Líder do Hamas assassinado no Irão. Grupo responsabiliza Israel

Ismail Haniyeh morreu num ataque à sua residência na capital iraniana. Israel ainda não assumiu responsabilidade. Assassinato “será recebido com uma resposta dura e dolorosa”, garante Irão.

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Ismail Haniyeh durante uma visita a um campo de refugiados no Líbano, em Setembro de 2020 Aziz Taher/Reuters

Ismail Haniyeh, líder do gabinete político do Hamas, foi assassinado nas primeiras horas desta manhã no Irão. A notícia foi avançada pelo grupo islamista palestino nesta quarta-feira, gerando receios de uma escalada da violência numa região já abalada pela guerra de Israel em Gaza e pelo agravamento do conflito no Líbano.

O Hamas anunciou a morte de Ismail Haniyeh em Teerão, num ataque que atribuiu a Israel, através de um comunicado. "O irmão líder, mártir combatente Ismail Haniyeh, líder do movimento, morreu em resultado de um ataque traiçoeiro sionista na residência em Teerão, depois de participar na cerimónia de posse do novo Presidente iraniano".

Antes, os Guardas da Revolução, divisão ideológica das Forças Armadas do Irão, já tinham avançado que o chefe do Hamas e um guarda-costas tinham morrido num ataque à residência de Haniyeh na capital iraniana, horas depois de ter estado presente na cerimónia de tomada de posse do novo Presidente do país.

"A residência de Ismail Haniyeh, chefe do gabinete político da resistência islâmica do Hamas, foi atacada em Teerão e, devido a este incidente, ele e um guarda-costas morreram", lê-se no comunicado. Até agora, o homicídio não foi reivindicado.

Em reacção à morte do líder do Hamas, o Presidente do Irão, Masoud Pezeshkian, disse que "defenderá a sua integridade territorial, dignidade, honra e orgulho, e fará com que os ocupantes terroristas se arrependam do seu acto covarde", cita a agência Reuters.

Entretanto, os Guardas da Revolução já prometeram retaliar, afirmando que o ataque "será recebido com uma resposta dura e dolorosa". "O Irão e a frente de resistência responderão a este crime", disse a força militar num comunicado, empregando um termo que Teerão usa para se referir a grupos militantes aliados no Oriente Médio.

Ismail Haniyeh era líder do bureau político do Hamas e uma das figuras-chave nas negociações para os acordos para chegar a um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Em Abril, um ataque da aviação israelita matou pelo menos seis membros da sua família – três filhos e pelo menos dois netos – num campo de refugiados no norte do enclave palestiniano.

Para já, as autoridades israelitas não confirmaram qualquer ataque em Teerão, nem a morte de Haniyeh. Israel prometeu matar Haniyeh e outros líderes do Hamas na sequência do ataque do grupo a 7 de Outubro em território israelita, no qual morreram 1200 pessoas e cerca de 250 foram feitos reféns. O ataque desencadeou a actual guerra na Faixa de Gaza onde morreram mais de 39 mil palestinianos.

A notícia da morte de Haniyeh chega horas depois de Israel ter confirmado que matou o chefe militar do grupo xiita libanês Hezbollah Fuad Shukr e o assessor do líder, Hassan Nasrallah, e poderá prejudicar qualquer hipótese de um acordo para um cessar-fogo iminente em Gaza.

Rosto público do Hamas

Haniyeh, que vivia exilado no Qatar, foi o rosto da diplomacia internacional do grupo palestiniano enquanto a guerra se alastrava em Gaza. Em Maio, o gabinete do procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) pediu um mandado de captura para o líder do Hamas por supostos crimes de guerra. Um pedido semelhante foi emitido contra o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu.

Nomeado para o cargo mais alto do Hamas em 2017, deslocou-se entre a Turquia e a capital do Qatar, Doha, escapando às restrições de viagem da Faixa de Gaza bloqueada, o que permitiu que actuasse como negociador nas discussões para um cessar-fogo ou para dialogar com o Irão, um aliado próximo.

A sua morte, após o assassinato do seu vice Saleh Al-Arouri no início deste ano por Israel, deixa Yehya Al-Sinwar, o responsável do Hamas na Faixa de Gaza e o arquitecto do ataque de 7 de Outubro, e Zaher Jabarin, o chefe do grupo na Cisjordânia, no poder, mas escondidos.

Rússia, China e Qatar condenam ataque

A China e o Qatar, que tem sido dos mediadores das negociações para interromper os combates em Gaza, conderam o assassinato de Haniyeh, que apelidaram de "perigosa escalada do conflito". A Rússia também condenou o ataque contra o líder do Hamas e pediu a todas as partes que se abstenham de medidas que possam levar o Oriente Médio a uma guerra regional.

"É óbvio que os organizadores deste assassinato político estavam cientes das consequências perigosas que esta acção acarreta para toda a região", disse Andrei Nastasin, porta-voz adjunto do Ministério das Negócios Estrangeiros da Rússia, aos jornalista, frisando que não passou ao lado de Moscovo o facto de este ataque ter ocorrido no Irão.

"Pedimos a todas as partes envolvidas que exerçam contenção e abandonem quaisquer medidas que possam levar a uma degradação dramática da situação de segurança na região e provocar um confronto armado em larga escala", disse Nastasin.

A Rússia também condenou o ataque israelita que matou o comandante mais antigo do Hezbollah num ataque aéreo em Beirute na terça-feira. "Condenamos veementemente a acção militar realizada por Israel, que constitui uma grave violação da soberania libanesa e das normas básicas do direito internacional", disse Nastasin.

O principal órgão de segurança do Irão, escreve a agência Reuters, reuniu-se esta manhã para decidir a estratégia do país depois da morte de Haniyeh, um aliado próximo de Teerão. Também o presidente palestiniano Mahmoud Abbas condenou o assassinato do líder e várias facções palestinianas na Cisjordânia ocupada convocaram uma greve geral e manifestações em massa.

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