Luís Paixão Martins. “Detesto que me digam que sou simpático. Fico mesmo ofendido”

“Gosto de passar a ideia de que os especialistas em comunicação de crise têm vidas longas, porque na realidade as crises não eram deles.”

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Luís Paixao Martins, 70 anos, ex-consultor de comunicação Nuno Ferreira Santos
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Que rede social mais usa? Já desistiu de alguma e porquê?
X para me informar e, em menor grau, para comunicar. Vou ao Facebook ver como velhos amigos e amigas andam em matéria gastronómica e ao Instagram para saber das netas. No comunicar faço intervalos e tenho frequências irregulares.

Já se arrependeu de alguma coisa que escreveu numa rede social? O quê?
Todos os dias me arrependo de não publicar algumas ideias que me atravessam – porque o meu sarcasmo nem sempre é compreendido.

Tem a noção de quantos ex-amigos tem? Cinco? Dez? Ou nunca se zangou com um amigo?
Tenho um viveiro de dezenas de amigos e conhecidos que ponho a marinar. A zanga dá muito trabalho, é demasiado exigente.

Qual é o elogio que menos gosta que lhe façam?
Detesto todos os elogios, mas o pior, pior, pior de todos é dizerem-me que sou simpático. Fico mesmo ofendido.

Se pudesse viver no cenário de um romance literário, qual escolheria?
Um ambiente de espionagem, uma encruzilhada de mundos, decadente, incompreensível, tipo Istambul.

Fora de Portugal, qual é o lugar onde se sente em casa? E porquê?
Qualquer suite moderna num hotel grande, impessoal e de serviço imaculado pode sempre ser a minha casa.

Qual o melhor conselho que lhe deram na vida?
Não gastes o teu tempo a convencer pessoas que não querem ser convencidas.

Em que situações se considera um “chato”?
Sempre que falo com pessoas mais novas. Portanto, tende a ser cada vez mais.

Tem algum vício que gostaria de não ter? E um de que se orgulhe?
Gosto de conduzir rápido e não precisava de o fazer. Acho piada a comprar livros mesmo sem ser para os ler. E vinhos também entram na lógica do não-se-estragam-ficam-para-mais-tarde.

Diga o nome de três portugueses vivos que admira (não vale a sua mãe nem o seu pai).
Vivos e de gerações anteriores. O Adelino Gomes pelo jornalismo, o Paulo de Abreu pelo marketing, referências das duas actividades profissionais que abracei, e o António Lobo Antunes por aquilo que muitos profissionais do “word” provavelmente gostariam de ser, escritores.

Já teve algum ataque de ansiedade? Em que circunstâncias?
Digamos que sou mais de desfazer as ansiedades dos outros. Gosto de passar a ideia de que os especialistas em comunicação de crise, como eu fui, surpreendentemente têm vidas longas, porque na realidade as crises não eram deles. Vale para as ansiedades.

E já se sentiu profundamente exausto? Foi burnout?
Meia dúzia de vezes na vida dormi umas 12 horas seguidas quando encerrei momentos de tensão ou de cansaço. Não sei se conta para esse luxo do burnout.

Se lhe pedissem conselhos para uma relação amorosa feliz, o que é que dizia?
“Tens razão, querida.” Feliz e duradoura.

É vegetariano, vegan, faz alguma dieta especial? Porquê?
Procuro não comer à noite. Porque sou septuagenário.

Qual foi o último filme que viu? E qual foi o último de que gostou?
Cândido, do primo Jorge Paixão da Costa. Gostei de dramatização de uma personagem especial que foi jornalista, treinador de futebol e espião e que morreu em reportagem.

Qual o seu maior arrependimento?
Não me ter reformado mais cedo.

Qual foi a última vez que se surpreendeu?
Sempre que me deixo entusiasmar por um qualquer projecto profissional de risco de reputação. É até mais frequente do que o bom senso aconselharia.

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