João Martins Pereira, um jovem socialista na segunda volta em França

Candidato luso-francês diz que “uma França liderada por um primeiro-ministro da extrema-direita tem um impacto monumental na Europa”.

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João Martins Pereira é vice-presidente dos Jovens Socialistas europeus desde Outubro. Louis Daumal
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João Martins Pereira tem a mesma idade de Jordan Bardella, o líder da União Nacional. Aos 28 anos, este luso-francês é secretário nacional dos Jovens Socialistas franceses, com a pasta dos assuntos europeus e internacionais, vice-presidente dos Jovens Socialistas europeus desde Outubro, além de conselheiro das comunidades portuguesas e de ter sido candidato à presidência da autarquia de Charenton-le-Pont.

João Martins Pereira é um dos candidatos que passaram à segunda volta destas eleições legislativas antecipadas, pelo 8.º círculo do Val-de-Marne, onde milita no Partido Socialista desde 2014, nas quais a União Nacional foi o partido mais votado.

Nascido em Portugal e a viver em França desde o primeiro ano de vida, o seu percurso não difere muito do de outros franceses de origem portuguesa. Filho de um pedreiro de profissão e de uma empregada de limpeza, o candidato ao parlamento cedo se apercebeu das desigualdades sociais e das diferenças de oportunidade entre classes, o que o levou a inscrever-se no Partido Socialista aos 18 anos.

Essa consciência leva-o a assumir, sem complexos nem hesitações, a coligação Nova Frente Popular (NFP), que se inspirou na Frente Popular com que Léon Blum chegou ao poder em 1936. Há um objectivo comum a socialistas, ecologistas, comunistas, à França Insubmissa e a outras forças políticas de menor dimensão: a importância de derrotar a extrema-direita sobrepõe-se às divergências que possam surgir por causa de outras questões, nomeadamente quanto à guerra da Ucrânia.

É o pragmatismo que o leva a dizer que “não estamos de acordo em todos os aspectos” e que “temos pequenas diferenças”, mas que os partidos conseguiram entender-se quanto às “propostas que queremos pôr em prática logo a partir do dia 8, se tivermos uma maioria no parlamento”.

Este projecto de coligação surgiu na sequência dos resultados das eleições europeias, foi montado com extrema rapidez e anunciado no dia seguinte à votação e à dissolução da Assembleia Nacional. João Martins Pereira reconhece as diferenças entre as várias forças partidárias, mas considera mais importante, no actual contexto, que os partidos de esquerda consigam “cooperar para o futuro do país e, também, para o futuro da Europa”.

Isto, porque, sublinha, “uma França liderada por um primeiro-ministro da extrema-direita tem um impacto monumental na Europa”. “Eu tenho muito medo, tenho de o dizer como responsável político e como cidadão”, assume, “de um governo liderado pela extrema-direita, que limpou a sua imagem, mas que, no fundo, é a mesma: antissemita, antidemocrática, anti-europeia e pró-russa”.

A responsabilidade de Macron

“A ideia é lutar contra a extrema-direita e também contra as políticas do presidente Emmanuel Macron, que levaram o país ao estado em que estamos agora”, diz ao PÚBLICO. Mas a intenção, prossegue, também passa por criar uma “proposta alternativa ao nível do país, uma proposta de futuro, uma proposta de progresso”.

Caso contrário, está convencido, vários grupos da sociedade francesa sofrerão consequências e exemplifica: “Marine Le Pen quer que quem tenha dupla nacionalidade seja proibido de trabalhar, por exemplo, na função pública, na administração interna, ou seja, implica empurrar para fora entre 5 a 7 milhões de pessoas que hoje trabalham e que fazem com que os nossos serviços sejam mais eficazes”, decisão que implicará a maioria dos luso-descendentes.

Em caso de vitória eleitoral, permanece por saber que dirigente dos partidos participantes na aliança poderia ser escolhido para primeiro-ministro ou, até, se poderia ser uma figura independente, como forma de superar as divergências que essa decisão irá forçosamente criar.

Em grande parte, o problema coloca-se se for adoptado o critério da escolha do nome do primeiro-ministro, em caso de vitória, recair no partido da NFP que obtenha mais assentos parlamentares nesta segunda volta.

O que quereria dizer que Jean-Luc Mélenchon poderia ser a escolha, nada pacífica entre as outras forças políticas e do maior desagrado do presidente Macron, porque a França Insubmissa será quem, provavelmente, irá obter mais lugares na Assembleia Nacional.

João Martins Pereira defende “uma opção reformista, uma opção moderada e social-democrata” e lamenta o facto de Os Republicanos se “terem vendido à extrema-direita”, reduzindo assim as alternativas no centro político.

“Esta estratégia que foi a de Emmanuel Macron, que até podia até ter uma certa lógica, no sentido de dizer ‘quero trabalhar com toda a gente que quer fazer avançar o país’, falhou. Na cabeça de muita gente, e de muita gente que nunca votou na extrema-direita, ou que não é racista, nem é xenófoba, é pensar que, se o presidente Macron não consegue, a ‘única opção que eu tenho é a da União Nacional’”. “Macron”, conclui, “matou as opções moderadas”.

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