Investigação arqueológica no Côa revela pinturas do pós-paleolítico
Resultados serão publicados em breve. Mais fáceis de “ler” do que a maioria das gravuras nas cerca de 1500 rochas gravadas conhecidas até aqui, são um bom complemento ao catálogo da arte do Côa.
Investigadores da Universidade de Coimbra puseram a descoberto, pela primeira vez no Vale do Côa, uma rocha pintada com motivos associados à arte levantina da pré-história pós-paleolítica, disse esta terça-feira à agência Lusa a presidente da Fundação Côa Parque.
"Trata-se de uma rocha pintada com alguma espectacularidade iconográfica na vertente sobre o Côa, juntando-se a algumas das mais icónicas rochas gravadas do Paleolítico Superior do Vale do Côa. Trata-se de um novo conjunto, desta feita pintado, com motivos que se enquadram nos milénios da pré-história pós-paleolítica", explicou Aida Carvalho.
Até aqui, no Vale do Côa, eram conhecidas rochas gravadas representado motivos da fauna daquele território de há cerca 25 mil a 30 mil anos, com destaque para auroques (bovino de grandes dimensões), cavalos, cabras e cervídeos, entre outros.
De acordo com Aida Carvalho, "as figuras pintadas nesta rocha são de grande originalidade no contexto da arte do Côa e facilmente apreensíveis por qualquer pessoa, complementando, assim, de maneira muito feliz aquele que já é um percurso especial e ímpar na visitação do território".
O que agora está a ser divulgado é um conjunto de pequenos núcleos de pintura associados à chamada arte levantina. "Esta nova descoberta é fundamental para o Parque Arqueológico do Vale do Côa, porque denota a presença humana, que foi sucessivamente gravando ao longo de um largo período da pré-história [testemunhos] fundamentais para reforçar os círculos artísticos neste território", sublinhou a presidente.
Vários investigadores indicam que a arte levantina se expressa sobretudo em pintura, centrada na figura humana e na sua representação, muitas vezes com alusão à natureza e a situações do quotidiano. São pinturas, gravuras e desenhos que podem ir de simples linhas ou sinais, a cenas de caça, feitos em paredes de grutas, cavernas ou abrigos.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, na sigla inglesa) inscreveu a arte rupestre levantina ibérica, incluída no Arco Mediterrânico, na lista do Património Mundial da Humanidade, em 1998.
A equipa de investigadores da Universidade de Coimbra está a trabalhar na datação exacta das pinturas agora descobertas no Vale do Côa e no processo de verificação dos motivos representados, estando para breve a publicação de alguns dos resultados dos seus estudos.
Segundo Aida Carvalho, a localização desta nova rocha facilita o acesso de logística de apoio, o que também deverá promover uma melhor experiência da visita ao parque arqueológico, sem aumentar demasiado a pressão humana sobre este sítio em particular. "Este será um motivo para a revisitação do Côa", disse à Lusa.
Nesse contexto, um cais palafítico, segundo a responsável, poderá vir a revitalizar as visitas nesta área do parque.
"A colocação de um cais palafítico sobre o Côa, para jusante deste sítio, permitiria a fácil atracagem da embarcação electrossolar da Fundação Côa Parque, eliminando o custo ambiental dos combustíveis fósseis e permitindo uma muito maior facilidade no acesso ao acervo de rochas decoradas, seleccionadas para visita", acrescentou ainda a presidente da fundação que gere um vasto território e o museu.
Aquando da criação do Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC), em Agosto de 1996, tinham sido identificadas cerca de 190 rochas com arte rupestre. Actualmente são 1511, das quais 38 são pintadas, representando um total de 15661 motivos identificados, em mais de uma centena sítios, sendo predominantes as gravuras paleolíticas, executadas há cerca de 30 mil anos.
"Trata-se de um ciclo artístico que nunca foi interrompido, ao longo de mais de 30 mil anos", rematou Aida Carvalho, em declarações à Lusa.
A arte do Côa foi classificada como Monumento Nacional em 1997 e, em 1998, como património mundial pela UNESCO.
Como uma imensa galeria ao ar livre, o PAVC ocupa 20 mil hectares de terreno que estão distribuídos pelos concelhos Vila Nova de Foz Côa, Meda, Pinhel e Figueira de Castelo Rodrigo, no distrito da Guarda, a que se junta o concelho de Torre de Moncorvo, no distrito de Bragança, com manifestações de arte rupestre.