Cartas ao director

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Cartel dos laboratórios

Em 4 de Fevereiro de 2021 este jornal publicou uma carta ao director em que eu alertava sobre o preço claramente especulativo dos testes covid-19 e sobre o interesse de a Autoridade da Concorrência (AdC) se debruçar sobre o problema. Ao mesmo tempo fiz uma denúncia formal no portal da AdC sobre a mesma questão. Algumas semanas depois recebi uma resposta por carta da AdC em que, numa linguagem barroca, me informavam que a denúncia não seria investigada por não haver indícios de atentado à concorrência.

A existência de um cartel, posteriormente denunciada por um dos laboratórios em questão, custou muitas centenas de milhões aos contribuintes portugueses. As coimas aplicadas aos laboratórios, menos de 60 milhões de euros, não compensam de forma alguma os prejuízos colectivos e individuais (para quem teve que fazer testes sem prescrição médica) provocados. Não seria adequado que o Ministério Público investigasse as ilegalidades cometidas e o porquê da AdC não ter actuado prontamente?

Mário Rui Martins, Matosinhos

Um país de bacocos?

É extraordinário que em Portugal não haja, ao que parece, um estabelecido conceito de conflito de interesse, pois até uma pessoa que foi professor de Direito comete o que foi chamado "pecado original" por uma jornalista mais esperta.

Durante a sua audição, o Dr. Frutuoso (chefe da Casa Civil da Presidência) voluntariou que sentiu incómodo relativo ao recebimento dum pedido pessoal a favor de terceiros, chegado do filho do PR, talvez porque queria proteger a presidência e a Casa Civil. Pelo mais que transpareceu durante o seu testemunho e o da assessora Dra. Ruela, a Casa Civil procedeu regularmente, mas ficou claro que deixou o caso na fervura, no lume de trás...

Começando pelo princípio, quando o PR foi abordado sobre o caso, fez cara de pensar, mas não se recordou de nada. Só a 4 de Dezembro é que fez uma alocução, dando vários detalhes, mas omitindo um muito indicativo de lhe vir a tornar-se problemático se viesse à tona. Esse foi revelado distraidamente pelo PR a jornalistas durante uma das suas saídas à pesca de selfies e beijinhos, e foi citado pela Rádio Renascença no 14 de Dezembro: "No fundo, a Casa Civil da Presidência tinha uma posição negativa – quer a consultora, quer o chefe da Casa Civil – relativamente àquela pretensão."

Isto, praticamente ignorado pelos media e pela CPI, bate certo com o "incómodo" indicado pelo Dr. Frutuoso, e indica que as acções da Casa Civil foram tomadas contra vontade e, evidentemente, debaixo de ordens superiores. Assim, quando o comentador Pedro Marques Lopes ontem disse que o Presidente da República "teve zero a ver com o assunto", juntou-se à multidão de bacocos (termo, aliás, de que ele gosta, pois há tempos disse que preferir a esfera armilar ao logótipo do ovo estrelado era "nacionalismo bacoco") que não querem ferir o PR, até já ilibado pela Justiça, embora informalmente. É por estas e por outras que Portugal é o que é, e não se pode contar com os media em geral para o endireitar.

Carlos Coimbra, Toronto (Canadá)

A estratégia da ambiguidade

Kamala Harris terá perfil de liderança e poder de negociação? Antony Blinken foi quem desempenhou o papel efectivo de vice-presidente e Kamala Harris foi uma figura de retórica.

Kamala não foi posta à prova, isto é como levar um atleta às olimpíadas sem que durante os quatro anos que precederam o evento tenha competido ao mais alto nível. Nas primárias de Janeiro de 2024 não surgiram candidatos credíveis a disputar a liderança a Joe Biden, apesar da sua crescente impopularidade. Tudo é muito estranho, mas tudo normal para os media mainstream. Quem realmente comanda o poder em Washington?

Fernando Ribeiro S. João da Madeira

Estupidez orçamental

São tão estúpidos aqueles que querem o orçamento aprovado antes de o fazerem, como os que o reprovam antes de o conhecerem. Se Montenegro pensa que a estratégia de Cavaco de 1987 vai resultar outra vez, a meu ver vai correr mal. As circunstâncias já não são as mesmas e o eleitorado que costumava fazer as maiorias mudou-se definitivamente para a direita. O mais que pode acontecer se alguém provocar eleições é os votos que fugiram serem repartidos entre o Chega e a IL. Se os dois maiores partidos não se entenderem e continuarem com o jogo do empurra, um dia qualquer um deles vai passar a ser o terceiro. (…)

Quintino Silva, Paredes de Coura

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