A previsibilidade é um trunfo que Portugal quer usar contra a França

Duas selecções com aspirações no Euro 2024, mas longe de convencerem, medem forças nos quartos-de-final Martínez garante que tem havido autocrítica e que a equipa está preparada.

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Momento do treino de ontem, ainda em Marienfeld MIGUEL A. LOPES / EPA
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O piano que Portugal tem usado desde que começou o recital do Euro 2024 tem uma tecla bem mais gasta que as outras, a da previsibilidade. No plano ofensivo, entenda-se, e particularmente em ataque posicional.A sensação que tem passado frente a selecções que apresentam um bloco baixo (e foram quase todas até agora) é que sobra em circulação o que falta em dinâmica e objectividade. O seleccionador, Roberto Martínez, aproveitou o lançamento do jogo dos quartos-de-final, diante da França, em Hamburgo, para defender a abordagem que tem sido adoptada, reconhecendo que falta “apenas” uma coisa: os golos.

Contra um candidato ao título como a selecção francesa, ou contra um mero sobrevivente como a Eslovénia, os golos fazem falta. Mesmo não tendo marcado muitos, os cinco que Portugal contabiliza suplantam os três do adversário desta noite e a mesma lógica se aplica quando se olha para os remates (74 contra 69) ou para os ataques (306 contra 232) - e podemos dizer o mesmo dos cantos, dos dribles e, noutro plano, até das recuperações de bola. São números, porém, que não apagam a sensação de que a selecção portuguesa confunde paciência com apatia.

“As críticas fazem parte do meu trabalho. Eu tenho a informação, os critérios, os dados de preparação do jogo, tudo o que precisamos para tomar decisões. As críticas mostram a paixão que há pela selecção e aceito isso. Eu vejo os treinos e tomo decisões em relação a isso”, respondeu Roberto Martínez, quando confrontado com a imagem de uma selecção que ofensivamente não tem sido capaz de desmontar a organização dos adversários.

De resto, o seleccionador não só aceita a ideia de previsibilidade como a alimenta. “Ser previsível... Todos sabemos como jogam as grandes equipas, o importante é a execução. Tivemos quatro jogos, tivemos 30 treinos, acho que agora estamos preparados, estamos focados, com muita autocrítica, mas o estilo é claro e não precisamos de mudar e, de jogo a jogo, tentarmos ser imprevisíveis. Ser previsível faz parte do que queremos fazer no relvado.”

Previsível também tem sido o marcador dos livres directos. Cristiano Ronaldo bateu todos os que Portugal somou no torneio, com eficácia zero. Martínez assumiu que a decisão é do seleccionador, mas não explicou por que razão é sempre o capitão de equipa a marcar. “Os jogadores praticam isso no treino, o Cris e o Bruno [Fernandes] são os dois jogadores que têm a responsabilidade. Algumas vezes é o perfil, a posição, o momento. Temos a sorte de ter dois jogadores com nível muito alto”.

Haverá muitos do outro lado do campo esta noite, também. A França - que contou com um autogolo tardio para ultrapassar a Bélgica na ronda anterior - está tão perto de convencer como Hamburgo está de Munique, palco das meias-finais, e as preocupações de Didier Deschamps serão idênticas às de Martínez.

“O importante é controlar o contra-ataque, a França tem vários jogadores que podem atacar o espaço, o Kylian, o Dembélé, o Thuram, e precisamos de respeitar isso. Controlar os ataques rápidos e defender bem a nossa área”, alerta Martínez. “Eles têm uma equipa de grande qualidade, com jogadores muito bons. Mas na caminhada que têm feito, tal como nós, têm tido problemas. De qualquer forma, são uma das grandes equipas da Europa e espero um grande jogo”, avalia Deschamps, seleccionador francês, sem abrir o jogo. “Estas são partidas de alto nível. Podem decidir-se em detalhes. Ambas as equipas têm jogadores capazes de fazer a diferença”.

Aquele que será o 29.º embate entre as duas selecções será simultaneamente o quinto em fases finais de Campeonatos da Europa, mas o primeiro a acontecer nos quartos-de-final. O balanço é largamente favorável aos franceses (19 triunfos no total, dois em Europeus), ainda que os resultados sejam sempre marginais. Quanto a Portugal, tem a final do Euro 2016 para usar como bálsamo motivacional.

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