Cartas ao director

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Há falta de creches

Em Portugal, as creches para todas as crianças ainda são uma miragem. Há uma falta significativa e, numa fase em que a demografia recua por falta de nascimentos, verifica-se uma acentuada negligência da governança. Não se vislumbra, a curto prazo, melhorias na resolução desta premente falta.

Nos Açores, a situação com as creches é pior. Os pais desempregados ou a receberem apoios sociais irão ser discriminados no acesso dos seus filhos à gratuitidade das creches. É inqualificável! Esta injusta, desumana e cruel iniciativa veio do partido fascista e inconstitucional Chega, não sendo de admirar. Tira e faz a vida mais negra aos que menos têm. A direita extremada da AD apoiou!

Ora, os pais das crianças que recebem uma esmola miserável de Rendimento Social de Inserção são paupérrimos, e tendo o estigma de serem da mais baixa condição social devem ser os mais apoiados – sem dúvidas! Aquela resolução, que modifica, para pior, as admissões às creches públicas, ainda não tem o respaldo da lei e espera-se que o representante da República possa ter capacidade de inverter a iníqua iniciativa. A pobreza extrema, o estigma a ela associado, não pode ser factor de mais miséria!

Vítor Colaço Santos, São João das Lampas

Psicologismo ideológico na conjuntura

A crise das “ideologias”, como coisa morta das grandes causas, não entope os discursos apologéticos de tendências sempre díspares, contraditórias e antagónicas. Seja o imperialismo globalizante, sem fronteiras marcadas, baseado nos monopólios financeiros, sempre com novos produtos e moeda defensiva. Seja o nacionalismo renascente, oposto à colonização, mesmo disfarçada ou inesperada. Seja ainda o militarismo tecnológico competitivo, com inovações avançadas, em braço-de-ferro, em guerras directas ou por procuração. Esta infra-estrutura tem como superestrutura as designadas “democracias liberais”, em contradição com as chamadas “autocracias”. Geograficamente, estas, mais ao sul e a oriente, as primeiras, a ocidente (ocidentais). A classificação ainda faz parte da ideologia dominante mediática. No último sábado, o sociólogo António Barreto faz uma crónica abrangente sobre o status quo ocidental, criticando, em título, os seus “complexos de superioridade”, noção psíquica individual aplicada ao social. Por sua vez, no mesmo número, o historiador Pacheco Pereira faz uma crónica com o título amargamente irónico “Deus apoia, nas eleições americanas, um narcisista patológico”. Um robusto narciso, que acelera, vivo, a queda do rival desprotegido, antes do prelo.

José Manuel Jara, Lisboa

Liberdade no abstracto e no concreto

A propósito do excelente artigo de João Marecos Liberdade é complexidade, publicado no P2 do PÚBLICO. A liberdade e a democracia são palavras ligadas aos direitos, liberdades e garantias individuais dos portugueses. Juridicamente, a liberdade no concreto trata apenas do direito de ninguém poder ser detido a não ser em flagrante delito. Há a liberdade política, sindical, etc. Todas estas liberdades têm uma prática avalizada pelos tribunais. A liberdade, no abstracto, trata dos direitos nas nossas relações pessoais e sociais. Somos livres de dizer aquilo que achamos que está certo ou o que simplesmente nos vem à cabeça, arcando com as consequências, no caso de podermos estar a violar os direitos dos outros. Porque o direito de dizer o que achamos não nos dá o direito de ferir os sentimentos dos outros. Nessa altura está a pôr-se em causa a liberdade ou o direito de outrem ou dos outros.

O direito a ser livre está intimamente ligado à nossa independência pessoal. Só somos verdadeiramente livres quando não estivermos condicionados pelos interesses dos outros ou de outrem. É essa condição que permite, juridicamente, que deixemos de ser menores para sermos maiores de idade, ou seja, deixamos de ser tutorados para sermos autónomos. Nessa altura, a nossa liberdade implica toda a nossa responsabilidade. Como seria a condição da mulher se não conquistasse autonomia financeira através do acesso ao mundo do trabalho? Onde estaria a liberdade dela? Perante isto, onde está a nossa liberdade, se a nossa vida está tão dependente da nossa condição laboral em que, apesar dos contratos, o trabalhador está sempre em condição subalterna?

Mário Pires Miguel, Reboleira

PÚBLICO Errou

Por engano, na página 32 da edição de ontem foi publicada uma ilustração que não corresponde ao texto publicado. Aos leitores pedimos desculpa pelo lapso.

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