Autárquicas: “Dificilmente” será com o PS, mas PCP está disponível para “convergir”
Paulo Raimundo admite que o projecto autárquico da CDU “não está livre de avaliação” e está disponível para “convergir para dar resposta aos problemas das populações”.
O PCP voltou a colocar de parte uma aliança à esquerda em Lisboa que envolva o PS, nas eleições autárquicas de 2025. Mas, suavizando o discurso, admite que o projecto autárquico da CDU "não está livre de avaliação" e mostra-se mesmo disponível para "convergir" com outras forças de esquerda e "para resolver os problemas das pessoas". Por enquanto, o Livre, que pediu para reunir-se com os comunistas, coloca o foco em encontrar "soluções programáticas".
Após uma reunião entre os dois partidos na sede nacional do PCP, Paulo Raimundo salientou que transmitiu ao Livre que a CDU tem "um projecto autárquico distinto de todas as outras forças", nomeadamente, no que toca à "preservação da água como bem público" ou dos "serviços públicos". E, defendendo que é esse projecto "alternativo" e de "ruptura" que o PCP "quer implementar", o líder dos comunistas considerou que existe um "problema" em fazer uma aliança com o PS: é que "não há grandes diferenças" de "gestão autárquica entre o PS e o PSD".
"O PS (...) não é alternativa. Dificilmente se pode contar com o PS para ter respostas ao nível autárquico de combate à política de direita", afirmou, dando o exemplo de Lisboa, onde defende que uma alternativa "não é possível com a gestão autárquica do PSD" nem "com a gestão autárquica anterior do PS". "Não é com um nem com outro, nem por um nem por outro, que nós lá vamos", declarou.
Depois de ter defendido que uma coligação com o PS "não terá nenhuma possibilidade", Raimundo reitera que "para prosseguir a política errada", o PS não pode contar com o PCP — "alimentar ilusões e falsas saídas não". Mas "para resolver os problemas das populações" já diz estar de "corpo inteiro, como sempre".
Questionado sobre uma eventual coligação de esquerda em Lisboa que não incluísse o PS, Paulo Raimundo admite que o programa da CDU "não está livre de avaliação, de reformulação, de melhoramento" e garante que os comunistas serão "os primeiros a convergir para dar resposta aos problemas das populações, que é isso que compete ao poder local democrático".
"Isso é uma evidência: nunca foi por falta de vontade do PCP e da CDU que não houve resposta aos problemas das populações", afirmou, mostrando-se "aberto a contribuições de outros".
Foco nas "soluções programáticas"
Por sua vez, a líder parlamentar do Livre, Isabel Mendes Lopes, referiu que, na reunião com o PCP, foi abordada "a importância das autárquicas", tendo ficado acordado que os dois partidos vão continuar "a conversar e a encontrar soluções, sobretudo programáticas, para todo o país".
Interrogada se isso significa que não ficou nenhuma porta fechada a eventuais entendimentos autárquicos, a deputada do Livre respondeu: "O objectivo desta reunião era ser sobretudo uma continuidade de uma conversa que já vem de trás, mas sobretudo o seu aprofundamento".
Segundo Isabel Mendes Lopes, a reunião com o PCP foi "de análise da situação política nacional" e da "importância de os partidos conversarem, aprofundarem os seus programas e as suas políticas de convergência para conseguirem melhorar a vida das pessoas e a qualidade de vida no país".
Esses foram, de acordo com a líder parlamentar, "os grandes pontos de convergência" entre os dois partidos. Além da necessidade de "encontrar soluções para o fazer através — e isso é uma convergência clara — de políticas mais à esquerda, progressistas e ecologistas", referiu, salientando que o Livre defende que se encontrem "pontos de convergência tanto a nível programático, como em futuras configurações" com outros partidos.
Já Raimundo salientou que a reunião se centrou na troca de "opiniões sobre a situação política e social", tendo havido uma convergência "muito clara" em questões como o aumento dos salários e das pensões e o acesso à saúde e à habitação, assim como na ideia de que a Constituição da República deve ser um "elemento político estruturante da convergência que temos e que se impõe para o país".
"É preciso romper com este caminho e abrir com um caminho novo que dê resposta aos problemas da maioria e não de uma pequena maioria. Como se já fosse pouco, aí estão novos planos para que os grupos económicos voltem a encher à custa de quem trabalha e da exploração. É neste sentido, de combate a esta injustiça e à desigualdade, que temos de convergir e penso que foi reafirmado essa vontade de convergir", afirmou.