Comité Olímpico Internacional defende participação de Imane Khelif no boxe feminino

Atleta argelina é alvo de críticas e insultos após a desistência da adversária italiana Angela Carini. COI sublinha que Khelif cumpre os requisitos para participar na competição feminina.

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Carini e Khelif, ambas de 25 anos, competem na categoria de 66 quilos de peso médio Isabel Infantes / REUTERS
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O Comité Olímpico Internacional (COI) veio defender a participação da pugilista argelina Imane Khelif no torneio olímpico de boxe feminino em Paris, na categoria de 66 quilos, horas depois uma torrente de insultos e de críticas nas redes sociais ter visado a atleta, sugerindo que esta não é uma mulher. Esta quinta-feira, Khelif derrotou a italiana Angela Carini após 46 segundos de combate, por desistência da adversária, que abandonou o ringue em lágrimas.

Khelif, que já participara nos Jogos Olímpicos de 2020 em Tóquio — sem ganhar nenhuma medalha —​ e fora finalista do campeonato do mundo de boxe em 2022, foi afastada da final do mundial de 2023 pela Associação Internacional de Boxe (IBA, na sigla inglesa). Na altura, o presidente dessa associação, Umar Kremlev, disse que, após terem realizado exames à atleta “ficou comprovado que possui cromossomas XY”, mas nunca foram divulgados detalhes sobre esses exames. A existência de cromossomas XY não determina por si só que uma pessoa é um "homem", como Kremlev classificou Khelif, podendo em alguns casos ser explicada por patologias como a síndrome de Swyer.

O COI, que já tinha excluído a IBA de qualquer participação nos Jogos Olímpicos devido a uma sucessão de escândalos na organização de pugilismo, contesta a exclusão de Khelif. "Todos os atletas que participam no torneio de boxe dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 cumprem os regulamentos de elegibilidade e de participação na competição, bem como todos os regulamentos médicos aplicáveis e definidos pela Unidade de Boxe de Paris 2024. Tal como em anteriores competições olímpicas de boxe, o género e a idade dos atletas são baseados no seu passaporte", afirma em comunicado.

A defesa do COI é feita não apenas em relação a Imane Khelif, mas também a Lin Yu-ting, atleta de Taiwan (ou Taipé Chinês, na designação do comité olímpico local). "As duas atletas competem há muitos anos", relembra o COI. "Foram vítimas de uma decisão repentina e arbitrária da IBA", que as "desqualificou sem o procedimento devido" do campeonato de mundo de boxe de 2023. A decisão de afastamento terá sido tomada a título individual pelo secretário-geral da IBA e só depois foi assumida pela administração do organismo, acusa o COI, citando as minutas da associação de pugilismo. Nesses mesmos documentos tinha ficado registada a intenção de elaborar "um procedimento claro quanto aos testes de género".

"A agressão de que estas duas atletas estão a ser alvo é baseada exclusivamente numa decisão arbitrária, que foi tomada sem qualquer procedimento adequado". O COI condena ainda a alteração de regras a meio de uma competição, como ocorreu no campeonato mundial de 2023.

Para além da pouca informação divulgada pela IBA sobre os exames a que Khelif foi submetida, a própria organização é alvo de suspeitas de longa data que já tinham levado à exclusão desta entidade pelo Comité Olímpico Internacional, devido a uma sucessão de escândalos. Desde 2012, o controlo do boxe nos Jogos é feito por uma unidade ad hoc nomeada pelo COI. Apenas os campeonatos do mundo de boxe continuam a cargo da IBA.

O Comité Olímpico da Argélia classificou os ataques a Khelif como “maliciosos e antiéticos” e acrescentou que as “tentativas de difamação baseadas em mentiras são injustas”, especialmente durante um momento desportivo de relevo como os Jogos Olímpicos.

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