Aos 39 anos, Modric vai continuar a bater recordes no Real Madrid

Médio que já venceu seis Ligas dos Campeões renovou contrato por uma temporada e assumirá o papel de capitão. Não terá tantos minutos, mas estará sempre próximo dos títulos.

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Luka Modric tem sido uma das referências no meio-campo do Real Madrid na última década KAI PFAFFENBACH / REUTERS
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No dia 30 de Abril deste ano, em Munique, Luka Modric tornou-se no jogador mais velho a representar o Real Madrid na Liga dos Campeões. Nesse jogo das meias-finais da prova, diante do Bayern, o médio croata entrou em campo com 38 anos e 234 dias, batendo o recorde que até então pertencera a Ferenc Puskás (38 anos e 229 dias) e que datava de 1965. Quando a próxima edição da Champions arrancar, em Setembro, Modric estará pronto para ampliar esses números.

Nesta quarta-feira, numa das salas da direcção no Estádio Santiago Bernabéu, Luka Modric e Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, renovaram o contrato por mais um ano, até 2025. Dentro de um mês e meio, aproximadamente, o criativo que ganhou a Bola de Ouro em 2018 entrará na barreira dos 39 anos, um “feito” inédito na história de um clube habituado a consumir grandes futebolistas com a mesma voracidade com que vai conquistando títulos, especialmente na Europa.

“A minha casa. O meu clube. Feliz por continuar a jogar no melhor clube do mundo”, escreveu o jogador nas redes sociais, ao lado de uma foto com a camisola “merengue” e a inscrição 2025 nas costas.

Longe vai o Verão de 2012, quando chegou à capital espanhola pela mão do treinador José Mourinho. Desde então, já passaram 12 temporadas recheadas com 26 títulos: seis Ligas dos Campeões, cinco Mundiais de clubes, quatro Supertaças Europeias, quatro Ligas espanholas, duas Taças do Rei e cinco Supertaças de Espanha. São 534 jogos disputados e 39 golos marcados.

Papel (mais) secundário

O futebol é muitas vezes o momento e a verdade é que o momento mudou ao longo dos últimos meses. Não raras vezes Modric foi ovacionado pelos adeptos do Real Madrid, em diferentes jogos e contextos, numa espécie de homenagem antecipada e faseada a uma das grandes figuras do presente século. Nessa altura, reinava a percepção de que 2023-24 seria a época de despedida do capitão da selecção croata — até porque o adeus de Toni Kroos, outro dos pilares do meio-campo “blanco”, não era um dado adquirido.

Foi ao contrário. O médio alemão arrumou o cacifo, aos 34 anos, e Luka Modric vai continuar no activo, com os 39 à vista. Na cúpula do Real Madrid, terão entendido que perder duas peças fundamentais, pela qualidade e pela experiência, era acelerar em demasia o processo de rejuvenescimento da equipa e optaram por oferecer mais uma época de contrato ao número 10.

É um sinal do peso que Modric tem no balneário e não só — na época passada ainda fez 31 jogos (18 a titular), com seis assistência e dois golos. A tendência, porém, é perder cada vez mais minutos para a concorrência directa, algo que, de resto, já sentiu na pele na última temporada. Já não foi um titular indiscutível, até pela explosão de Jude Bellingham, e teve de aprender a gerir as expectativas de outra forma.

Essa passagem gradual de estatuto, de jogador que comanda as operações dentro do campo — e no Euro 2024 mostrou que ainda pode fazê-lo com arte e critério — para um “senador” cuja condição física terá de ser gerida com pinças em épocas cada vez mais carregadas, foi atestada com a entrega da braçadeira de capitão. Face à saída de Nacho González (mudou-se para a Arábia Saudita), Modric subiu um degrau, de “vice” para capitão, reforçando a sua autoridade junto do grupo.

Propostas rejeitadas

“Quero continuar a jogar porque mereço e não porque mo oferecem. Nunca me deram nada na vida e não vai ser agora”, exclamou recentemente o croata, quando a sua permanência em Madrid era pouco mais do que uma incógnita.

Para merecer jogar com regularidade, porém, terá de fazer frente a nomes como Tchouameni, Camavinga, Valverde, Bellingham, Ceballos ou Arda Güler, todos eles em momentos mais pujantes da carreira.

Mas para o croata pesará mais poder continuar a lutar por títulos importantes, mesmo que um pouco mais na sombra, do que manter o papel de maestro numa Liga secundária. Só assim se entende que tenha rejeitado algumas propostas que chegaram às mãos do empresário, desde o Dínamo Zagreb, que lhe permitiria um regresso a casa pela porta grande, à Liga saudita, que terá tentado seduzi-lo com um contrato de 100 milhões de euros.

Em Madrid, estará sempre em condições de acrescentar mais uns capítulos à lenda que tem construído. Os 534 jogos que disputou com a camisola do Real fazem dele o 14.º jogador mais utilizado da história e cada vez mais próximo de se tornar no segundo estrangeiro que mais vezes vestiu a camisola “blanca” — para isso, terá de ultrapassar ainda o brasileiro Marcelo (546), algo bastante provável, ao contrário do que acontece com o francês Karim Benzema, que soma 648.

No top5 da Liga

Num contexto de cada vez maior longevidade no futebol de alta competição, em que os recordes deixam de ser um “exclusivo” dos guarda-redes, Luka Modric está já entre os cinco futebolistas mais velhos a competirem na Liga espanhola.

A lista é liderada pelo insaciável Joaquín Sánchez, jogador-bandeira do Betis, que em 2023 encerrou a carreira depois de um último encontro com 41 anos e oito meses. Seguem-se três resistentes das balizas, Diego López, Pepe Reina e Claudio Bravo, e logo a seguir surge Modric e o seu futebol-arte.

“Ele continua tão ambicioso como sempre. Não é o tipo de pessoa que descansa, que faz pausas, que falte a jogos. É um exemplo para todos”, descreveu Zlatko Dalic, seleccionador da Croácia, antes do arranque do Euro 2024. No torneio, Modric foi o elemento da Croácia com mais dribles (nove), o segundo com mais remates (cinco) e o responsável pelas bolas paradas. E em tempo de utilização, foi o quinto.

“É o melhor jogador croata de sempre”, insistiu Dalic. “Corporiza um verdadeiro atleta. É alguém que todos precisam de admirar e com quem podem aprender. Quando Luka está por perto, são todos melhores jogadores”.

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