Pelo menos 29 mortos num ataque israelita a um acampamento em Khan Younis

Os ataques ocorreram na noite desta terça-feira. Na Cidade de Gaza, o ataque israelita continua a avançar no centro da cidade.

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O ataque em Khan Younis matou cerca de 30 pessoas num acampamento de deslocados à porta do hospital Hatem Khaled / REUTERS
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Autoridades palestinianas disseram que um ataque aéreo israelita no Sul da Faixa de Gaza matou pelo menos 29 pessoas nesta terça-feira, enquanto o avanço dos tanques na Cidade de Gaza forçou os residentes a fugir debaixo fogo nos últimos dias. As últimas ofensivas, segundo o Hamas, podem prejudicar as conversações pela paz.

O ataque aéreo atingiu as tendas das famílias deslocadas à porta de uma escola na cidade de Abassan, a leste de Khan Younis, no Sul de Gaza, onde se realizava um jogo de futebol. Este ataque matou pelo menos 29 pessoas, a maioria das quais mulheres e crianças, segundo responsáveis médicos palestinianos.

As forças armadas israelitas afirmaram estar a analisar as informações de que houve feridos entre os civis. O incidente, segundo as autoridades de Israel, ocorreu quando foi atingido com "munições precisas" um combatente do Hamas que participou no ataque de 7 de Outubro a Israel que deu origem ao ataque israelita a Gaza como resposta.

Na quarta-feira, as forças israelitas aprofundaram a sua incursão em dois bairros da Cidade de Gaza. Os soldados efectuaram buscas de casa em casa em algumas zonas e os tanques bombardearam várias casas, segundo os residentes.

As forças israelitas patrulharam a estrada principal para a costa, franco-atiradores ocuparam os telhados de alguns edifícios altos ainda de pé e tanques foram estacionados dentro da sede da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA), disseram os residentes.

Os militares israelitas afirmaram, em comunicado, que as suas forças continuavam as operações na cidade de Gaza contra os militantes do Hamas e da sua aliada Jihad Islâmica, que, segundo eles, operavam a partir do interior das instalações da UNRWA, utilizando-as como base para ataques.

"Depois de ter sido aberto um corredor definido para facilitar a retirada dos civis da zona, as tropas das IDF (exército israelita) efectuaram uma incursão direccionada contra a estrutura, eliminaram os terroristas em combate corpo a corpo e localizaram grandes quantidades de armas na zona", referiram os militares.

Na terça-feira, Ismail Al-Thawabta, director do gabinete de imprensa do governo de Gaza, dirigido pelo Hamas, tinha dito que os ataques israelitas nas zonas centrais de Gaza mataram 60 palestinianos e feriram dezenas de outros.

Os residentes na região contaram que os tanques israelitas que entraram na terça nos bairros de Tel Al-Hawa, Shejaia e Sabra, na Cidade de Gaza, bombardearam estradas e edifícios e obrigaram as pessoas a fugir das suas casas. Seguiram-se ordens militares israelitas de evacuação de vários bairros das partes oriental e ocidental da Cidade de Gaza, publicadas nas redes sociais, que incluíam estes bairros.

"Consideramos a ocupação e a administração dos EUA responsáveis pelos horríveis massacres contra civis", afirmou Thawabta num comunicado.

O Crescente Vermelho palestiniano afirmou nas primeiras horas desta quarta-feira no Facebook que as suas equipas receberam dezenas de pedidos de ajuda humanitária da cidade de Gaza mas que não puderam ajudar devido à intensidade dos bombardeamentos.

"As informações provenientes da cidade de Gaza mostram que os residentes estão a viver em condições trágicas. As forças de ocupação (israelitas) continuam a atingir bairros residenciais e a deslocar as pessoas das suas casas e dos seus refúgios", disse a organização em comunicado.

Na linha da frente da cidade de Gaza, os braços armados do Hamas e da Jihad Islâmica contaram que os seus combatentes lutaram contra as forças israelitas com metralhadoras, morteiros e mísseis antitanque, tendo matado e ferido soldados israelitas.

Os últimos combates ocorreram numa altura em que altos responsáveis norte-americanos se encontravam na região para pressionar um cessar-fogo, depois de o Hamas ter feito concessões na semana passada. Mas a campanha renovada de Israel ameaçou as conversações num momento crucial e poderia levar as negociações "de volta à estaca zero", disse o líder do Hamas, Ismail Haniyeh.

Sobre a Cidade de Gaza, foram lançados panfletos vindos das forças de Israel com um mapa que assinala as "rotas seguras" para a evacuação de toda a cidade e não apenas de alguns bairros. Os folhetos israelitas pedem aos civis para se dirigirem para sul ao longo de duas rotas para o centro da Faixa de Gaza.

"A Cidade de Gaza está a ser arrasada. É isto que está a acontecer. Israel está a obrigar-nos a abandonar as nossas casa debaixo de fogo", disse Um Tamer, mãe de sete filhos, à Reuters através de uma aplicação de chat.

É a sétima vez que a sua família foge da sua casa na Cidade de Gaza, no norte do enclave e um dos primeiros alvos de Israel no início da guerra, em Outubro.

"Não aguentamos mais, chega de morte e humilhação, acabem com a guerra agora", disse.

O Crescente Vermelho palestiniano afirmou que todas as suas clínicas médicas estavam fora de serviço na Cidade de Gaza devido às ordens de evacuação israelitas que levaram milhares de pessoas para oeste, para o Mediterrâneo e para sul.

Fome na Faixa de Gaza

Nove meses de guerra e de deslocações provocaram uma crise de fome e a recente morte de várias crianças por desnutrição na Faixa de Gaza indica que a fome se espalhou pelo enclave costeiro, segundo um grupo de peritos independentes em direitos humanos mandatados pelas Nações Unidas.

No hospital de Khan Younis, a palestiniana Ghaneyma Jomat disse à Reuters que temia que o seu filho morresse à fome.

"É angustiante ver o meu filho... Ali deitado, a morrer de desnutrição, porque não lhe posso dar nada por causa da guerra, do encerramento das passagens e da água contaminada", disse ela, sentada no chão, ao lado do filho imóvel, que tinha um cateter intravenoso ligado ao pulso.

Em toda a Faixa de Gaza, mais de 40 palestinianos foram mortos na terça-feira em ataques aéreos israelitas na Cidade de Gaza, no norte, em Al-Bureij, Deir Al-Balah e Al-Nuseirat, no centro de Gaza, e em Rafah, no sul, segundo os médicos.

O número total de mortos palestinianos durante a ofensiva militar israelita, que durou nove meses, atingiu os 38.243, segundo as autoridades de saúde de Gaza na sua última actualização.

As esperanças entre os habitantes de Gaza de uma pausa nos combates renasceram depois de o Hamas ter aceitado, na semana passada, uma parte fundamental de uma proposta de cessar-fogo dos EUA. Os mediadores do Qatar e do Egipto, apoiados pelos Estados Unidos, aceleraram os esforços nesta semana e as conversações serão retomadas em Doha na quarta-feira, disseram os meios de comunicação social estatais do Egipto.