Primeiro, foi a mãe de um herói de guerra norte-americano morto no Afeganistão que criticou a decisão de atribuir ao príncipe Harry o prémio criado para homenagear o seu filho, Pat Tillman, uma estrela de futebol americano que desistiu de um contrato milionário para se alistar no Exército americano, no rescaldo do 11 de Setembro. Agora, dezenas de milhares juntam-se ao protesto, questionando a decisão da ESPN de atribuir o galardão ao duque de Sussex.
A decisão da cadeia de televisão desportiva ESPN, que anualmente distingue indivíduos do mundo do desporto que deram contributos significativos para os outros, reflecte o trabalho de Harry, o filho mais novo do rei Carlos III, na criação e organização do Jogos Invictus, um evento multidesportivo internacional para militares feridos em serviço e veteranos. No entanto, a mãe de Pat Tillman, Mary, reclamou pelo facto de não ter sido consultada. Além disso, diz-se “chocada com o facto de terem escolhido um indivíduo tão controverso e que divide opiniões para receber o prémio”.
Entretanto, outras vozes juntaram-se a Mary Tillman, e uma petição, que reúne mais de 60 mil assinaturas, alega que “a atribuição desta honra a alguém que não reflecte a intenção do prémio diminui o seu valor e desrespeita a memória de [Pat] Tillman”.
O abaixo-assinado, que à hora da redacção deste artigo contava com 63.416 assinaturas, foi criado por Patti Mickel, que destaca o “patriotismo, a lealdade e o sacrifício” de Pat Tillman, opondo-os ao comportamento do príncipe Harry. “Embora antigo militar, tem estado envolvido em controvérsias que põem em causa a sua idoneidade para receber uma honra desta magnitude. Foi acusado de pôr em perigo o seu esquadrão ao revelar publicamente mortes de militares.”
Os prémios Excelência no Desempenho Desportivo Anual (ESPY, na sigla original) são geridos pela ESPN. No ano passado, o prémio Pat Tillman foi atribuído a membros da equipa técnica dos Buffalo Bills, que reanimaram um jogador em campo. Este ano, destaca a ESPN, Harry foi escolhido pelo seu “trabalho incansável em ter um impacto positivo na comunidade de veteranos através do poder do desporto” com os seus Jogos Invictus.
Quem foi Pat Tillman?
Patrick Tillman (n. 1976, San Jose, Califórnia, EUA) destacou-se desde cedo no desporto, tendo conduzido a equipa da sua escola secundária a um Campeonato de Futebol da Divisão I da Costa Central — depois de lhe terem dito que era demasiado pequeno para jogar futebol.
Já depois da faculdade, os Arizona Cardinals escolheram Pat na 7.ª ronda do Draft da NFL de 1998. Os adeptos do clube, assim como vários comentadores, torceram o nariz. Pat respondeu-lhes quebrando o recorde de placagens em 2000, com 224. Até que, no ano seguinte, a 11 de Setembro, o mundo assistiu ao maior ataque que a América sofreu. “Em alturas como esta, paramos e pensamos em como é bom o que temos, no tipo de sistema em que vivemos e nas liberdades que nos são permitidas. Muitos dos meus familiares lutaram em guerras e eu não fiz nada”, comentou, na altura, Pat.
No ano seguinte, na Primavera, o atleta casou-se com a sua namorada de liceu e, no regresso da lua-de-mel, anunciou a decisão de pôr a sua carreira desportiva, numa altura em que tinha um contrato milionário, em suspenso e alistar-se no Exército.
Com o irmão, Kevin, Pat foi destacado para o segundo batalhão do 75.º Regimento de Rangers em Fort Lewis, Washington. Os dois serviram no Iraque, em 2003 e 2004. Até que, na noite de 22 de Abril de 2004, a unidade de Pat foi alvo de uma emboscada enquanto viajava pelo terreno acidentado num desfiladeiro do leste do Afeganistão. Uma investigação da Divisão de Investigação Criminal do Exército dos EUA concluiu que Tillman foi morto por fogo amigo quando a outra parte do seu pelotão disparou sobre a outra parte no meio da confusão.