Racismo da Polícia Militar do Rio de Janeiro provoca incidente diplomático no Brasil

Três adolescentes negros foram alvo de tratamento violento por agentes só porque estavam na rua num bairro de Ipanema. Embaixadas do Gabão, Canadá e Burkina Faso informaram os respectivos governos.

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A Polícia Militar do Rio de Janeiro informou em nota que os agentes envolvidos na acção tinham câmaras corporais e as imagens serão analisadas para verificar se houve excesso Tânia Rego/Agência Brasil
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A abordagem violenta de agentes da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro a três adolescentes negros no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro, causou um incidente diplomático, já que os jovens, com idades entre 13 e 14 anos, são filhos de diplomatas acreditados em Brasília e que estão de férias na cidade. As imagens dos jovens amedrontados, que não falam português, a serem revistados com violência com armas apontadas estão a circular nas redes sociais e voltam a trazer o debate da violência racial das forças polícias no Brasil.

Os adolescentes moram em Brasília e estão hospedados na casa de um amigo, branco, que estava com eles e que tentou explicar aos agentes que os seus amigos não falam português e estavam a passar férias juntos. Foi o jornalista Guga Noblat, tio do jovem branco, que divulgou um vídeo do incidente.

Imagens de uma câmara de segurança mostram que, ao avistarem os jovens na frente de um prédio em Ipanema, na noite de quarta-feira, dois agentes da PM desceram de um carro patrulha com as armas apontadas para os jovens negros, empurrando-os contra um muro e obrigando-os a tirar peças de roupa enquanto eram revistados com violência.

Os estrangeiros permaneceram sob mira das armas sem entenderem e sem saberem como reagir, enquanto o adolescente branco explicava aos agentes que os amigos eram estrangeiros, moravam em Brasília e estavam no Rio de Janeiro com ele de férias. Os polícias acabaram por partir.

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil anunciou que está a acompanhar o caso, depois de as embaixadas do Gabão, Canadá e Burkina Faso terem decidido informar os respectivos governos do incidente.

O embaixador do Gabão no Brasil, Jacques Michel Moudouté-Bell, enviou uma carta ao Itamaraty protestando contra a abordagem, que considerou racista. A mulher, Julie-Pascale, afirmou aos meios de comunicação do seu país estar chocada com a forma agressiva com que os adolescentes foram abordados.

O Ministério das Relações Exteriores informou, sexta-feira, numa nota, ter recebido os embaixadores do Gabão e do Burkina Faso em Brasília, para tratar do caso.

“Na reunião, foi entregue em mão aos embaixadores estrangeiros uma nota verbal com um pedido formal de desculpas pelo lado brasileiro, e o anúncio de que o Ministério das Relações Exteriores accionará o governo do estado do Rio de Janeiro para uma investigação rigorosa e responsabilização adequada dos polícias envolvidos na abordagem”, diz o comunicado.

A Polícia Militar do Rio de Janeiro informou em nota que os agentes envolvidos na acção tinham câmaras corporais e que as imagens serão analisadas para verificar se houve excesso. Também a Polícia Civil abriu uma investigação na noite de quinta-feira para apurar o caso.

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