Hungria cancela reunião com ministra dos Negócios Estrangeiros alemã

Tensão diplomática com o Governo húngaro, que preside ao Conselho da União Europeia, por causa da visita de Orbán a Moscovo. Executivo alemão ficou “espantado” com o cancelamento.

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O ministro dos Negócios Estrangeiros, Péter Szijjártó, devia encontrar-se com Annalena Baerbock na segunda-feira Evgenia Novozhenina / REUTERS
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O Governo húngaro cancelou o encontro de segunda-feira entre o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Péter Szijjártó, e a sua homóloga alemã, Annalena Baerbock, alegando razões “técnicas e não políticas”, uma decisão que deixou o executivo alemão “espantado” com o gesto. A reunião seria a primeira dos húngaros com um Estado-membro da União Europeia depois da visita do seu primeiro-ministro, Viktor Orbán, à Rússia, um gesto que deixou incomodada a maioria dos países da União Europeia (UE).

"Devido a uma alteração imprevista na agenda do ministro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros solicitou que a visita se realizasse numa data posterior, esperemos que num futuro próximo", afirmou o ministério húngaro, citado pela Reuters. "A razão é puramente técnica e não política", garantiu a diplomacia de Budapeste.

Estes cancelamentos de última hora são muito pouco comuns e mal vistos diplomaticamente, é muito provável que este tenha a ver com as fortes críticas do chanceler alemão, Olaf Scholz, e de outros líderes dos 27 à ida do primeiro-ministro húngaro à Rússia, na sexta-feira, para falar da paz na Ucrânia com Vladimir Putin como se estivesse a falar pela UE.

O gesto apanhou a ministra Annalena Baerbock de surpresa, “espantada” por ter sido cancelado o encontro quando é preciso discutir de forma “séria e honesta” a viagem de Orbán a Moscovo numa altura em que a Hungria, embora detenha a presidência do Conselho da União Europeia, não foi mandatada para encontrar uma solução negociada para a guerra na Ucrânia.

Uma fonte do MNE alemão disse aos jornalistas na sexta-feira, de acordo com o Politico, que a ministra tinha previsto levantar essa questão no encontro com Szijjártó, mas, “para nossa surpresa, a parte húngara cancelou” a reunião “em cima da hora”.

Desde Abril de 2022 que nenhum chefe de Estado e de Governo da União se tinha encontrado com o Presidente russo, Vladimir Putin e Orbán, poucos dias depois de assumir a presidência do Conselho da União Europeia, fez exactamente isso, viajou até Moscovo para se encontrar com o chefe de Estado russo em “missão de paz”.

“O apaziguamento não vai travar Putin”, escreveu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na rede social X. “Só a unidade e a determinação abrirão caminho para uma paz abrangente, justa e duradoura na Ucrânia.”

Charles Michel, o ainda presidente do Conselho Europeu até à tomada de posse de António Costa a 1 de Dezembro, lembrou a Orbán, em mensagem publicada na rede social, que o facto de a Hungria deter a presidência rotativa do Conselho da União Europeia até ao final do ano não lhe dá nenhum “mandato para se envolver com a Rússia em nome a da UE”.

“O Conselho Europeu é claro: a Rússia é o agressor, a Ucrânia é a vítima. Nenhuma discussão sobre a Ucrânia pode acontecer sem a Ucrânia”, acrescentou Michel.

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