Protestos no Bangladesh fazem pelo menos 173 mortos e mil detidos

Movimento estudantil na origem das manifestações suspendeu protestos por 48 horas, porque não quer reformas “à custa de tanto derramamento de sangue”. Autoridades impuseram recolher obrigatório.

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Protestos em Daca, capital do Bangladesh, onde mais de 500 pessoas foram detidas Mohammad Ponir Hossain / REUTERS
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Uma forte presença militar foi visível nos últimos dias na capital Mohammad Ponir Hossain / REUTERS
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Autoridades impuseram o recolher obrigatório e os soldados estão a patrulhar as cidades do país do sul da Ásia, o oitavo mais populoso do mundo Mohammad Ponir Hossain / REUTERS
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Pelo menos 173 pessoas morreram e mais de 1100 foram detidas no Bangladesh, nos últimos dias, na sequência dos protestos contra as quotas para o recrutamento de funcionários públicos.

O movimento estudantil na origem das manifestações suspendeu os protestos na segunda-feira por 48 horas, com o líder a declarar que não quer reformas “à custa de tanto derramamento de sangue”. No domingo, o Supremo Tribunal do Bangladesh suprimiu a maior parte das quotas nos empregos públicos que tinham provocado os protestos a nível nacional. Ainda assim, as autoridades impuseram o recolher obrigatório e os soldados estão a patrulhar as cidades do país do sul da Ásia, o oitavo mais populoso do mundo, de acordo com a agência France-Presse (AFP).

O exército anunciou que a ordem tinha sido restabelecida na segunda-feira à noite. Pelo menos 200 pessoas foram detidas nas regiões de Narayanganj e Narsingdi, no centro do país, disseram à AFP chefes da polícia local.

Além disso, pelo menos 80 pessoas encontram-se detidas em Bogra, 75 na cidade de Rangpur (ambas no norte do país), 168 na cidade industrial de Gazipur, perto da capital, e 60 em Barisal (sul), acrescentaram responsáveis da polícia. Estes números vêm juntar-se a um total de 532 detenções em Daca, anunciadas já na segunda-feira. Uma forte presença militar era visível esta manhã na capital, acrescentou a AFP.

As manifestações quase diárias, convocadas no início de Julho principalmente por estudantes, destinam-se a obter o fim das quotas de admissão na função pública, com os manifestantes a acusarem que favorecem as elites próximas do poder.

Os protestos subiram de tom nos últimos dias e representam o maior desafio para a primeira-ministra, Sheikh Hasina, desde que conquistou o quarto mandato consecutivo, em Janeiro, num ato eleitoral boicotado pelos principais grupos de oposição.

Entretanto, a organização não-governamental de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) lançou um apelo à comunidade internacional para pedir às autoridades do país "para que ponham termo ao uso excessivo da força contra os manifestantes e responsabilizem as tropas pelas violações dos direitos humanos".

“O Bangladesh tem sido perturbado há muito tempo devido a abusos ilimitados das forças de segurança contra qualquer pessoa que se oponha ao Governo de Sheikh Hasina, e estamos a testemunhar o mesmo manual novamente, desta vez para atacar manifestantes estudantis desarmados”, disse o vice-director da HRW para a Ásia, em comunicado.

“Chegou o momento de governos influentes pressionarem Sheikh Hasina para que as suas forças parem de brutalizar estudantes e outros manifestantes", notou Meenakshi Ganguly.

Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, exortou na segunda-feira o Governo do Bangladesh a respeitar “o direito à livre expressão e reunião pacífica” e pediu “uma investigação rápida e transparente dos actos de violência”.