Volta ao Parlamento a discussão sobre o encerramento do comércio ao domingo e feriados. O tema que será abordado na Assembleia veio pela mão de um conjunto de cidadãos através de uma petição que ultrapassou as 20 mil assinaturas, o que obriga os deputados a debaterem a questão.
Em grande parte dos países da UE as grandes superfícies comerciais estão encerradas ao domingo. Por cá, criou-se o hábito de as manter em funcionamento, o que provoca uma grande instabilidade nos funcionários que, por razões óbvias, não conseguem, em especial ao fim-de-semana, passar tempo de qualidade com a família.
A ideia de disponibilizar o comércio ao domingo em favor do consumidor é uma mera questão de hábito (até cultural) e a desculpa de necessidade não colhe, na minha opinião, argumentos válidos. O consumidor cria hábitos conforme o mercado e as regras e não podemos equiparar os funcionários do comércio com outras profissões que, pela sua natureza, são necessárias ao fim-de-semana.
A questão essencial na defesa do fecho do comércio ao domingo prender-se-á com a qualidade de vida dos funcionários. Porém, nesta discussão há outra razão que devemos tomar em grande consideração: se a medida de fecho do comércio ao domingo for uma realidade, até que ponto o comércio poderá alegar a dispensa de funcionários com a putativa quebra de vendas? Não haverá aqui uma possível escapatória para que alguém se aproveite deste facto e cause despedimentos?
É certo que haverá uma possível mudança de paradigma na receita devido ao encerramento ao domingo, mas creio que ninguém vai falir por causa disso. O consumidor não vai deixar de fazer as suas compras só porque ao domingo o comércio está encerrado. Entendo que essa possível justificação possa ser uma verdadeira falácia. De qualquer forma, é de extrema importância que ao domingo o comércio encerre e daí não virá mal ao mundo. O consumidor habituar-se-á às regras.
Quando muito se debate a qualidade de vida e o tempo que se deve ter para aproveitar com os restantes elementos da família é importante perceber que milhares de portugueses estão impedidos de tornar a sua vida um pouco melhor.
Esta discussão já tem barbas e nasce no governo de António Guterres que proibiu que as grandes superfícies estivessem abertas todo o dia ao domingo permitindo só a abertura de manhã. Sócrates desmancha o camarada Guterres e volta a permitir o comércio durante o domingo todo.
Ora, voltando agora ao Parlamento o tema, não por iniciativa política mas sim por iniciativa popular, o tema parece ser importante numa sociedade que se quer mais justa e mais equilibrada, o que só se consegue quando a vida profissional se pode alinhar com a vida familiar. Coisa que nos centros comerciais não existe.
Esta questão não é nem deve ser política, não é uma questão de esquerda nem de direita, é simplesmente uma questão de hábitos a cultivar em que ninguém perde. É certo que somos ligeiramente adversos à mudança, mas convenhamos, é só um tema que envolve uma mudança de hábitos que por todos deve compreendida.
Não tenham medo que os consumidores são inteligentes e fazem as suas compras de acordo com as regras e horários que são possíveis, como até aqui. Podem passar a não ir ao domingo, só isso.