Azeite teve em 2023 a segunda campanha mais produtiva de sempre
Na produção de vinho, o valor atingido no ano passado foi o resultado mais alto desde 2001, segundo as Estatísticas Agrícolas agora publicadas pelo INE.
A produção de azeite em 2023 foi a segunda mais volumosa de sempre em Portugal, revelou esta terça-feira o Instituto Nacional de Estatística (INE) no relatório anual sobre estatísticas agrícolas, que revela igualmente que 2023 foi positivo para a produção de vinho e negativo para a produção de cereais.
No que diz respeito ao azeite, as Estatísticas Agrícolas de 2023 publicadas pelo INE indicam que a produção ultrapassou os 1,75 milhões de hectolitros, o segundo melhor resultado de que há registo. Contudo, o elevado teor de humidade das azeitonas dificultou a extracção de azeite, o que resultou numa funda [rendimento da azeitona no lagar] menor.
Os dados divulgados esta terça-feira referem ainda que o grau de auto-aprovisionamento do azeite em 2022 foi de 198,6% (98,6 pontos percentuais acima da autossuficiência), ficando 66,2 pontos percentuais abaixo do valor apresentado em 2021, que foi o mais elevado de toda a série disponível.
No que diz respeito à produção de vinho, o valor atingido em 2023 foi de 7,4 milhões de hectolitros, o que corresponde ao resultado mais alto desde 2001. De acordo com o INE, a produção de vinho aumentou em quase todas as regiões do país, com os vinhos a apresentaram, de um modo geral, uma "estrutura complexa e equilíbrio entre o teor alcoólico, a acidez e os taninos".
Os dados agora divulgados indicam também que o grau de auto-aprovisionamento do vinho se fixou em 108,9% na campanha de 2022/2023, abaixo dos 112,4% registados em 2021/2022.
Já o consumo de vinho decresceu 9,2%, "particularmente no que respeita aos vinhos sem certificação", verificando-se também uma diminuição significativa das exportações de vinho (-25,9%).
A indústria das bebidas facturou 3,7 mil milhões de euros em 2023, mais 166 milhões de euros do que em 2022, tendo a "indústria do vinho" contribuído com 49,5% do total do valor das vendas (51,9% em 2022).
Seca prejudica produção de cereais
Em contrapartida, o ano foi bastante mais negativo no que diz respeito aos cereais. De acordo com as Estatísticas Agrícolas, a campanha Outono/Inverno 2022/23 foi a pior de sempre para todas as espécies cerealíferas devido aos decréscimos de áreas (excepto cevada) e de produtividades.
"A ausência de precipitação na Primavera e as elevadas temperaturas prejudicaram muito o desenvolvimento vegetativo dos cereais praganosos de sequeiro, promovendo o seu adiantamento e o espigamento precoce, o que levou a que a campanha totalizasse 93 mil toneladas, consideravelmente abaixo das obtidas nas três secas severas anteriores (2005, 2012 e 2022)", revela o INE.
A precipitação acumulada no Outono/Inverno possibilitou alguma recuperação dos níveis de armazenamento das albufeiras e regadios privados, permitindo que a campanha de regadio decorresse com normalidade, adianta.
A produção de arroz, por sua vez, registou um crescimento de 15% em resultado dos aumentos de área e, sobretudo, de produtividade.
Já a produção de maçã foi semelhante à de 2022, embora a região do Oeste tenha registado um decréscimo de 15%.
Quanto à pêra, a produção caiu pelo segundo ano consecutivo (-11%, face a 2022), sendo a pior campanha desde 2012 devido as condições meteorológicas adversas.
"A intensificação do fogo bacteriano tem exercido uma pressão acrescida sobre o sector, obrigando ao arranque e abandono de muitos pomares nas zonas afectadas", sublinha o instituto.
A produção de cereja foi de 11,8 mil toneladas, o que corresponde a menos de metade da alcançada em 2022. Os pomares foram fortemente afectados pelas condições climatéricas adversas que condicionaram todo o ciclo, desde a diferenciação floral, floração e vingamento do fruto até à maturação, lê-se no comunicado.
Já a produção de kiwi caiu 8%, mas a qualidade dos frutos foi muito boa, evidenciando calibres regulares, com reflexo positivo nos preços.
Com excepção do limão, os citrinos apresentaram uma redução significativa das produções, explicada pela boa produção do ano anterior e pela seca severa, nomeadamente no Algarve, onde houve restrições na utilização de água para rega.
Nas variedades de laranja tardias, o decréscimo foi da ordem dos 50%, contribuindo decisivamente para a diminuição global de 26%.
Pelo terceiro ano consecutivo a produção de castanha, por sua vez, foi condicionada por problemas fitossanitários, agravados pelas secas, com impacto na qualidade e quantidade da produção global colhida, que foi inferior em um terço face à média do último quinquénio, conclui o INE.