Jornalistas da Al-Jazeera mortos em ataque aéreo em Gaza

Ismail al-Ghoul e Rami al-Rifi morreram quando o carro em que seguiam foi atingido. Equipa estava em reportagem perto da casa de Ismail Haniyeh. Israel ainda não se pronunciou sobre este ataque.

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Ismail Al-Ghoul, um dos jornalistas da Al-Jazeera que foram mortos nesta quarta-feira num ataque aéreo israelita em Gaza Al-Jazeera
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Dois jornalistas da Al-Jazeera foram mortos nesta quarta-feira num ataque aéreo israelita em Gaza. O jornalista Ismail al-Ghoul e o operador de câmara Rami al-Rifi morreram quando o carro em que seguiam foi atingido, no campo de refugiados de Shati, a oeste da cidade de Gaza, avança a própria emissora.

A equipa estava em reportagem perto da casa de Ismail Haniyeh, o líder político do Hamas que foi assassinado nas primeiras horas desta quarta-feira no Irão, num ataque que o grupo atribuiu a Israel. O último contacto com a redacção decorreu cerca de 15 minutos antes do ataque, que aconteceu pouco depois de os jornalistas terem sido avisados pelas forças israelitas para deixem o local. A Al-Jazeera, que opera a partir do Qatar, escreve que ​Ismail e Rami estavam a utilizar coletes que os identificavam como membros de um meio de comunicação social e que o carro em que seguiam também estava identificado como sendo da imprensa.

“O assassínio de Ismail e Rami, enquanto documentavam os crimes das forças israelitas, reforça a necessidade urgente de acção legal e imediata contra as forças de ocupação para garantir que não exista impunidade”, disse a rede de notícias em comunicado. Israel ainda não se pronunciou sobre este ataque.

Anas al-Sharif, outro corresponde da Al-Jazeera, estava em reportagem no hospital para onde os corpos dos dois colegas foram levados. “O Ismail estava a transmitir o sofrimento dos palestinianos deslocados, o sofrimento dos feridos e os massacres cometidos pela ocupação contra o povo inocente em Gaza”, disse. “A sensação... não há palavras que possam descrever o que aconteceu.”

Mohammed Moawad, editor-chefe da Al-Jazeera, utilizou as redes sociais para elogiar a coragem de Ismail. “Ismail era conhecido pelo seu profissionalismo e dedicação, chamando a atenção do mundo para o sofrimento e as atrocidades cometidas em Gaza”, disse. Na mesma publicação, Moadwad partilha uma mensagem que diz ter sido escrita pelo jornalista. “Deixa-me dizer-te, meu amigo, que não conheço mais o gosto do sono. Os corpos das crianças e os gritos dos feridos encharcados em sangue nunca saem da minha vista. Os gritos das mães e o lamento dos homens que sentem a falta dos seus entes queridos nunca desaparecem da minha audição”.

Um vídeo partilhado pela emissora mostra dois corpos com o colete marcado com a palavra "imprensa" deitados em macas estacionadas do lado de fora do hospital. Em Março deste ano, segundo reporta o The Wshington Post, Isamil tinha sido detido e espancado quando os militares israelitas entraram no hospital al-Shifa, em Gaza. Na altura, o jornalista disse que ele e outros colegas foram obrigados a despir-se e a deitar-se de bruços durante várias horas.

O Comité para a Protecção de Jornalistas disse que este era o conflito com mais mortes de jornalistas que o organismo documentou nos últimos 30 anos. Morreram, pelo menos, 111 jornalistas e profissionais dos media entre as mais de 39 mil pessoas mortas em Gaza. No total, a Al-Jazeera já perdeu quatro jornalistas durante o conflito em Gaza. Jodie Ginsberg, presidente executiva do comité, disse, numa declaração partilhada nas redes sociais, que a organização estava “consternada” com as mortes de jornalistas. “Jornalistas são civis e nunca devem ser alvos. Israel deve explicar o porquê de mais dois jornalistas da Al-Jazeera terem sido mortos no que parece ser um ataque directo.”

Israel tem negado consecutivamente as acusações de que tem como alvo jornalistas e diz que faz todos os esforços para evitar ferir civis, culpando o elevado número de mortos no facto de o Hamas operar em áreas urbanas densamente povoadas e se infiltrar deliberadamente entre civis. Numa declaração emitida em Dezembro passado, o Exército israelita disse que "as IDF nunca alvejaram e nunca alvejarão jornalistas deliberadamente".

Mas Israel tem um relacionamento tenso com a Al-Jazeera. Em Maio, o Governo israelita votou o fecho da televisão pan-árabe Al-Jazeera em Israel. A decisão significou o encerramento dos escritórios do canal de notícias no país, a apreensão do equipamento utilizado para as emissões, a restrição do acesso aos seus sites e o encerramento das emissões em árabe e em inglês. Horas depois, o equipamento do canal era confiscado durante um raide policial aos escritórios, no Hotel Embaixador, no bairro de Sheikh Jarah, em Jerusalém Oriental (anexada e ocupada por Israel).

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu acusou a Al-Jazeera, uma grande fonte de notícias no mundo árabe que frequentemente destaca o sofrimento civil em Gaza, de prejudicar a segurança de Israel e incitar a violência contra os seus soldados, embora autoridades israelitas não tenham dado exemplos destas acções.

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