Barcelona não pode ser “parque temático” sem residentes: é preciso restrições ao turismo, defende presidente da câmara

Num ano em que o turismo deve bater recordes em Barcelona, autarquia já anunciou o fim dos arrentamentos turísticos de curta duração. E residentes já saíram à rua contra turismo de massas.

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As Ramblas de Barcelona, epicentro turístico ALEJANDRO GARCIA / LUSA
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Barcelona não pode absorver o crescimento contínuo e desenfreado do número de turistas e tem de impor restrições para não se tornar um "parque temático" sem residentes, disse à Reuters o presidente da câmara da cidade espanhola mais visitada por estrangeiros, esta terça-feira.

No mês passado, Barcelona comprometeu-se a encerrar todos os arrendamentos de curta duração até 2028 para conter o aumento dos preços das rendas para os residentes. E no início deste mês, as imagens de um protesto anti-turismo tornaram-se virais depois de alguns manifestantes terem usado pistolas de água para pulverizar turistas, num contexto de crescentes manifestações contra o turismo de massas em Espanha.

O presidente da câmara, o socialista Jaume Collboni, declarou que continuará a envidar esforços para limitar a oferta, uma vez que não pode influenciar a procura, que, segundo as estimativas, é infinita e poderá crescer entre 3% e 8% por ano, o que "nenhuma cidade poderá absorver".

" Se tivermos um teatro com capacidade para 300 lugares, não podemos vender 500 (bilhetes) mesmo que tenhamos 200 pessoas na fila... Tudo tem um limite", disse Collboni numa entrevista no seu gabinete, com as paredes decoradas com um quadro de Joan Miró e com uma imagem do ícone dos direitos dos homossexuais dos EUA, Harvey Milk, na sua secretária.

No ano passado, cerca de 26 milhões de turistas visitaram a cidade de 1,6 milhões de habitantes, onde o turismo representa 15% da sua economia, e as autoridades estão a preparar-se para um potencial recorde em 2024.

"O turismo deve estar ao serviço do modelo da cidade e não o contrário. É o que estamos a fazer em Barcelona", acrescenta Collboni, que espera que outros reproduzam as decisões para os apartamentos turísticos, uma vez que foi contactado por responsáveis de outras cidades.

Mas os visitantes preferem cada vez mais arrendar casas de férias quando viajam, tendo os arrendamentos de curta duração por turistas estrangeiros em Espanha aumentado 24% entre Março e Maio, de acordo com a associação do sector do turismo Exceltur.

Collboni, cujo mandato termina em 2027, excluiu a possibilidade de flexibilizar a proibição, que defende ser legal, apesar de ser contestada nos tribunais, e popular, com uma sondagem do governo local a mostrar que 75% dos habitantes de Barcelona a apoiam.

Quando os 10.000 apartamentos turísticos que a cidade tem actualmente acabarem no mercado em 2028, isso será o equivalente a um bairro construído ao longo de uma década, disse ele.

O objectivo é que as chegadas por mar parem de crescer, depois de terem atingido um recorde de 3,6 milhões de passageiros de cruzeiros em 2023.

Por seu lado, Collboni qualificou o protesto com água pulverizada de "absolutamente repreensível" e não representativo do espírito de Barcelona, argumentando que todos os turistas são bem-vindos e que os protestos não devem afugentar os visitantes.