Aeroportos, bancos e empresas a braços com apagão informático global, que também afectou Portugal
Problema estará resolvido, mas efeitos vão prolongar-se. ANA diz que falha informática está a causar “constrangimentos no check-in”.
Dezenas de instituições e serviços de todo o mundo estão paralisados ou fortemente perturbados devido a uma falha informática de um sistema de cibersegurança que está a afectar a utilização do sistema operativo Windows, da Microsoft. Bancos australianos, meios de comunicação social britânicos, companhias aéreas europeias, serviços de saúde, aeroportos e supermercados em todas as latitudes relataram ter sido afectados e não conseguirem aceder aos seus sistemas.
As principais agências estatais de cibersegurança descartaram a possibilidade de se tratar de um ciberataque. De acordo com fontes do sector, incluindo o Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) português, a origem do apagão está numa actualização defeituosa do software Falcon da CrowdStrike, uma empresa norte-americana de cibersegurança. Numa mensagem telefónica pré-gravada na sua linha de suporte técnico, a empresa referiu que "estava ciente dos relatos de falhas no sistema operacional Windows da Microsoft relacionadas com o seu sensor Falcon".
O presidente executivo da CrowdStrike, George Kurtz, assumiu no X (antigo Twitter) a responsabilidade pelo apagão. "Isto não é um incidente de segurança ou um ciberataque", garantiu. "O problema foi identificado, isolado e uma correcção já foi lançada", acrescentou, assegurando que a empresa está "plenamente mobilizada para garantir a segurança e estabilidade" dos seus clientes. Numa entrevista à televisão norte-americana NBC, Kurtz pediu "sinceras desculpas" e informou que, apesar de a falha no software já ter sido corrigida, "pode demorar algum tempo até que certos sistemas" voltem a funcionar normalmente.
Também a Microsoft informou, ao fim da manhã (madrugada nos Estados Unidos), que "a causa subjacente" ao apagão já foi resolvida, mas que ainda pode demorar algum tempo até que a situação esteja normalizada para todos os utilizadores do Windows. Muitos deles estão a deparar com um ecrã azul, conhecido na gíria como BSoD, que corresponde a uma falha crítica. O apagão não afecta quem utiliza sistemas Mac ou Linux.
Os problemas começaram a ser detectados ao fim da tarde de quinta-feira na Costa Leste dos Estados Unidos (cerca da meia-noite em Lisboa).
Aeroportos com problemas
Em Portugal, a ANA, que gere os aeroportos, diz que a falha informática está a causar "constrangimentos no check-in e embarque de alguns voos" e pede aos passageiros que "se informem sobre o estado do seu voo antes de se dirigirem para o aeroporto".
"Algumas companhias aéreas, handlers e empresas do sector estão a ser afectadas devido a uma falha informática. O sistema informático dos aeroportos portugueses não foi afectado directamente. Está a ser avaliado o impacto desta situação, sendo esperados constrangimentos na operação aeroportuária que afectam companhias aéreas e outros aeroportos", refere a ANA numa nota enviada ao PÚBLICO.
Segundo escreve a agência Lusa, a falha informática causou algumas filas nos balcões de check-in do aeroporto de Lisboa, mas os viajantes mantêm a esperança de umas férias sem percalços, apesar dos atrasos nos voos. Ao longo da manhã, o trânsito começou a acumular-se nos acessos ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, com os viajantes a seguir os conselhos das companhias aéreas para se deslocarem para a Portela com antecedência.
Num aeroporto habitualmente muito frequentado, o cenário não diferia muito do normal, pelo menos até à zona da segurança, não fossem os avisos de voos atrasados nos ecrãs e algumas filas longas nos balcões. "Estão a dizer que todos os voos estão com atraso, mas não sabemos quanto tempo ainda", disse Jennifer à Lusa, na fila para o check-in da Transavia, a tentar regressar a casa, "se conseguir", após umas férias em Portugal.
Whiteboards being used at @belfastairport as all the screens are blue. Passenger Martin McElroy took this, and told us that it's like “the dark ages, but to be fair they’re making it work, which you have to give them credit for.” #outage pic.twitter.com/FfSmEHCvuO
— Stephen Murphy (@SMurphyTV) July 19, 2024
Já na fila para o balcão Vueling, Airton desconhecia que havia um problema informático a nível global. "Tive um problema com o voo, estava a fazer o check-in no site da Vueling e não dá", disse.
Com mais sorte parecia estar Alice, prestes a ir de férias para Ibiza, em Espanha, assim que conseguisse passar o obstáculo da fila para despachar as malas. "Mantém-se o horário, já estivemos atentos aos painéis. Fizemos o check-in ontem [quinta-feira], não íamos adivinhar esta situação, mas fizemos o check-in online, esperemos que tudo corra bem", disse Alice.
