Fotogaleria
O Último Croceiro vai estar na Branda da Aveleira
O Projeto Raízes descobriu na freguesia de Gave o senhor Silvestre, um dos últimos artífices desta arte. As fotografias de Luís Borges ajudam a contar a história.
Croça. Capote de palha. Espécie de capa feita de junco utilizada nas zonas rudes montanhosas. Resguardo de pastores e agricultores que deixa escorrer a água da chuva e a neve. Por terem caído em desuso, em Melgaço já não há quem as faça — pelo menos em tamanho real. O Projeto Raízes foi descobrir na freguesia de Gave o senhor Silvestre (1939), um dos últimos artífices desta arte.
"Aprendeu com o seu pai, o ti Videira". Começou de pequenino, juntamente com os irmãos, dedicou-lhe a infância e adolescência até emigrar, aos 18 anos. "Eu aperfeiçoei a arte pois preferia fazer croças em vez de ir trabalhar para o campo ou ir com o gado para o monte", contou no desenrolar de um trabalho de campo desenvolvido pelo Raízes, que seguiu as mãos de Silvestre na apanha do junco munido da sua velha navalha e de uma pedra de amolar, e agora mostra todo o processo na exposição O Último Croceiro (com fotografias de Luís Borges).
"As suas mãos calejadas e cansadas, em gestos miúdos e minuciosos, torcem, apertam-se e entrançam pequenas mechas de junco num saber nunca esquecido. Fazer uma croça é um trabalho bastante complexo tanto no trabalho manual inerente a cada etapa, que exige uma grande destreza com as mãos, como na sabedoria para trabalhar as tranças, as camadas e os tamanhos."
Os meses rigorosos de Inverno exigiam aos autóctones uma forte capacidade de resistência e de adaptação ao meio, de onde retiravam as plantas que a terra produzia transformando-as em vestuário. Melgaço, repleto de zonas húmidas e alagadas, tem um enorme potencial para o desenvolvimento de extensos juncais. "Havia sempre o cuidado de os proteger do gado", explicam os responsáveis do Projeto Raízes, empenhados em "inventariar o conhecimento tradicional local" acumulado durante gerações e que agora se vai perdendo diluído nos processos de globalização.
"Os tempos mudaram", escrevem. "Actualmente os pastores da freguesia andam de jipe, moto4 e vestem impermeáveis ou capas de oleado. As tradições baseadas no saber-fazer são uma fonte rica de conhecimento, conectando gerações e proporcionando um entendimento mais profundo das raízes de uma comunidade, reforçando a sua identidade. Cada peça trabalhada é uma ode à tradição, uma homenagem a um saber-fazer secular que merece ser preservado e celebrado."
A arte dos croceiros merece um destaque especial na programação do Dia do Brandeiro, um evento que reúne a população da freguesia para celebrar a cultura da transumância, uma tradição com 900 anos.
A exposição de fotografia estará patente nos dias 3 e 4 de Agosto, no recinto da Capela da Senhora da Guia, na Branda da Aveleira, à entrada do Parque Nacional da Peneda-Gerês, que será palco de um extenso programa de festas e homenagens.