Um rosé que vai a todas

Para quem ainda torce o nariz aos rosés, aqui fica a sugestão que tanto acompanha peixes marinados, sushi, pasta ou um caril de tudo e mais alguma coisa. Acontece há 16 anos.

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O jardim de vinhas da Casa-Museu José Maria da Fonseca permite conhecer de perto as castas trabalhadas pelo produtor. Marisa Cardoso/Arquivo Público
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Quando, há duas décadas, se dizia que Portugal nunca seria um país de vinhos brancos, ainda havia quem, apesar de tudo, torcesse o nariz a semelhante tese, mas, em matéria de rosés, a unanimidade era carimbada com cinco frases: “rosé não é vinho”, “rosé é vinho de senhoras”, “rosé é muito doce”, rosé não é peixe nem carne” ou “vinho é tinto e o resto é conversa”.

Embora exista muito consumidor que ainda manda graçolas, a verdade é que hoje produzem-se rosés com imensa qualidade e – mais importante – com perfis diferenciados. Sim, há rosés concentrados e há rosés leves; há rosés carregados de cor e há rosés quase secos. E, claro, rosés com doçura e gás que se vendem em grande escala. Que ninguém fique sem o seu rosé.

Ora, o rosé que caiu como uma pedrada no charco foi, há 16 anos, o Rosé Moscatel Roxo – Colecção Privada Domingos Soares Franco (José Maria da Fonseca). De início foi olhado com desconfiança porque nunca se tinha visto e provado um rosé seco feito com uma casta doce, mas, para não variar, também aqui se impôs a velha história do “primeiro estranha-se e depois entranha-se”. Depois, o facto de o vinho ter sido usado como figura de cartaz nalgumas edições do saudoso festival Peixe em Lisboa foi a sua melhor rampa de lançamento.

Usada em exclusivo para a produção de vinhos doces, a casta Moscatel Roxo esteve, na Península de Setúbal, à beira da extinção porque, como as uvas amadurecem muito cedo, os pássaros vindimam-nas a uma velocidade furiosa antes de os donos chegarem às vinhas. Vai daí, arrancaram-nas e substituíram-nas por outras castas mais certinhas e menos ao gosto da passarada.

Quem inverteu este cenário foi a alma irrequieta de Domingos Soares Franco, que toda a vida fez da adega um laboratório (com maior ou menor sucesso, como é da praxe). O enólogo percebeu que os aromas de flores e de frutas exóticas e uma textura de boca que podia ser mais seca poderiam dar origem a um vinho fora da caixa e destinado a gastronomias variadas, com destaque para a japonesa e a indiana. A suavidade do rosé liga bem com a delicadeza da primeira; a sua doçura acalma os sabores picantes da segunda.

Mas o que é extraordinário neste vinho é a sua consistência e polivalência. Ele tanto vai a pratos complexos e salgados como se porta bem com sobremesas, já para não falar do brilharete que faz na recepção dos amigos em casa. Se para qualquer vinho isto é algo raro, num rosé é obra.

Nome Moscatel Roxo Coleção Privada Domingos Soares Franco 2023

Produtor José Maria da Fonseca

Castas Moscatel Roxo

Região Península de Setúbal

Grau alcoólico 12,5% vol.

Preço (euros) 14

Pontuação 92

Autor Edgardo Pacheco

Notas de prova Com tons entre o rosa e o salmão, este é um vinho com grande expressão aromática, onde se destacam os aromas de jasmim, líchias e rosas. Na boca, notável equilíbrio entre doçura, acidez, álcool e volume. Fresco, desafiante e perfeito nestes dias quentes.

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