Segundo maior accionista da Inapa desiste de AG, acções afundam 92,5%

Nova Expressão, de Pedro Baltazar, chegou a entregar um requerimento para uma reunião extraordinária, mas recuou depois de a empresa ter entregue em tribunal o pedido de insolvência.

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Inapa tem 37% do capital disperso em bolsa. Acções estão em queda. Rui Gaudêncio
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Dona de 10,8% do capital da Inapa, a Nova Expressão, detida por Pedro Baltazar, entregou esta segunda-feira “ao final do dia” um requerimento para a convocação de uma assembleia geral extraordinária da empresa.

A ideia, segundo se lê no comunicado enviado esta terça-feira ao regulador do mercado de capitais, a CMVM, era discutir a “viabilidade económica” da empresa e avançar com uma “operação harmónio” (redução de capital para cobrir prejuízos, seguindo-se depois uma injecção de capital fresco).

No entanto, diz o comunicado, o pedido “não se encontrava acompanhado das respectivas propostas”, facto “que foi imediatamente comunicado à Nova Expressão, tendo-lhe sido igualmente solicitada uma reunião urgente para coordenar a preparação e envio ao senhor presidente da mesa da assembleia geral dessas propostas”. Já esta manhã, esclarece-se, foi entregue um novo requerimento da Nova Expressão, “no qual se solicita que se desconsidere o pedido de convocação de uma assembleia geral extraordinária da Inapa”.

A Nova Expressão explicou que tinha deixado de haver condições para a reunião extraordinária devido às “novas informações relativas à efectiva entrega em tribunal do pedido de insolvência” da Inapa, comunicada também na segunda-feira, às 18h34, e “aos fundamentos para o referido pedido relacionados com a prestação de garantias pela sociedade”.

Acções em queda livre

No documento em que deu conta da entrega do pedido de insolvência no Juízo de Comércio do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste, a Inapa referiu que o incumprimento de uma carta de conforto emitida junto dos bancos financiadores alemães e a insolvência da Inapa Deutschland “determinavam o vencimento antecipado do financiamento obtido junto do consórcio alemão de bancos”, no montante de 17,7 milhões de euros.

Adicionalmente, a holding portuguesa, para se financiar junto do BCP, ao qual deve 34,7 milhões de euros, tinha apresentado como garantia as acções da sua empresa alemã.

“A declaração de insolvência da sociedade Inapa Deutschland Holding implicava o vencimento antecipado dos referidos financiamentos contraídos pela Inapa IPG junto do Millennium BCP, não tendo a Inapa IPG capacidade para liquidar tal dívida”, esclareceu-se no comunicado emitido na segunda-feira ao final do dia.

Outro factor apontado pela Nova Expressão para não avançar com a assembleia geral extraordinária é “o levantamento da suspensão da negociação” das acções, algo que foi anunciado pela CMVM no mesmo dia às 19h30. As acções encontravam-se suspensas desde 19 de Julho, sexta-feira (o anúncio das dificuldades da Inapa, provocadas pelo negócio na Alemanha e impactos na tesouraria, foi efectuado no domingo seguinte).

Esta terça-feira, as acções fecharam em forte queda, com cada título a valer 0,0022 euros, menos 92,5% face ao fecho do passado dia 19. Em Junho de 2000, cada acção chegou a valer 4,8 euros, passando em Abril de 2006 para 2,1 euros. Em Dezembro de 2007, ficou abaixo de um euro e, em Novembro de 2018, acabou por valer menos de 10 cêntimos.

O maior accionista da Inapa é o Estado, com 44,89%, seguindo-se a Nova Expressão, com 10,85%, e o Novo Banco, com 6,55%. O resto do capital, 37,71%, está disperso em bolsa por pequenos investidores.

O próximo passo será a nomeação de um administrador de insolvência, “que ficará responsável pela condução do processo e pela determinação dos próximos passos processuais”, como a composição da lista de credores.

Com 1652 trabalhadores em várias geografias (cerca de 200 em Portugal), a Inapa, líder na distribuição de papel na Europa Ocidental, teve vendas consolidadas de 969 milhões de euros em 2023, menos 20% face ao ano anterior. Já o resultado líquido foi negativo em oito milhões de euros.

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