Léon Marchand é dos que não descansa e não deixa descansar

Em Paris, Marchand foi o rei da noite. “Léon, Léon, Léon”, cantaram os gauleses, abafando qualquer aplauso aos demais. Léon está para França como Phelps esteve para os EUA. E isso não é coisa pouca.

Foto
Léon Marchand em acção em Paris Agustin Marcarian / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
04:07

Talvez estejam a acabar agora as 24 horas mais loucas da vida de Léon Marchand. Loucas, mas também felizes, produtivas e divertidas. O nadador francês não pára quieto em Paris e conquistou, nesta quarta-feira, mais duas medalhas de ouro – e em cerca de duas horas.

Dia 30 de Julho, 20h44: meia-final dos 200 metros mariposa.
Dia 30 de Julho, 21h59: meia-final dos 200 metros bruços.
Dia 31 de Julho, 20h37: final dos 200 mariposa – com ouro.
Dia 31 de Julho, 22h31: final dos 200 bruços – com ouro.

A agenda das finais de natação não foi amiga, mas ele não quis muito saber. Marchand é dos que não descansa nem deixa os outros descansarem – e mostrou isso na forma como venceu os 200m mariposa.

Na primeira medalha de Marchand, nos 400m estilos, escreveu-se no PÚBLICO que “Marchand partiu na frente e acabou na frente. E, pelo meio, andou sempre na frente, a cavar distâncias para a concorrência, a nadar contra si próprio – por outras palavras, a tentar bater o seu próprio recorde mundial”.

Desta vez, o francês não teve essa sorte. A saída do bloco não foi fulgurante e deixou o húngaro Kristof Milak liderar a prova. A dada altura pareceu propositado. Marchand seguiu quase sempre em segundo, sem pânico, como um caçador silencioso a rondar a presa.

Fez um percurso subaquático espantoso na passagem dos 150 metros, como se a parede tivesse um trampolim horizontal, e foi buscar o que ainda tinha no “tanque” para a última piscina.

Nos últimos 25 metros ultrapassou o húngaro, levou 15 mil pessoas à loucura, bateu na parede e celebrou o recorde olímpico de 1m51,21s – mas pouco e sem pompa. Colocou o dedo em riste e guardou o sorriso para mais tarde.

Milak estava destroçado, porque lhe “roubaram” muita coisa: a dianteira que parecia dele, o ouro que parecia dele e o recorde olímpico – que era dele.

"Hey! Hey! Hey!"

Nos 200m bruços, depois de ter ido ao pódio ouvir La Marsellaise pela mariposa, foi diferente. Mergulhou na frente e a cada vinda à superfície, na sua "bruçada", levava o público a gritar “hey”. Foram vários “hey”, naturalmente, porque foram 200 metros de bruços. E 200 metros de Léon.

O gaulês dominou a prova de forma clara e não precisou de ir caçar ninguém – só não caçou foi o recorde do mundo, ficando-se pelo olímpico.

Uma vez mais, a piscina pouco profunda, com consequente maior ressalto das ondas após braçada, parece estar a dificultar a queda das marcas, apesar do recorde mundial dos 100 metros livres que o chinês Pan Zhanle fez cair ao fim da noite no seu ouro.

Nesta quarta-feira, em Paris, foi o rei da noite. “Léon, Léon, Léon”, cantavam os gauleses, abafando qualquer aplauso aos outros nadadores. Léon está para França como Phelps esteve para os EUA. E isso não é coisa pouca.

Sjöström surpresa, Ledecky confirmação

Mas houve mais. A primeira grande ovação da noite coube aos norte-americanos, que tiveram duas finalistas nos 100 metros livres: Torri Huske e Gretchen Walsh. E mais loucos ficaram com a passagem aos 50 metros, que dava Huske na liderança. No fim, Sarah Sjöström veio não se sabe bem de onde para conquistar o ouro nos últimos 20 metros.

Os americanos pareceram ficar confusos: por um lado, a quererem celebrar a medalha de Huske. Por outro, desiludidos com o ouro perdido. Esta não é a Sjöström de outros tempos – nadou bem longe do seu recorde do mundo, que já ficou em 2017 –, mas continua a ser uma vencedora.

Este também foi dia de Katie Ledecky. Numa prova dantesca, tal é a extensão, a americana venceu os 1500 metros livres, como todos saberiam que iria vencer, liderando do início ao fim – e acabou com uma vantagem gigante e recorde olímpico de 15m30,02s.

Na carreira profissional de 14 anos nunca foi batida e as adversárias costumam saber que nadam pelo segundo lugar. Hoje foi igual.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários