Não estamos atrás em tudo. Os meus familiares americanos sempre elogiaram a quantidade de coisas que podemos fazer numa caixa multibanco em Portugal, como carregar o passe ou pagar contas, impostos e multas. Ou a quantidade de coisas que podemos fazer com a Via Verde para além de pagar portagens, como o estacionamento ou abastecimento de combustível.
Ou o IRS que é automático, ou é razoavelmente fácil de preencher e submeter gratuitamente no site das Finanças, por oposição a todo o intrincado e caro processo de declarar rendimentos e pagar impostos nos Estados Unidos.
Também não estamos à frente em tudo. A experiência de comprar online nos Estados Unidos, desde as compras do dia-a-dia a qualquer engenhoca tecnológica, muitas vezes entregues no espaço de horas à porta de casa, está a anos-luz do mau serviço das empresas de entregas em Portugal. Outras avanços incríveis da nação americana: as empresas e serviços respondem a emails em tempo útil e os electricistas e canalizadores tendem a aparecer à hora marcada.
E depois há o assim-assim. Onde estou, em Burlington, Vermont, a recolha do lixo comum está nas mãos dos privados. O morador escolhe uma das várias empresas no mercado, cada uma com os seus caixotes e camiões, e paga umas dezenas de dólares por mês pela recolha do lixo, uma vez por semana. A reciclagem é grátis, e é recolhida pelo município, também semanalmente. O lixo orgânico, por lei, deve ir para a compostagem, para os pequenos contentores onde os restos de comida são transformados em adubo, nos quintais, varandas ou cozinhas de cada morador. Não que se saiba que alguém tenha alguma vez sido multado por atirar uma casca de banana para o contentor do lixo comum.
A coisa funciona razoavelmente bem: a recolha semanal é suficiente para uma família normal e não se vê lixo nas ruas de Burlington nem os amontoados de cartões e de cacos de vidro que enfeitam as imediações dos ecopontos portugueses. E a coisa repete-se, regra geral, pelas restantes cidades americanas. Com uma grande excepção: Nova Iorque.
"Bem-vindos à nossa revolução do lixo", anunciou hoje o mayor da cidade de Nova Iorque. Falaria Eric Adams de drones a recolher resíduos? De algum sistema automatizado de tubos subterrâneos a levar o lixo das casas e comércios para o seu destino final?
Não. Em 2024, a grande "revolução do lixo" em Nova Iorque passa por, finalmente, disponibilizar contentores para o lixo comum, a reciclagem e a compostagem.
Os contentores vêm substituir os sacos de lixo que são atirados directamente para os passeios da cidade, e que potenciam as recorrentes e conhecidas pragas de ratos e baratas. Há muitos edifícios residenciais e comerciais que já utilizam contentores por iniciativa própria, mas a regra ainda é o saco.
Até Novembro, o município quer que todos edifícios adoptem o caixote do lixo oficial da cidade. Segue-se um período de graça até Janeiro, quando irá começar a ser multado o recurso aos sacos no passeio.
Mais de meio século depois de a América levar um homem à Lua, Nova Iorque coloca o lixo no contentor. Não é um salto gigante para a humanidade, mas é um pequeno passo para a salubridade.