O hospital Amadora-Sintra relatou alguns problemas aos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, que, segundo a Lusa, estão a avaliar a dimensão da situação e a fazer um levantamento de eventuais situações. O ministério esclareceu mais tarde que a falha no Amadora-Sintra não está relacionada com a falha informática global.
O INEM e o 112 estão a funcionar normalmente, assim como os serviços associados à justiça.
O Centro Nacional de Cibersegurança informa que "está a acompanhar o caso" e que há "no ciberespaço nacional várias organizações afectadas, embora com diferentes graus de impacto". À semelhança das suas congéneres europeias, o CNCS reforça que, "até ao momento, não há evidências que indiquem tratar-se de um acto malicioso".
Caos nos aeroportos e bolsas
Nos EUA, os voos de várias companhias aéreas foram suspensos e o estado norte-americano do Alasca lançou o alerta de que os seus serviços de emergência foram afectados e de que as linhas telefónicas não estão a funcionar correctamente.
A Bolsa de Valores de Londres está entre as instituições afectadas, com o site a exibir os valores da noite passada quando as negociações começaram nesta sexta-feira. O sistema de agendamento de consultas médicas utilizado por clínicos no Reino Unido também não está a funcionar. A Sky News só a meio da manhã conseguiu colocar a sua emissão televisiva no ar, e o serviço de comboios do Reino Unido diz também ter sido afectado, o que estará a causar atrasos nas partidas de dezenas de comboios. Os principais aeroportos de Londres e o porto de Dover estão a sofrer constrangimentos. Em Belfast (ver foto abaixo), uma vez que os ecrãs informativos não funcionam, os horários e informações sobre os voos estão escritos à mão num quadro.
Dois hospitais nas cidades de Lübeck e Kiel, no Norte da Alemanha, cancelaram as operações sem carácter urgente que estavam agendadas para esta sexta-feira, referiram fontes do hospital em comunicado, acrescentando que o atendimento aos doentes e os serviços de emergência continuam a funcionar dentro da normalidade.
Em Espanha, os aeroportos estão a funcionar, mas com atrasos significativos e há relatos de caos em Barcelona e Palma de Maiorca. Em Amesterdão, Edimburgo, Praga e Berlim há dezenas de voos com dificuldades em descolar. O aeroporto de Berlim suspendeu todas as partidas até às 10h devido a uma falha técnica, disse um porta-voz à Reuters. Pouco antes, a operadora do aeroporto tinha avançado que os check-ins estavam a sofrer grandes atrasos devido a uma falha informática.
Também o Aeroporto Schiphol, em Amesterdão, um dos mais movimentados da Europa, referiu estar a ser afectado por uma "indisponibilidade cibernética global". "A interrupção está a ter impacto nos voos de e para Schiphol", disse um porta-voz, acrescentando que ainda não se sabe quantos voos foram afectados. Várias companhias aéreas na Índia, Hong Kong e Japão disseram que também estão a ser afectadas pela falha informática.
A Ryanair, a maior companhia aérea da Europa, fala em "interrupções em toda a sua rede" e pediu aos passageiros que cheguem aos aeroportos três horas antes da partida.
Da América à Oceânia
O site Downdetector, que faz o registo falhas na Internet em tempo real, mostra que algumas operadoras portuguesas, como a Nos e a Meo, estão a registar falhas nos seus serviços que começaram pelas 8h desta sexta-feira. Uma fonte oficial da Vodafone Portugal declarou ao PÚBLICO que "não se verificam perturbações na sua rede, estando todos os parâmetros a funcionar normalmente".
Na Austrália, media, bancos e empresas de telecomunicações estão com os serviços interrompidos. No Aeroporto de Sydney, as informações sobre partidas e chegadas desapareceram dos ecrãs. Num anúncio aos passageiros num dos terminais domésticos, a companhia aérea low-cost Jetstar disse que um “problema com a Microsoft” está a fazer com que não seja possível fazer o check-in de passageiros e iniciar o embarque em vários voos, segundo escreve a BBC. Ainda segundo a emissora britânica, há utilizadores nas redes sociais a dar conta de filas em lojas australianas como a Woolworths, que têm os seus sistemas de pagamento inactivos.
O maior banco da Austrália, o Commonwealth Bank, avançou que alguns clientes não conseguem fazer movimentações de dinheiro devido à interrupção nos serviços. Na Nova Zelândia, um porta-voz do Parlamento disse que os sistemas também foram afectados e a emissora estatal ABC disse que estava a lidar com uma "grande interrupção de rede", sem avançar um motivo para a falha.
De acordo com o Downdetector, desde a noite passada que foram registados picos repentinos de incidentes em vários sites que incluem aplicações da Microsoft.