Os comboios vintage de Itália atraem turistas para longe dos circuitos massificados

O projecto Timeless Tracks leva turistas para longe das cidades e destinos massificados, por linhas e aldeias em partes esquecidas de Itália. São já 45 mil turistas por ano.

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Timeless Tracks em itália: Num dos comboios antigos que agora chegam com novos turistas na linha entre Sulmona e Palena Antonio Denti / REUTERS
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Timeless Tracks em itália: Num dos comboios antigos que agora chegam com novos turistas na linha entre Sulmona e Palena Antonio Denti / REUTERS
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Timeless Tracks em itália: Num dos comboios antigos que agora chegam com novos turistas na linha entre Sulmona e Palena Antonio Denti / REUTERS
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Timeless Tracks em itália: Num dos comboios antigos que agora chegam com novos turistas na linha entre Sulmona e Palena Antonio Denti / REUTERS
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Timeless Tracks em itália: Num dos comboios antigos que agora chegam com novos turistas na linha entre Sulmona e Palena Antonio Denti / REUTERS
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Enquanto percorre as regiões centrais da Itália, uma locomotiva a diesel antiga, rebocando vagões dos anos 1930 e 1950, atravessa as florestas do parque nacional de Majella e as terras altas de Abruzzo, dando aos turistas a bordo um vislumbre de aldeias escondidas.

Ao longo dos seus pouco mais de 100 quilómetros, a chamada linha ferroviária do Transiberiano italiano, também conhecida como Park Railway, desliza por desfiladeiros, serpenteia em 58 túneis e enfrenta enormes viadutos.

Foi o primeiro de cerca de 1000 quilómetros de linha a ser inaugurado no âmbito de um projecto da Fondazione FS, parte da empresa ferroviária nacional Ferrovie dello Stato (FS), controlada pelo Estado.

O projecto Timeless tracks leva os turistas a partes esquecidas de Itália, oferecendo uma alternativa ao turismo de massas acelerado das grandes cidades.

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Canta-se, toca-se e dança-se para alegrar o velho comboio cheio de novos turistas. Em Palena REUTERS/Antonio Denti

"São carris que atravessaram diferentes épocas, transportaram soldados para a frente, vacas para o pasto... foram erradamente considerados improdutivos durante os anos 60 e 70, mas agora têm novamente valor", disse à Reuters Luigi Cantamessa, director da Fundação FS.

Inspirado nas viagens de comboio na Suíça, o projecto transporta actualmente 45.000 turistas por ano nas suas 13 linhas. A FondazioneFS prevê a abertura de duas novas linhas até 2026, ambas na região sul da Sicília.

" Os que eram considerados os ramos moribundos da rede ferroviária italiana revelaram-se agora os rebentos mais verdes", acrescentou Cantamessa.

Aqui não há pizzas congeladas

"As pessoas estão habituadas a cidades e locais, como Florença, que toda a gente conhece... mas há outras zonas que precisam de ser descobertas. (Este) é o tipo de turismo certo, que não estraga a autenticidade dos lugares", disse Norma Pagiotti, uma jovem de 28 anos de Florença que viajou no comboio com dois amigos.

Com o número de chegadas acima dos níveis pré-pandémicos, destinos turísticos europeus populares, incluindo Veneza, introduziram medidas destinadas a gerir o número de visitantes, num contexto de preocupações crescentes sobre a sobrelotação.

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De Sulmona a Palena REUTERS/Antonio Denti

"O comboio faz-me lembrar a minha juventude, sinto uma certa nostalgia das coisas do passado, que eram mais simples, agora tudo é rápido e efémero", diz Caterina Quaranta, de Taranto, no sul de Itália, sentada nos bancos de madeira do comboio.

As viagens atraem italianos e estrangeiros, muitas famílias e crianças, jovens que saem para caminhar e andar de bicicleta e pessoas mais velhas "que têm tempo livre", explicou Laura Colaprete, uma guia local.

"É para aqueles que não querem um turismo de massas, destinos desorganizados. Um viajante consciente, que está à procura de algo especial", disse Cantamessa da Fondazione FS. "Não se trata de viagens que servem pizza congelada ao almoço", acrescentou.

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Há tempo para tudo REUTERS/Antonio Denti

Música popular, comida local

Depois de subir quase 1000 metros de altitude, a primeira paragem do Transiberiano é em Palena, uma cidade medieval no topo de uma colina, conhecida pelas suas vistas deslumbrantes sobre o parque nacional.

A música folclórica tradicional acompanha as pessoas que saem do comboio, e na estação esperam-nas iguarias locais como as espetadas de borrego e os pastéis de massa folhada feitos com um molde de ferro, conhecidos como pizzelle, e produtos de artesãos locais.

"O comboio ajuda várias pequenas cidades aqui à volta. Esta linha era uma linha morta antes", disse Gino Toppi, 60 anos, enquanto ajudava a sua mulher na banca de comida da pequena estação.

A Universidade Bocconi de Milão calculou recentemente que, por cada euro gasto pelos passageiros em bilhetes - que custam entre 30 euros e 70 euros (32,50 - 76 dólares) - são gastos mais 3 euros em alimentação, alojamento, excursões e lembranças.

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Na estação de comboios de Sulmona REUTERS/Antonio Denti

Isto ajuda a apoiar a economia das aldeias que há muito perderam população devido à diminuição da taxa de natalidade e à partida dos jovens para as grandes cidades.

"Há certamente benefícios, esta é uma forma de mostrar os meus produtos", disse Annalisa Cantelmi, uma ervanária.

"Estes turistas estão lentamente a descobrir estes 'novos' territórios, as suas tradições e as suas gentes", acrescentou.