OMS alerta para possível epidemia de poliomielite em Gaza

“Pode haver outras epidemias de doenças transmissíveis”, disse um representante da OMS. “Dadas as limitações em Gaza, vai ser muito difícil seguir o conselho de lavar as mãos e beber água fervida”.

Foto
"Até 14 mil pessoas (de Gaza) podem" precisar de assistência médica", afirmou um representante da OMS HAITHAM IMAD / EPA
Ouça este artigo
00:00
02:42

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reiterou esta terça-feira "muita preocupação" sobre a possibilidade de uma epidemia na Faixa de Gaza, especialmente depois de ter isolado o poliovírus tipo 2 (poliomielite) em amostras de águas residuais.

"Estou muito preocupado. Estou extremamente preocupado e não é só a poliomielite. Pode haver outras epidemias de doenças transmissíveis", disse Ayadil Saparbekov, chefe da equipa da OMS para as emergências de saúde nos territórios palestinianos.

"A hepatite A foi confirmada no ano passado e agora podemos ter poliomielite" sendo que "até 14 mil pessoas (de Gaza) podem" precisar de assistência médica, disse numa conferência de imprensa.

A poliomielite é uma doença altamente contagiosa causada por um vírus (o poliovírus) que invade o sistema nervoso e pode levar à paralisia irreversível em poucas horas. No dia 16 de Julho, a Rede Mundial de Laboratórios da Poliomielite isolou o poliovírus de tipo 2 derivado de uma estirpe vacinal em seis amostras de vigilância ambiental.

A análise destes casos isolados — realizada pelos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) em Atlanta, Estados Unidos, — mostra que existem "ligações genéticas entre eles" e que estão também ligados ao poliovírus de tipo 2 derivado de uma estirpe vacinal que circulou no Egipto em 2023, disse a OMS.

Assim, o organismo das Nações Unidas reitera que existe "risco elevado" de propagação do poliovírus na Faixa de Gaza e a nível internacional "se não for dada uma resposta rápida a esta epidemia".

"Ainda não recolhemos amostras humanas, devido à falta de equipamento e de capacidade laboratorial para testar essas amostras", frisou Saparbekov. Uma equipa da OMS e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), que se desloca a Gaza na próxima quinta-feira, deve levar material para recolher amostras humanas que vão ser depois enviadas para a Jordânia.

Ao mesmo tempo, a OMS e parceiros da organização estão a avaliar a extensão da propagação do poliovírus. Saparbekov espera que as recomendações possam ser publicadas domingo, mas "dadas as actuais limitações em termos de higiene e saneamento da água em Gaza, vai ser muito difícil para a população seguir o conselho de lavar as mãos e beber água fervida".

A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada em 7 de Outubro do ano passado por um ataque sem precedentes, levado a cabo por comandos do Hamas infiltrados no sul de Israel, que causou a morte de 1.197 pessoas, na maioria civis, segundo uma contagem da France Presse baseada em dados oficiais israelitas.

Em resposta, Israel lançou uma ofensiva aérea e terrestre de grande escala contra Gaza, que resultou em mais de 39 mil mortes, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde do governo de Gaza, dirigido pelo Hamas.