María Corina Machado, a candidata afastada que arrasta multidões na Venezuela
É o rosto da oposição nestas eleições, apesar de não ser a candidata oficial, e um fenómeno eleitoral já comparado a Chávez em 1998. A nova Guaidó aposta no regresso de milhões de emigrantes ao país.
Na rede social X, María Corina Machado, o principal rosto da oposição ao regime de Maduro, apresenta-se assim: “Venezuelana, mamã de três, engenheira e liberal. Candidata presidencial. Só concebo a minha vida na Venezuela e em Liberdade.” Não é a candidata oficial, mas é por ela que as ruas gritam quando chega a qualquer localidade, rodeada de um escudo de motociclistas que a anunciam e protegem.
O El País chama-lhe “o fenómeno eleitoral mais esmagador na Venezuela desde Chávez em 1998”, a revista brasileira Fórum diz que é a “nova Guaidó” e uma reportagem do El Colombiano escreve que “antes de todas as viagens de campanha de Machado, as ruas da Venezuela parecem cheias de um espírito diferente e de um sentimento de que nestas eleições será alcançada a vitória da oposição e, consequentemente, de outro modelo económico e político”.
Nas ruas, como nas sondagens, a candidatura do Vamos Venezuela, partido que fundou em 2012, parece imparável. Nas redes sociais, María Corina Machado vai fazendo a contagem decrescente para as eleições, com vídeos mais ou menos elaborados mas uma mensagem principal simples e emocional: trazer de volta ao país os 7,7 milhões de venezuelanos (contabilizados pela Reuters) que “fugiram do país durante os anos de convulsão económica e política”. “María Corina, quero abraçar o meu pai de novo”, lia-se num pequeno papel nas mãos de uma menina à beira de uma rua onde a não candidata passava, segundo a reportagem do El Colombiano.
María Corina Machado, de 56 anos, tem percorrido o país ao lado de Edmundo González, o candidato cujo nome consta do boletim de voto depois de o Supremo Tribunal Federal ter impedido a candidatura de Machado por estar impedida de exercer cargos públicos durante 15 anos. A sentença diz que infringiu a Constituição ao acumular o mandato de deputada com o de “representante alternativa da delegação da República do Panamá na Organização dos Estados Americanos”, em 2014, e ter ajudado a articular o apoio internacional ao autoproclamado presidente Juan Guaidó, inclusive sanções económicas internacionais contra a Venezuela.
Mas Corina não desistiu. “Nenhuma mulher neste país voltará a baixar a cabeça por causa de um saco de aplausos”, declarou Machado num comício na cidade andina de Mérida, referindo-se à bolsa de alimentação a que os mais pobres têm direito, mas que não trava a fome no país. “Este regime já está derrotado. Os nossos filhos retornarão à Venezuela, vamos reunir-nos com os nossos familiares e reconstruiremos o nosso país. Não tenham dúvidas, vamos vencer.”
Considerada próxima de Washington – chegou a ser recebida na Sala Oval por George W. Bush, em 2005, pelo trabalho da sua ONG Súmate –, a liberal sempre cultivou um discurso abertamente anticomunista, defende a privatização de centenas de empresas e quer aplicar as receitas capitalistas, o que a ajudou a angariar muitos seguidores da diáspora venezuelana.
Nas redes sociais, os seus pontos de vista são defendidos pelos chamados “MAGAzuelanos” e por vezes é vista como a expressão da “extrema-direita” do país, o que ela rejeita, afirmando-se antes “radicalmente liberal” e ideologicamente ao centro. De facto, o seu discurso não tem laivos religiosos, não fomenta preconceitos nem estigmatiza minorias, muito menos utiliza argumentos conservadores no campo social, ainda que alguns dos seus seguidores o façam.
Como disse numa entrevista ao El Estímulo em Março de 2023, o que pretende é acabar com o socialismo na Venezuela e pôr em prática o programa liberal do seu partido. “O meu objectivo é tirar Maduro e o regime de Miraflores [palácio presidencial] para poder tornar realidade tudo o que sonhamos”, disse. Tendo em conta as últimas sondagens, esse dia está mais perto que nunca.