Russo detido em Paris por suspeita de preparar “desestabilização dos Jogos Olímpicos”

Homem terá dito ao telefone a um superior que “os franceses vão ter uma cerimónia de abertura como nunca viram”. Autoridades estão em alerta perante ameaça de ingerência estrangeira.

Foto
Paris acolhe os Jogos Olímpicos a partir desta quarta-feira (a cerimónia de abertura é na sexta) ETTORE FERRARI / EPA
Ouça este artigo
00:00
02:52

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Um homem russo de 40 anos foi detido em Paris no domingo por suspeitas de estar a preparar “acções de desestabilização durante os Jogos Olímpicos”. A detenção foi tornada pública na terça-feira através de uma notícia do Le Parisien e, mais tarde, de uma nota da procuradoria que revela que o homem ficou em prisão preventiva enquanto decorre um inquérito por “espionagem para uma potência estrangeira com vista a provocar hostilidades em França”.

Identificado apenas como K. pelo Le Monde, este homem nascido em 1984 residia e trabalhava como chef de cozinha na capital francesa, onde as autoridades fizeram uma busca domiciliária no domingo. Terão encontrado elementos que o ligam ao FSB, os serviços secretos russos, e que, segundo uma fonte judicial, permitiram constatar que estava em marcha “um projecto de grande amplitude” que teria consequências “graves”. Os investigadores descartaram, no entanto, a hipótese de um atentado terrorista.

De acordo com o Le Monde, que teve acesso a elementos do processo, o suspeito foi apanhado numa escuta telefónica com um superior do FSB a dizer que “os franceses vão ter uma cerimónia de abertura como nunca viram”.

Tratar-se-á de um antigo concorrente de reality shows russos que aprendeu culinária numa escola de Paris, onde reside desde 2010. Antes disso passara por fundos de investimento e empresas financeiras moscovitas, ainda segundo o Le Monde.

Sombra russa

Para além da ameaça terrorista – o nível de alerta está no máximo –, as autoridades francesas estão preocupadas com a possibilidade de ingerência estrangeira durante os Jogos Olímpicos, sobretudo com a de origem russa.

Em Junho, o serviço que analisa ameaças cibernéticas no Secretariado Geral de Defesa e Segurança Nacional denunciou uma campanha pró-russa destinada a espalhar desinformação, entre outros temas sobre os Jogos Olímpicos e a qualidade da água do Sena, que tem sido um assunto de grande debate público em França. Segundo o relatório então divulgado, a campanha passava por usurpar a identidade de meios de comunicação conhecidos e respeitados, criando notícias falsas e divulgando-as nas redes sociais, onde um conjunto de utilizadores e bots as disseminariam.

“Estas manobras usurparam a identidade de media e instituições com o objectivo de difundir a ideia, junto de audiências tanto francesas como estrangeiras, de que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos serão um fracasso”, lê-se no documento.

As autoridades gaulesas também suspeitam de mão russa na pintura de estrelas de David em edifícios e de mãos vermelhas no Memorial ao Holocausto, em Paris, depois do início da guerra entre Israel e Hamas, em Gaza.

“Estamos cá para nos assegurar que o desporto não é utilizado para fins de espionagem, de ciberataques ou para criticar e mentir sobre França e os franceses”, declarou esta semana, à Paris Match, o ministro do Interior, Gérald Darmanin. Segundo o governante, 880 voluntários, trabalhadores e outras pessoas foram afastadas da organização dos jogos por suspeitas de poderem desestabilizar o evento, que arranca oficialmente esta sexta-feira.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários