Os cuidados que as férias de automóvel não dispensam

Se a ideia é agarrar no automóvel e partir de férias, o melhor é, antes, avaliar se o veículo está pronto para tal empreitada, levando-o a uma oficina ou enveredando por um “faça você mesmo”.

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Há quatro áreas que não devem ser descuradas antes de seguir viagem: líquido de refrigeração do motor; iluminação; nível do óleo; e pneus Jon Feingersh Photography Inc/Getty
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Ir de férias de automóvel é sinónimo de autonomia e dar largas a qualquer vontade de se desviar do destino. Mas também pode ser uma decisão com consequências negativas, quer para o descanso, quer para a carteira. Por isso, antes de nos fazermos à estrada, tenha cem ou mais de mil quilómetros pela frente, vale a pena tirarmos algum tempo para nos assegurarmos de que a viagem não fica a meio nem que nos irá custar muito mais do que o previsto.

O ideal, diz Victor Simões, da VMS, oficina de reparação e manutenção automóvel em Lisboa, é programar uma visita ao mecânico antes da partida. E, para não agravar o orçamento, coincidir essa visita com a manutenção programada. Até porque, explica, há contratempos que podem advir de problemas em mecanismos em que nem sempre é fácil detectar numa inspecção doméstica, como é o caso do sistema de refrigeração. É que, justifica, pode haver um problema com o sensor ou com o termóstato: “Não basta pôr líquido [de refrigeração do motor]”, sublinha, chamando a atenção para as consequências. “O motor pode gripar”, alerta, avisando que nunca se deve continuar a rolar, nem um quilómetro mais, quando, no painel de instrumentação, se acende uma luz vermelha, recomendando a chamada imediata do reboque. No entanto, “sendo uma luz amarela, podem ir até à próxima área de serviço”, ressalva.

Além do sistema de refrigeração, que pode requerer um olhar profissional, há, para Victor Simões, outras três áreas que não devem ser descuradas: iluminação, verificando se há luzes fundidas, que podem representar um problema de segurança; nível do óleo, que, se insuficiente, também pode resultar em problemas mecânicos; e pneus.

No caso dos pneus, tantas vezes negligenciados, embora constituam o único ponto de contacto do automóvel com o piso, António Costa, da Garagem da Lapa, no Porto, lembra que é preciso “ter consciência de que, se o carro vai carregado, é preciso adaptar a pressão, com aquela que é recomendada pelo fabricante” e verificar o estado de saúde de cada rodado, chamando a atenção para o que se passa na parte interior, que tanta gente se esquece de espreitar. Além do mais, refere, com o calor, a maior pressão vai proteger o pneu de se deformar como resultado da equação entre o peso da carga e a temperatura do asfalto.

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Depois, o ideal, atira, é que a pressão seja corrigida após se chegar ao destino de férias, para o valor inferior indicado pelo fabricante, já que o automóvel foi aliviado da carga da bagagem, voltando-se a corrigir antes do regresso. No entanto, estima, poucas pessoas o farão. E isso, ressalva, não provocará nenhum dano ao veículo; apenas a sua condução se revelará mais dura enquanto se mantiver a pressão dos pneus no limite máximo, sem carga extra.

Já no que diz respeito à verificação do óleo, lembra António Costa, esta pode revelar-se “um desafio”. É que, “hoje em dia, os automóveis novos, às vezes, não têm vareta”, observando-se o nível do óleo através do software. “Uma vantagem muito grande”, observa, “já que não suja as mãos”. No entanto, há desvantagens, como quando se quer verificar o nível com o automóvel a frio, altura em que os dados apresentados não serão fidedignos.

Apesar dos constantes avisos, relata José Miguel Patrício, gerente da Topcar Auto Sesimbra, o que acontece é que o “fluxo de trabalho nestes meses de Verão acelera”, muito por causa de imprevistos relacionados com as férias e que, avisa, acabam por “estragar o descanso”, nomeadamente ao nível do orçamento. Por isso, aconselha que se invista na prevenção e não se deixe para a última hora: “Cada vez mais peço que as pessoas antecipem estas visitas de forma a assegurar que têm o automóvel pronto no dia em que querem partir”. É que, contextualiza, basta que seja precisa uma qualquer peça para que o tempo de reparação se arraste. Um problema que, diz o responsável, se observa comummente desde a pandemia de covid-19, com “tempos cada vez mais alargados de entrega”.

Das coisas mais básicas, refere José Miguel Patrício, é a verificação das escovas do pára-brisas e do líquido no depósito daquele, chamando a atenção para o facto de um vidro sujo prejudicar a visibilidade, sendo, assim, um factor de insegurança. Outro apontamento que não deixa passar é a utilidade de ter um suporte para o telefone: “Cada vez mais vêem-se pessoas a conduzir com o telefone na mão, o que contribui para a distracção” — factor a ter em conta quando se têm muitos quilómetros pela frente para palmilhar.

Depois, alerta, é necessário voltar a rever todos os pontos antes de planear o regresso. “Muita gente chega a um sítio, pára e não toca mais no carro”, observa, avisando que, ao fim de 15 dias ou mais sem trabalhar, o veículo pode apresentar parâmetros que precisam de ser resolvidos, como a pressão dos pneus ou os níveis dos fluidos.

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João Santos, da Auto Pneus – Maia, membro da rede Contiservice, concorda com tudo o exposto e acrescenta que, mesmo durante o período de descanso, vale a pena não esquecer as necessidades do veículo, a começar por protegê-lo do sol, sobretudo em dias de calor extremo: para conforto dos ocupantes, mas também para preservar os interiores. Por isso, aconselha, numa lista partilhada com o PÚBLICO (ver caixa), a ter sempre tapa-sóis e cortinas próprias para evitar a propagação do calor.

No entanto, para quem tenha orçamento folgado, é possível optar pela aplicação de películas nos vidros que protegem o habitáculo, lembra Victor Simões, ainda que ressalve que aquelas têm de ser transparentes de forma a cumprirem com a homologação do veículo. O valor, diz, depende da qualidade da película, mas não ficará por menos de 300 euros.

Nos eléctricos, que só no último ano duplicaram o número de registos em Portugal, todos os especialistas escutados pelo PÚBLICO são unânimes em aconselhar que se planeie bem a rota antes da partida, observando postos de carregamento pelo caminho, tendo em conta que, com calor extremo (temperaturas acima dos 35º), a autonomia da bateria pode ser prejudicada.

Por fim, é imperativo não esquecer o ar condicionado, que, quando tem pouco gás ou o filtro sujo, não funciona correctamente, exigindo mais energia (e contribuindo para uma maior despesa, seja com combustíveis fósseis ou com electricidade). Por uma questão óbvia de conforto, mas também, como alerta António Costa, por uma questão de segurança: um ambiente mais frio no habitáculo vai aguçar a atenção do condutor.

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