O jovem François Letexier não contava apitar a final do Euro 2024

Oficial de justiça francês será o mais jovem de sempre a dirigir uma final de um Campeonato da Europa. E diz-se preparado para “esperar o inesperado”.

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François Letexier no jogo Sérvia-Dinamarca, em Munique Michaela Stache / REUTERS
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Há dias, François Letexier recebeu um telefonema de Roberto Rosetti, director de arbitragem da UEFA, com uma pergunta nestes moldes: "Estás à espera de alguma coisa?". Alguma coisa, neste caso, seria uma nomeação, claro está. Ora, tendo em conta que estamos nos últimos capítulos do Euro 2024 e que o árbitro francês não tem nenhuma final deste calibre no currículo, a resposta foi não. Se não estava à espera, agora já está.

Letexier foi o árbitro escolhido para apitar a final do Campeonato da Europa que termina neste domingo, no Estádio Olímpico de Berlim, com um embate entre Espanha e Inglaterra (20h). Aos 35 anos, vai viver o momento mais alto da carreira. Aos 35 anos, tornar-se-á também no mais jovem de sempre a dirigir o encontro de atribuição do troféu nesta competição.

Num campeonato que nos tem brindado com a emancipação de talentos precoces com o de Lamine Yamal ou com a confirmação de outros, como Jamal Musiala ou Arda Guler, por exemplo, a arbitragem também é bem-vinda a bordo da carruagem da juventude. Independentemente da idade, o árbitro nascido na pequena localidade de Bédée, na Bretanha, encara a nomeação com orgulho e responsabilidade.

"Claro que é uma grande honra e satisfação ser escolhido para este jogo. Foi uma surpresa, porque tenho procurado apenas manter-me concentrado, dia após dia, ao longo do torneio e não estava à espera de algo tão grandioso", confessou, ao site da UEFA.

Quarto árbitro no jogo inaugural

Letexier entrou logo em acção no jogo inaugural, em Munique. Nesse Alemanha-Escócia, desempenhou a função de quarto árbitro e confessa que a experiência foi importante numa perspectiva de aclimatação. "Num torneio destes, há tantos aspectos diferentes de um jogo normal ou de um campeonato, por isso, ter sido quarto árbitro foi positivo. A pressão reduziu-se um pouco e pude ver como tudo funciona. Isso ajudou-se a controlar as emoções".

Como é evidente, e apesar dos 35 anos, o juiz francês está longe de ser um novato nestas andanças. Em matéria de finais, apitou há semanas a da Taça de França (e já o tinha feito também na edição de 2020-21), bem como a Supertaça Europeia da época passada e a final da UEFA Youth League em 2018-19 - curiosamente, um jogo em que o FC Porto venceu o Chelsea, por 3-1, arrebatando o troféu. Agora, sobe mais um degrau.

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Com o seleccionador Zlatko Dalic, no Croácia-Albânia

"Foi uma conversa rápida", apontou, a respeito do telefonema de Rosetti. "Ele foi directo ao assunto. Perguntou-me se eu estava à espera de alguma coisa, eu respondi que não e ele disse-me logo que eu iria apitar a final. Foi isso". Poucas palavras para muita responsabilidade, para uma missão tão marcante. Tão gratificante, na verdade, que Letexier se apressou a informar os assistentes, Cyril Mugnier e Mehdi Rahmouni.

Foi com eles que dirigiu, já na Alemanha, os jogos da fase de grupos entre Croácia e Albânia (2-2) e entre Dinamarca e Sérvia (0-0), bem como o encontro entre Espanha e Geórgia (4-1) relativo aos oitavos-de-final. E tem sido com eles que tem feito esta caminhada na alta-roda do futebol, a partir de França e irradiando para o resto do mundo. "Fiquei contente e surpreendido ao mesmo tempo e cheio de pressa de partilhar a notícia com os meus assistentes. É uma recompensa para a equipa. Trabalhamos juntos há oito anos e temos uma longa história", assinalou.

Árbitro e... oficial de justiça

Pai de uma criança de três anos, terá posteriormente de explicar melhor ao filho a importância do acontecimento. Para já, Letexier quer concentrar-se no jogo, em todas as suas dimensões. "É um evento enorme, muito emotivo para os jogadores e para os adeptos, por isso temos de esperar o inesperado". Isto do ponto de vista do controlo das operações, porque fisicamente a preparação tem vindo a ser feita regularmente com os preparadores físicos da UEFA ao longo do último mês.

Para quem começou na arbitragem aos 14 anos, é um salto qualitativo e tanto... O primeiro jogo no principal escalão francês chegou em 2016, um ano antes de assegurar o estatuto de árbitro internacional, na qualificação para o Europeu de sub19, num Suécia-Bélgica. A partir daí, tem sido sempre a subir - e neste trajecto teremos de incluir o papel de quarto árbitro desempenhado no passado dia 1 de Junho, na final da Liga dos Campeões, entre Borussia Dortmund e Real Madrid (0-2).

Mesmo conjugando a função de árbitro de elite com a de oficial de justiça, Letexier tem conseguido afirmar-se sustentadamente no futebol. Com a ajuda de muita gente desde que colocou o apito ao peito pela primeira vez, naturalmente, mas com Bertrand Layec à cabeça. Um mentor, alguém que acreditou no seu potencial quando nem ele próprio era capaz de o vislumbrar, alguém que lhe fez subir os níveis de auto-confiança.

Para chegar a este nível, a auto-estima é decisiva, bem como a preparação detalhada para cada jogo. E é isso que o francês e a sua equipa têm feito nos últimos dias. "O aspecto táctico, vamos olhar para as equipas e para a forma como devemos adaptar o nosso posicionamento. As pessoas podem não saber, mas preparamo-nos para antecipar uma série de cenários, para que possamos estar prontos para dirigir o jogo". E esta é uma daquelas oportunidades que não se podem desperdiçar.

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