A ModaLisboa tem um novo programa de difusão da moda entre os jovens. Chama-se Amanhã e é apoiado pela Fundação PVH, dona de marcas como a Calvin Klein ou a Tommy Hilfiger. Nos últimos meses, a associação esteve em nove escolas, em Lisboa e no Porto, a apresentar a indústria da moda e organizou uma residência artística para 14 jovens. Chelson Vunge, de 18 anos, foi seleccionado para uma bolsa de estudos, no valor de 15 mil euros, e vai estudar design na Modatex, no Porto. “Estudar moda em Portugal é uma porta para o mundo”, declara o adolescente.
Até há poucos meses, Chelson Vunge nunca tinha pensado na moda como uma possibilidade para o futuro. Estudava línguas e humanidades na Escola Secundária D. Dinis, em Lisboa, e quando soube que a ModaLisboa estava a organizar um workshop decidiu arriscar. “Gostava de moda desde criança, mas a minha ideia era ser chef de cozinha”, conta ao PÚBLICO, recordando a infância em que “delirava” com as revistas de moda que a mãe lia. “Era tudo um mundo novo, onde cresci toda a gente se vestia de forma básica”, relata. Nasceu em Angola, mas está em Portugal há nove anos, a viver com os irmãos em Odivelas.
A formação da ModaLisboa havia de se revelar mais do que um dia diferente na escola. Depois de aprender como funciona a indústria, decidiu concorrer à residência na sede da ModaLisboa, que aconteceu no início de Julho. “Foi uma das melhores experiências da minha vida. Se estivesse em Angola nunca viveria algo assim, foi um privilégio e uma aprendizagem incrível”, confessa.
Antes disso, conhecia alguns nomes da moda portuguesa, como Joana Duarte da Béhen ou Ana Duarte da DuarteHajime, “mas não sabia propriamente como é que a roupa era feita”. Não só teve oportunidade de aprender a costurar ─ “o que ainda está a ser aperfeiçoado” ─ como fez um tecido do zero com Constança Entrudo ou desvendou alguns detalhes de programação na Academia Code for All. “Foi uma surpresa, sobretudo conhecer pessoas tão talentosas”, afiança.
Na primeira fase, o projecto chegou a 300 alunos de nove escolas da zona metropolitana de Lisboa e do Porto. “Há um conhecimento muito superficial de moda e o que há é sobretudo apenas de marcas estrangeiras, sem saberem quem são os actores portugueses. No Norte, há maior consciência de o que produzimos na indústria têxtil porque há uma realidade industrial mais forte”, analisa Joana Jorge, gestora de projecto da ModaLisboa.
"Oportunidades que a moda produz"
No fundo, explica, o objectivo era consciencializar para a dimensão da moda em Portugal, mostrando a empregabilidade que há na indústria têxtil, não só a nível do design, mas especialmente da tecnologia, inteligência artificial e sustentabilidade. “A indústria vai atrair outros tipos de formação, por exemplo em programação ou análise de dados, como consequência da modernização”, insiste. “A ideia era dar a conhecer as diferentes oportunidades que a moda produz.”
Não quiseram focar-se apenas em jovens que já estudam moda, não só porque há empregos de diversas áreas, como dizia Joana Jorge, mas também porque “informar sobre sustentabilidade é importante para podermos ter melhores consumidores”. Até porque a PVH apoia sobretudo programas dedicados à inclusão e à diversidade na indústria por toda a Europa.
O apoio da fundação à ModaLisboa foi no valor de 120 mil euros, avança Joana Jorge, utilizados não só para os workshops, mas também para a residência artística de cinco dias, que contou com o apoio de criadores da ModaLisboa. “Escolhemos os 14 jovens que nos pareciam mais interessante e chamamos para a residência o melhor talento que temos. Quisermos dar perspectivas diferentes e para os formadores também foi enriquecedor estar com os jovens”, sublinha.
O programa, assevera, faz parte da missão de trabalho da Associação ModaLisboa, que não quer esgotar-se nas duas semanas de moda anuais, mas pretende levar a moda “de forma mais aprofundada a várias franjas da sociedade”. Esse factor de diversidade e inclusão também foi decisivo na escolha de Chelson Vunge para a bolsa da Modatex. “Quisemos premiar quem revelou um bom instinto criativo e alguém que precisasse mesmo desta oportunidade. O Chelson não estudou artes, mas mostrou muita humildade em querer saber mais”, elogia.
Apesar de a tecnologia e a sustentabilidade “serem áreas de maior empregabilidade”, Chelson já decidiu que quer estudar design de moda. “Quero aprender a base de como se faz roupa, como se cria uma peça e para isso acho importante saber design de moda”, declara o jovem. E detalha: “Depois do curso, tenho dois caminhos: entrar no mundo do styling ou criar a minha própria marca.”
Cheio de sonhos, não receia a dimensão do mercado português para o design de autor e prevê que se possam abrir caminhos para outras latitudes. “A partir de Portugal posso chegar a outros sítios onde a moda tem mais peso, como Itália ou França.” O percurso começa a ser construído já a partir de Setembro e, quem sabe, Chelson Vunge poderá ser uma futura promessa da moda portuguesa.