Descoberto predador aquático gigante de um tempo anterior aos dinossauros

Tetrápode semelhante a uma salamandra viveu no território que corresponde actualmente à Namíbia. O seu corpo media cerca de 2,5 metros, tinha uma cabeça em forma de diamante e dentes grandes.

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Uma ilustração da espécie Gaiasia jennyae Gabriel Lio
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Uma equipa de cientistas descobriu um predador de topo, com um crânio com cerca de 60 centímetros e enormes dentes, que habitava em água doce numa época anterior aos dinossauros.

Um estudo publicado na última edição na revista Nature dá o nome à espécie de Gaiasia jennyae – um tetrápode semelhante a uma salamandra, ou vertebrado de quatro patas, que viveu no território que corresponde actualmente à Namíbia. O seu corpo media cerca de 2,5 metros de comprimento, tinha uma cabeça larga, plana e em forma de diamante e dentes grandes e interligados, escreveram os cientistas.

Os fósseis sugerem que se alimentava por sucção, mas também tinha uma mordida poderosa para capturar presas maiores. “Tinha uns dentes enormes, toda a parte da frente da boca era constituída por dentes gigantes”, disse Jason D. Pardo, do Centro de Investigação Integrativa Negaunee do Museu Field de História Natural, em Chicago (EUA), que co-liderou o estudo, num comunicado.

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Um esqueleto quase completo de Gaiasia jennyae em 2018 Claudia A. Marsicano

A equipa de investigação, liderada por Claudia A. Marsicano, da Universidade de Buenos Aires (Argentina), e Jason Pardo, descreveu-o como um “novo tetrápode aquático, excepcionalmente grande” que “fornece informação importante sobre os tetrápodes que habitaram as altas latitudes da Gonduana”​, referindo-se ao supercontinente que incluía a maior parte das zonas de terra firme que hoje constituem os continentes do Hemisfério Sul.

Anthony Romilio, um paleontólogo do Laboratório de Dinossauros da Universidade de Queensland, na Austrália, que não esteve envolvido no estudo, escreveu num email que se tratava de uma “descoberta fascinante” que “desafia a crença de que os primeiros animais terrestres [tetrápodes] se encontravam sobretudo perto do equador, em zonas húmidas produtoras de carvão”.

“A Gaiasia apareceu muito mais a sul do que os seus parentes próximos que viviam no que é hoje a América do Norte e a Europa”, disse, acrescentando que a descoberta “nas regiões mais frias e de alta latitude do Sul do antigo supercontinente indica que os primeiros tetrápodes estavam mais disseminados e eram mais adaptáveis a diferentes climas do que se pensava”.

Christian A. Sidor, professor de paleobiologia na Universidade de Washington (EUA), que também não fazia parte da equipa de investigação, escreveu na Nature que a descoberta ajudou a “preencher uma lacuna no registo fóssil” porque foi encontrada “num local e num tempo que nenhum paleontólogo teria esperado”.

A criatura viveu há cerca de 280 milhões de anos, durante o início do período Pérmico, uma altura em que existia um único continente, a Pangeia – e cerca de 40 milhões de anos antes dos primeiros dinossauros. Foi a época de outros predadores como o Dimetrodon, um carnívoro com uma vela dorsal, e o Helicoprion, um peixe parecido com um tubarão com dentes dispostos em espiral.

Segundo Pardo, a Gaiasia jennyae era uma espécie “arcaica” mesmo no seu tempo, tendo sobrevivido cerca de 40 milhões de anos após a extinção da maioria dos seus parentes, no final de uma idade do gelo em que se estavam a formar novas linhagens de animais.

O seu nome deriva da Formação Gai-As, na Namíbia, onde os fósseis foram encontrados, e é uma homenagem à paleontóloga Jenny Clack, que morreu em 2020. Os cientistas reuniram as informações sobre a criatura a partir de quatro espécimes.

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