Meloni condena elogio ao fascismo revelado na ala jovem dos Irmãos de Itália
Uma reportagem feita com recurso a uma câmara oculta mostrou membros da Juventude Nacional, o braço juvenil dos Irmãos de Itália, a glorificar o fascismo com gestos, palavras e autocolantes.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, exortou os dirigentes do seu partido Irmãos de Itália a rejeitarem o anti-semitismo, o racismo e a nostalgia dos regimes totalitários, depois de uma reportagem feita com uma câmara oculta ter mostrado membros da secção juvenil do seu partido a glorificarem o fascismo.
“Já o disse e repeti dezenas de vezes, mas caso seja necessário, repito: não há espaço, nos Irmãos de Itália, para posições racistas ou anti-semitas, tal como não há espaço para os nostálgicos do totalitarismo do século XX ou para qualquer manifestação de folclore estúpido de partidos de extrema-direita", escreveu Meloni numa mensagem de correio electrónico dirigida aos dirigentes do seu partido, em que afirma: "[Estou] zangada e triste com a forma como fomos representados pelo comportamento de alguns jovens do nosso movimento."
A reportagem, que foi publicada em dois episódios em Junho, foi filmada por um jornalista do canal de notícias italiano Fanpage.it que se fez passar por activista da Juventude Nacional, o braço juvenil dos Irmãos de Itália. Imagens captadas por uma câmara oculta mostrava membros do movimento a fazer saudações fascistas, a elogiar o ditador Benito Mussolini, a dar instruções a outros para espalharem autocolantes com slogans fascistas e a definirem-se como fascistas.
Pessoas identificadas pela reportagem como membros da Juventude Nacional foram filmadas enquanto gritavam "Sieg heil", uma expressão adoptada pelos nazis. Outros jovens também identificados como membros foram filmadas a fazer comentários racistas e anti-semitas.
Apesar de o Irmãos de Itália ter raízes num partido nascido dos destroços do fascismo, Giorgia Meloni tem-se esforçado para ultrapassar esse passado e prometeu apresentar-se como uma líder moderna e pragmática, dizendo repetidamente que o fascismo pertencia à história. Mas, ao fim de quase dois anos de mandato, teve de lembrar ao seu partido que devia deixar essa herança para trás.
"Não há lugar nas nossas fileiras para aqueles que desempenham um papel caricatural que apenas serve a narrativa que os nossos adversários querem criar sobre nós", escreveu na carta. "Eu e nós não temos tempo a perder com aqueles que nos querem fazer andar para trás", escreveu na mensagem interna.
A primeira-ministra recordou ainda que os Irmãos de Itália aderiram à resolução do Parlamento Europeu de 2019 que condenou todas as ditaduras do século XX. É "uma posição" que "não tenciono pôr em causa", afirmou.
Nos últimos dias, a reportagem tem levado a troca de acusações dos partidos da oposição. "Na minha idade, será que vou ter de ver isto outra vez?", perguntou Liliana Segre, 93 anos, senadora italiana e sobrevivente do Holocausto, na televisão italiana, citada pelo NYT. "Terei de ser expulsa do meu país como já fui expulsa?"
Os deputados da esquerda insurgiram-se. Michela di Biase, deputada do Partido Democrático de Itália, acusou os jovens do partido de Meloni de idealizarem aqueles que "mancharam a história do país com o sangue da perseguição".
Meloni e os deputados do seu partido criticaram os métodos do jornalista e afirmaram que a reportagem não representava a verdadeira identidade do seu partido ou do seu movimento juvenil, mas sim de uma pequena minoria. Luca Ciriani, deputado dos Irmãos de Itália, disse que a reportagem tinha sido construída com base em imagens fragmentadas e fora de contexto. Outros membros do partido reconheceram e condenaram o comportamento.
Entretanto, duas jovens identificadas na reportagem demitiram-se das funções oficiais que tinham — uma era assessora de um deputado e a outra tinha lugar no Conselho Italiano da Juventude —, mas não foram expulsas da Juventude Nacional, segundo o porta-voz dos Irmãos de Itália.