Von der Leyen pede dois candidatos a comissário até 30 de Agosto

Presidente da Comissão Europeia quer formar novo executivo paritário. Só os países que renomearem o seu actual representante estão isentos de propor dois nomes.

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Ursula Von der Leyen pretende formar um executivo paritário OLIVIER MATTHYS / EPA
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A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, formalizou, nesta quinta-feira, o seu pedido para que os governos nacionais designem os nomes dos seus candidatos a um cargo no próximo colégio de comissários até ao dia 30 de Agosto.

Numa carta que seguiu de Bruxelas para todas as capitais, Von der Leyen lembrou que pretende formar um executivo paritário, e insistiu que os Estados-membros lhe indiquem dois candidatos, um homem e uma mulher, com a selecção a ser feita pela própria, depois de um processo de entrevistas que ocorrerá depois das férias.

No calendário idealizado pela presidente da Comissão Europeia, as audições dos comissários designados pelo Parlamento Europeu decorrerão entre Setembro e Outubro, com a votação para a aprovação do colégio no seu conjunto a decorrer no mês seguinte.

“Quero escolher os melhores entre aqueles que partilham o compromisso com o projecto europeu. E em termos de números, quero garantir a paridade entre homens e mulheres”, disse Ursula Von der Leyen após a sua reeleição para um segundo mandato à frente do executivo comunitário, no Parlamento Europeu de Estrasburgo.

Nesta quinta-feira, uma porta-voz da Comissão confirmou que a presidente só admite uma excepção a esta “regra” de indicar dois candidatos, que se aplicará aos Estados-membros que propuserem renovar o mandato do seu representante no actual executivo – só nesse caso ficarão dispensados de enviar um segundo nome.

Para já, Letónia, Eslováquia e Países Baixos confirmaram a renomeação do actual primeiro vice-presidente executivo com a pasta do Comércio, Valdis Dombrovskis; o vice-presidente executivo responsável pelo Pacto Verde, Maros Sefcovic; e o comissário para a Acção Climática, Wopke Hoekstra, respectivamente.

Os outros seis Estados-membros que já oficializaram a sua escolha – Eslovénia, Espanha, Finlândia, Irlanda, República Checa e Suécia – ignoraram o pedido de Von der Leyen e nomearam apenas um candidato. E são quase todos homens, com a excepção da espanhola Teresa Ribera, que ambiciona a pasta da Energia, e da sueca Jessika Roswall, que manifestou uma inclinação pela pasta do Clima.

Mas não é só a paridade de género que a presidente da Comissão Europeia quer ter em conta na organização do próximo executivo. Von der Leyen também quer afinar o processo de distribuição das pastas – algumas das quais serão uma estreia – de forma a corresponder aos interesses de cada Estado-membro e cada família política europeia.

Este é um exercício delicado, onde conta o peso relativo de cada Estado-membro, e a capacidade de negociação ou de influência política dos líderes da UE. Um cargo de comissário, uma vice-presidência ou uma pasta específica são muitas vezes a moeda de troca para um voto a favor no momento da nomeação do líder do executivo comunitário.

Como acontece a cada eleição, as pastas mais “apetecíveis” são as de carácter económico e financeiro: Concorrência, Mercado Interno, Comércio e Economia são aquelas que os maiores Estados-membros mais têm “requisitado”. O alargamento é a outra pasta que tem sido muito cobiçada. Entretanto, o interesse inicial suscitado pelo anúncio de uma nova pasta da Defesa parece ter esmorecido.

Em termos de filiação partidária, já se sabe que o próximo colégio terá mais comissários provenientes das fileiras da direita moderada e radical, e menos socialistas e liberais – é um reflexo da composição do Conselho Europeu, mas não da reconfiguração das forças no Parlamento Europeu depois das eleições de 9 de Junho, o que significa que o processo de audições poderá ser mais difícil desta vez.

Durante as negociações que antecederam a sua reeleição, Von der Leyen garantiu que o seu Partido Popular Europeu (PPE) ficaria com a Agricultura, uma pasta importante, que seria atribuída a um país pequeno ou médio – o que em teoria colocava Portugal na lista das possibilidades, ao lado da Croácia, Áustria e Luxemburgo.

Ainda não se sabe se o primeiro comissário com responsabilidade pela área da habitação terá uma pasta com esse nome. Fontes europeias diziam que, uma vez que se trata de uma competência nacional, e que não existe uma rubrica no orçamento comunitário com esse título, a habitação poderá ser incluída noutro portfólio, como, por exemplo, a política regional. Mas a expectativa é a de que seja entregue a um socialista, uma vez que essa foi uma das exigências do grupo parlamentar.

Von der Leyen também não deu mais explicações sobre o conteúdo da pasta do Mediterrâneo que anunciou no seu discurso ao Parlamento Europeu. Parecia que tinha sido desenhada à medida da Itália, mas, numa entrevista ao Politico, o Presidente de Chipre, Nikos Christodoulides, assumiu o interesse do seu país nesse portfólio.

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