptuarmos os apuramentos por quotas de representatividade –, é um filtro apertado. Só entra a crème de la crème, como se diz por aqui, e há atletas que passam uma vida inteira para conseguirem uns minutos nestas provas. Depois, há Chase Budinger.

Aos 36 anos, este norte-americano está nos Jogos Olímpicos a competir numa dupla de voleibol de praia. Coisa pouca? Talvez. Então e se estiver a fazê-lo depois de uma carreira na NBA? Aí, isso já é uma história – até porque nunca ninguém o tinha feito.

“Tenho 36 anos, mas sou um novato aqui... não sou novo, mas sou novato”, explica o ex-basquetebolista ao PÚBLICO, entre risos.

Budinger jogou na NBA entre 2009 e 2016, defendeu Rockets, Timberwolves, Pacers e Suns. Chegou mesmo a participar no concurso de afundanços, em 2012.

Mas é importante explicar que isto não aconteceu do nada. Não foi um veterano da NBA que percebeu que tinha jeito para saltar e, por isso, se lembrou de começar a jogar voleibol, até chegar aos Jogos Olímpicos.

Ainda jovem, Budinger chegou a conciliar voleibol e basquetebol, acabando por escolher as bolas laranja e os cestos quando percebeu que poderia ter carreira na NBA – e ganhou, por lá, o que nunca teria conseguido ganhar no voleibol, a nível financeiro, ainda que nunca tenha tido, desportivamente, nível para ser um all-star.

“A areia e a praia rejuvenesceram-me”

Há, portanto, um passado a rematar bolas por cima da rede – mas nunca na areia. Porquê ir para a praia e não para o pavilhão? Budinger explicou-nos.

“Os pisos dos pavilhões são muito agressivos. O voleibol de praia é mais suave no corpo, porque se joga na areia. Não há tanta pressão nas articulações. Essa é uma das razões para a minha mudança: já tinha muitos problemas nos joelhos, nos tornozelos e na anca. O voleibol de praia é mais suave para o corpo. Podemos jogar muitos anos”. “A areia e a praia rejuvenesceram-me”, garante ao PÚBLICO.

Questionado sobre se se arrepende da sua escolha de priorizar o basquetebol nos seus anos áureos, o americano é claro: “Não, de maneira nenhuma. Fui muito feliz na NBA e sou muito feliz, agora, no voleibol”. O meu primeiro ano no voleibol foi 2018 e, na altura, disse que o objectivo era ir aos Jogos Olímpicos. Gosto de sonhar alto”. “Estou nesta experiência incrível, com esta vista incrível para a Torre Eiffel”, acrescenta.

Chase Budinger lançava bolas a cestos dentro de pavilhões e afundava-as a mais de três metros. Agora, remata bolas por cima de uma rede, um pouco menos alta do que isso, com o pé na areia e com a brisa do mar – esta parte talvez não em Paris, mas sigamos em frente.

“É diferente. Estilo de vida diferente e um diferente momento da vida. Desfrutei muito dos dois e por isso é que consegui estar a alto nível nos dois. Nunca dei a NBA como garantida e por isso é que consegui lá estar tanto tempo”, aponta.

E que coisas Chase Budinger consegue levar do basquetebol para o voleibol de praia? Trabalho e observação. “Consigo trazer do basquetebol a ética de trabalho. Trabalha-se diariamente, sobretudo no corpo. Esse trabalho extra-treino é importante e é um benefício no vólei. Outra coisa importante é observar os adversários. Na NBA isso está muito presente e eu consigo fazer bem isso no voleibol – e mais rapidamente do que outros, por essa minha experiência”.

Em Paris, essas valências não chegaram para passar a primeira fase, com duas derrotas em três jogos, mas a presença olímpica já ninguém lhe tira. E diz que daqui a quatro anos, a jogar os Olímpicos em casa, na sua Califórnia, poderá lá estar. Terá 40 anos e diz que só depende de como estiver o corpo.

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