Russo detido em Paris por suspeita de preparar “desestabilização dos Jogos Olímpicos”
Homem terá dito ao telefone a um superior que “os franceses vão ter uma cerimónia de abertura como nunca viram”. Autoridades estão em alerta perante ameaça de ingerência estrangeira.
Um homem russo de 40 anos foi detido em Paris no domingo por suspeitas de estar a preparar “acções de desestabilização durante os Jogos Olímpicos”. A detenção foi tornada pública na terça-feira através de uma notícia do Le Parisien e, mais tarde, de uma nota da procuradoria que revela que o homem ficou em prisão preventiva enquanto decorre um inquérito por “espionagem para uma potência estrangeira com vista a provocar hostilidades em França”.
Identificado apenas como K. pelo Le Monde, este homem nascido em 1984 residia e trabalhava como chef de cozinha na capital francesa, onde as autoridades fizeram uma busca domiciliária no domingo. Terão encontrado elementos que o ligam ao FSB, os serviços secretos russos, e que, segundo uma fonte judicial, permitiram constatar que estava em marcha “um projecto de grande amplitude” que teria consequências “graves”. Os investigadores descartaram, no entanto, a hipótese de um atentado terrorista.
De acordo com o Le Monde, que teve acesso a elementos do processo, o suspeito foi apanhado numa escuta telefónica com um superior do FSB a dizer que “os franceses vão ter uma cerimónia de abertura como nunca viram”.
Tratar-se-á de um antigo concorrente de reality shows russos que aprendeu culinária numa escola de Paris, onde reside desde 2010. Antes disso passara por fundos de investimento e empresas financeiras moscovitas, ainda segundo o Le Monde.
Sombra russa
Para além da ameaça terrorista – o nível de alerta está no máximo –, as autoridades francesas estão preocupadas com a possibilidade de ingerência estrangeira durante os Jogos Olímpicos, sobretudo com a de origem russa.
Em Junho, o serviço que analisa ameaças cibernéticas no Secretariado Geral de Defesa e Segurança Nacional denunciou uma campanha pró-russa destinada a espalhar desinformação, entre outros temas sobre os Jogos Olímpicos e a qualidade da água do Sena, que tem sido um assunto de grande debate público em França. Segundo o relatório então divulgado, a campanha passava por usurpar a identidade de meios de comunicação conhecidos e respeitados, criando notícias falsas e divulgando-as nas redes sociais, onde um conjunto de utilizadores e bots as disseminariam.
“Estas manobras usurparam a identidade de media e instituições com o objectivo de difundir a ideia, junto de audiências tanto francesas como estrangeiras, de que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos serão um fracasso”, lê-se no documento.
As autoridades gaulesas também suspeitam de mão russa na pintura de estrelas de David em edifícios e de mãos vermelhas no Memorial ao Holocausto, em Paris, depois do início da guerra entre Israel e Hamas, em Gaza.
“Estamos cá para nos assegurar que o desporto não é utilizado para fins de espionagem, de ciberataques ou para criticar e mentir sobre França e os franceses”, declarou esta semana, à Paris Match, o ministro do Interior, Gérald Darmanin. Segundo o governante, 880 voluntários, trabalhadores e outras pessoas foram afastadas da organização dos jogos por suspeitas de poderem desestabilizar o evento, que arranca oficialmente esta sexta-feira.