Autárquicas: Livre quer “incentivar” diálogo e inclui PAN na procura de “soluções”
Rui Tavares assinala que “há uma natureza periódica destas reuniões que é para manter” e que “todos” os partidos “têm demonstrado a vontade” de voltar a reunir-se “daqui a uns meses”.
O Livre e o PAN mostraram-se esta terça-feira abertos a convergências para impedir “retrocessos” de direitos, tendo em conta o crescimento da extrema-direita, e Rui Tavares assumiu mesmo que quer encontrar “soluções” para as autárquicas de 2025. Mas, no que toca a alianças, Inês de Sousa Real remete a decisão sobre as eleições locais para os órgãos internos e considera “precipitado” falar de uma frente de esquerda em eventuais eleições legislativas.
Após uma reunião de cerca de uma hora na sede do Livre, Rui Tavares defendeu que, “neste momento de grande incerteza e até ingovernabilidade”, os partidos de esquerda e ecologistas devem “fazer um ponto da situação política” e “projectar acções convergentes futuras”. E admitiu que essas acções passam pelas eleições autárquicas.
O co-porta-voz do partido defendeu que em autarquias como a de Lisboa “tem havido uma negligência muito grave” em relação às questões da habitação, da mobilidade e da saúde e declarou que quer “ouvir os partidos” e a “sociedade civil” para se “preparar bem para dar a resposta a estas necessidades, tendo em conta que vamos ter eleições autárquicas em 2025”.
Questionado sobre se defende que a esquerda deve formar uma coligação em Lisboa, Rui Tavares garantiu que o Livre “dinamiza e, de certa forma, procura incentivar esse debate de convergência à esquerda, alargada no caso do PAN”. Isto, porque, embora não se identifique como um partido de esquerda nem de direita, o PAN tem “afinidades na área da ecologia, do ambiente e do bem-estar animal” com o Livre.
“Essas sobreposições são suficientemente importantes para que também devesse ser incluído nestes contactos exploratórios e, evidentemente, que não deva ser excluído em procuras de soluções que sejam importantes ao nível local”, explicou.
Quanto a timings futuros, Rui Tavares salientou que “as coisas demoram muito para dar frutos”, sendo agora o tempo de perceber “entre partidos quais é que são os calendários, as metodologias, que contactos se fazem, internos e externos, para a preparação dessas candidaturas”. Mas assegurou que “há uma natureza periódica destas reuniões que é para manter”: “Todos têm demonstrado a vontade de voltarmos a fazer isto daqui a uns meses.”
Mais do que preparar as autárquicas, contudo, Rui Tavares assinala que é “muito positivo concertar posições” sobre as “principais preocupações com o nosso país”, que se prendem com a “ingovernabilidade”, mas também com a “regressão no espaço público, em termos do discurso político, de determinados valores” e “de estar sob ataque da extrema-direita populista o próprio Estado de direito, a democracia e os direitos fundamentais”.
E referiu ainda que quer olhar para a situação política portuguesa e europeia nas reuniões com o PS e o PCP para “avaliar” os resultados das eleições em França, onde a Nova Frente Popular de esquerda venceu, algo que o Livre vê “como um sinal de esperança para a política europeia”.
Um “travão” à extrema-direita
Do lado do PAN, Inês de Sousa Real retribuiu a vontade de diálogo. “Estamos disponíveis para dialogar, estamos disponíveis para conversar, para perceber de que forma é que podemos cooperar, até mesmo naquilo que são as iniciativas na Assembleia da República e garantir que a extrema-direita encontra um travão naquilo que é o compromisso por parte das forças políticas moderadas”, afirmou a líder do partido aos jornalistas.
Sousa Real indicou que quer assegurar que, “em Portugal, à semelhança do que aconteceu na França, não há retrocessos em matéria de direitos humanos e direitos fundamentais”, tendo dado como exemplos os direitos das mulheres ou da comunidade LGBTI, mas também que quer encontrar “pontos de convergência com as demais forças políticas” sobre a “crise climática” e as “preocupações sociais”.
Já quanto a decisões concretas sobre alianças eleitorais, adianta que “os próximos desafios, inclusive eleitorais”, serão decididos pelos “órgãos internos”. E considera “precipitado [falar-se] em cenários como o cenário francês, até porque Portugal não tem a mesma geometria parlamentar”, observando que “a responsabilidade” de viabilizar o Orçamento do Estado “não recai” sobre o PAN. O “fundamental a este tempo é garantirmos que há um conjunto de direitos que não têm retrocessos”, vincou.
O encontro entre os dois partidos decorre depois de o Livre ter convidado os partidos de esquerda e progressistas (PS, BE, PCP e PAN) para analisar os resultados das eleições europeias e pensar as próximas eleições autárquicas. A próxima reunião é com o PCP e decorre no dia 15 de Julho.