Tornados nos cinemas: o regresso do mau tempo

Havia necessidade de “refazer” Tornado? Não. Mas, já que se fez, pelo menos fez-se decentemente.

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O filme Tornados estreia-se esta quinta-feira nas salas de cinema portuguesas
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Para quem não se recorda (que isto já foi há quase 30 anos, em 1996): Tornado foi e continua a ser uma das mais vertiginosas ficções de emoção que Hollywood fez na "era Spielberg", uma montanha-russa onde tudo estava no sítio certo para funcionar e mesmo assim ultrapassava as expectativas. Michael Crichton (Parque Jurássico, Serviço de Urgência) no argumento, Steven Spielberg na produção, o holandês Jan de Bont (Speed) por trás da câmara, Helen Hunt e Bill Paxton no papel de um ex-casal de meteorologistas numa comédia do recasamento escondida por trás de um filme de acção maximalista como era de bom-tom nesses anos 1990 em que ainda se sabia fazer blockbusters.

Porquê, então, actualizar o original para os nossos dias de alterações climáticas? Porque hoje há mais tornados do que nunca na heartland americana, e porque é preciso sensibilizar as pessoas para a ciência como algo que as pode ajudar? Não, na verdade é porque Hollywood já parece ter perdido a vontade de ter ideias originais. Mas, já que houve vontade de fazer um Tornado para o século XXI, pelo menos houve o bom senso de não fazer um remake directo, preferindo, em vez disso, reutilizar a matriz com outras personagens e outras motivações.

Lee Isaac Chung (Minari) não é um cineasta da acção, mas dirige-a funcionalmente, preferindo construir um andaime sólido para tudo o que se passa no filme, mas arriscando muito pouco (definitivamente, esta nova geração de americanos vindos da independência não tem grande jeito uma vez subida de patamar). Ainda assim, aponte-se a sensação de espaço, de "estar em casa", que Chung consegue a espaços, e destaque-se uma cena (menos significativa do que quer ser, mas mais profunda do que parece) em que um tornado devasta uma sala de cinema. Daisy Edgar-Jones e Glen Powell têm química por tudo quanto é sítio, e é um prazer vê-los a brincar à comédia romântica, mesmo que a coisa se fique muito pela rama.

E esse é o problema maior de Tornados: ficar pela rama. É um filme que está sempre a evocar memórias de outro (e melhor) cinema, sabendo que não tem unhas para o alcançar, alternando entre tentar sinceramente lá chegar e comprazer-se no que sabe fazer. Isso limita-o a ser entretenimento funcional, honesto, bem feito, e que não mancha a memória do original, mas descartável. E ficamos com esta por trás da orelha: e se tivessem posto isto, por exemplo, nas mãos de Richard Linklater?

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