Da Nova Zelândia a Aveiro. Chloe e Rodney dançam no ar de cadeira de rodas
Espectáculo de dança aérea The Air Between Us é uma das estreias previstas na programação do Festival dos Canais, que arranca nesta quarta-feira. Até domingo, Aveiro será capital das artes de rua.
Dois bailarinos que se vão movimentando desde o chão até uma altura de sete metros, enaltecendo a capacidade de todos os seres humanos poderem viver em simbiose. Dois corpos que, apesar das diferenças – um deles, dependente de uma cadeira de rodas –, se juntam numa dança impressionante. The Air Between Us é o título do espectáculo que os neozelandeses Chloe Loftus e Rodney Bell apresentam, pela primeira vez, em Portugal, nesta quarta e quinta-feira, naquele que é um dos momentos altos do Festival dos Canais, evento que, de hoje até domingo, transforma Aveiro na capital das artes de rua.
No Largo do Rossio, com as águas da ria como pano de fundo, Chloe e Rodney esperam manter aquela que tem sido a reacção generalizada do público, nos vários países por onde têm passado. “Muitas pessoas vêm ter connosco no fim, em lágrimas. Parece tocar o coração das pessoas”, refere Chloe Loftus, que além de intérprete é também criadora de The Air Between Us. Num tempo “de separação e solidão, motivado pela pandemia, e de extremismo a nível político e social”, a coreógrafa e dançarina defende que urge “abertura de espírito e curiosidade” quanto às nossas diferenças. “Com essa curiosidade, podemos efectivamente juntar-nos e celebrar as nossas diferenças”, sustenta.
É o que acontece durante este espectáculo. “O Rodney e eu vimos de diferentes experiências, diferentes culturas, e temos aqui este ponto de encontro”, realça a criadora. E será a deficiência dele sinónimo de um desafio acrescido? “Não. Já levo mais de metade da minha vida como artista”, responde Rodney, notando que o mais importante é que a audiência veja “corpo e dança” na sua actuação – não será o único artista em cadeira de rodas a actuar no Festival dos Canais; a Stopgap Dance Company também se apresentará, no sábado (17h00), com um bailarino em cadeira de rodas.
Ao longo de 20 minutos, os dois bailarinos vão-se movimentando no ar, agarrados a dois cabos, numa operação em que entra um terceiro elemento. “Apesar de o trabalho parecer um dueto, é, na verdade, um trio. Há três pessoas a ‘dançar’ e uma delas é fundamental para a criação e evolução deste trabalho, que é o Greg [Kolbe]”, nota a criadora, destacando o papel do rigger (profissional responsável pela estrutura e sistema de suspensão) nesta performance, que será apresentada em quatro momentos: 17h30 e 19h00, quarta e quinta-feira.
Diferentes artes e vários palcos
Outro dos destaques da programação passa pelo concerto inédito que junta o músico Castello Branco à cantora e compositora Garota Não, à escola Palco Central e ao colectivo Coro Santa Joana – irão subir ao palco do Cais da Fonte Nova nesta quarta-feira, pelas 22h00. Resistência (quinta-feira, às 22h00) e Mariza (domingo, às 19h00) protagonizarão os outros dois grandes concertos da edição deste ano, num cartaz que reserva a noite de sábado para o espectáculo de grande formato Acqua Forte, a phantasmagoria on the water, da companhia francesa Ilotopie (exibição marcada para as 22h00, desde a Antiga Capitania até ao Cais da Fonte Nova). É também sobre a água que irá desfilar a instalação Cygnus, com apresentações diárias, às 21h00, naquele mesmo cais.
No trimestre dedicado, pela Capital Portuguesa da Cultura (Aveiro 2024), ao tema da sustentabilidade, as preocupações ambientais têm lugar cativo na programação, através da apresentação de Sliding Slope, de Hellend Vlak, que “brinca com a ideia de negação, lançando uma questão: quanto mais tempo iremos fazer de conta de que não vemos a subida do nível do mar e as mudanças climáticas?” – para ver sexta, sábado e domingo, pelas 16h00, na Fonte Nova.
O festival volta a oferecer dois dos seus recintos mais emblemáticos: a Sala de eSTAR, equipada com mobiliário doméstico (na Praça da República), e a Funky Beach, uma praia urbana com areia, ambos proporcionando serviços de bar, concertos e DJ (junto ao Museu de Aveiro/Santa Joana). Destaque ainda para o Jardim das Brincadeiras, na Baixa de Santo António, que promete ser um espaço acolhedor e repleto de actividades para crianças e famílias.
Quem também volta a ter presença assegurada é a Fanfarra dos Canais, liderada pela Oficina de Música de Aveiro e que conta com a participação da comunidade – alguns dos seus músicos recrutados através de uma open call. Vai andar a percorrer as ruas da cidade ao longo dos cinco dias, com um concerto final agendado para as 17h30 de domingo.