Rússia condena jornalista norte-americano a 16 anos de prisão por espionagem

Julgamento à porta fechada de Evan Gershkovich terminou esta sexta-feira com a primeira condenação de um jornalista dos EUA na Rússia desde o fim da Guerra Fria.

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Gershkovich é acusado de tentar recolher informações militares confidenciais pela Rússia Dmitry Chasovitin / REUTERS
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O jornalista norte-americano Evan Gershkovich foi condenado a 16 anos de prisão na Rússia por espionagem num julgamento à porta fechada concluído esta sexta-feira. Os EUA exigem a sua libertação e acusam o Kremlin de querer usar o jornalista como moeda de troca.

O repórter do Wall Street Journal foi detido em Março do ano passado na província de Ecaterimburgo por suspeitas de estar a recolher informações confidenciais relacionadas com as Forças Armadas russas a mando da CIA. Gershkovich e o jornal rejeitaram sempre as acusações que acreditam ser politicamente motivadas.

A acusação pediu uma pena de 18 anos de prisão para o jornalista pelo crime de espionagem, que, segundo a lei russa, pode chegar aos 20 anos. Gershkovich é acusado de ter tentado obter informações acerca de uma fábrica que produz tanques para o Exército russo em Ecaterimburgo. A defesa tem agora 15 dias para recorrer da sentença.

O Presidente dos EUA, Joe Biden, disse que Gershkovich "não cometeu qualquer crime" e foi "visado pelo Governo russo por ser um jornalista e por ser americano". "Jornalismo não é um crime, e iremos continuar com a defesa forte da liberdade de imprensa na Rússia e em todo o mundo, e iremos fazer frente a todos aqueles que procuram atacar a imprensa ou visar jornalistas", acrescentou.

Biden disse ainda não ter "prioridade mais elevada do que trabalhar pela libertação e pelo regresso seguro de Evan, Paul Whelan e todos os americanos detidos de forma irregular e mantidos como reféns no estrangeiro".

A pena de Gershkovich terá de ser cumprida numa prisão de segurança máxima. A última sessão do julgamento estava inicialmente agendada para Agosto, mas, de forma inesperada, foi antecipada.

O Moscow Times sugere que a rapidez com que o caso de Gershkovich foi concluído poderá indicar que o Kremlin está perto de alcançar um acordo com os EUA para uma potencial troca de prisioneiros. Geralmente, Moscovo apenas aceita trocar presos depois de uma condenação em tribunal.

Em Fevereiro, o Presidente russo, Vladimir Putin, mostrou abertura para negociar a libertação do jornalista e de outros cidadãos norte-americanos presos na Rússia no âmbito de negociações com Washington. Não há, porém, notícia de qualquer conversação nesse sentido.

Questionado sobre uma potencial negociação para troca de presos entre os EUA e a Rússia, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, rejeitou fazer qualquer comentário. Entre os presos russos que Moscovo gostaria de ver de regresso ao país está Vadim Krasikov, actualmente a cumprir uma pena de prisão perpétua na Alemanha por ter morto um dissidente tchetcheno-georgiano num parque de Berlim, em 2019.

Desde o final da Guerra Fria que nenhum jornalista norte-americano era preso e condenado por espionagem na Rússia. A detenção de Gershkovich levou muitos dos últimos correspondentes ocidentais na Rússia a abandonarem o país nos últimos tempos.

O Wall Street Journal tem negado todas as acusações e exigido a libertação de Gershkovich, considerando que o processo é uma “farsa”. "Esta condenação vergonhosa e falsa surge depois de Evan ter passado 478 dias na prisão, detido irregularmente, longe da família e dos amigos, impedido de trabalhar, tudo por ter cumprido o seu papel como jornalista", disseram a publisher e a directora do jornal, Alma Latour e Emma Tucker, num comunicado conjunto.

"Iremos continuar a fazer tudo o que for possível para pressionar pela libertação de Evan e no apoio à sua família. O jornalismo não é um crime e não iremos descansar até que seja libertado", acrescentaram.

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