Pedro Nuno critica Governo por falhar acordo com polícias: “O que fica é o fracasso”

Há um “fracasso da capacidade” do Governo na negociação com as forças de segurança, diz líder do PS, que condena o “aproveitamento” do Chega e considera o apelo de Ventura “irresponsável”.

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Pedro Nuno Santos falou na sede nacional do PS JOSÉ SENA GOULÃO / LUSA
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O líder do PS fez várias críticas à forma como o Governo está a gerir a questão do subsídio de missão para as forças de segurança. Pedro Nuno Santos afirmou que o aviso de Luís Montenegro de que não haverá "nem mais um cêntimo" para a proposta que foi feita aos sindicatos de estabelecer o subsídio de missão em 300 euros traz uma "assertividade que não existiu durante a campanha".

O secretário-geral do PS lembrou, ao início da tarde em declarações aos jornalistas, na sede do partido, depois de receber o vice-presidente da Comissão Europeia Maroš Šefčovič, o debate que ambos tiveram no Capitólio, em Lisboa, que foi cercado por agentes das forças de segurança fora de serviço – que Pedro Nuno classifica de "pressão" – para recordar que na altura não houve qualquer "resposta assertiva" de Montenegro na "defesa da autoridade republicana do Estado".

"É fundamental que os políticos com responsabilidade afirmem a autoridade do Estado, desde logo na crítica ao aproveitamento e à instrumentalização que outros políticos fazem dos protestos ou do descontentamento legítimo das forças de segurança", defendeu. Salientando, no entanto, que é também "trabalho de um primeiro-ministro conseguir promover acordos quando foi esse precisamente o compromisso do agora primeiro-ministro na campanha e por isso é um fracasso da capacidade de chegar a acordo".

Quando questionado sobre se a proposta do Chega de estabelecer esse suplemento de risco nos 400 euros é razoável, Pedro Nuno Santos não respondeu directamente. "Temos que avaliar a proposta e ouvir as associações", afirmou, alegando que o PS não esteve nas negociações e não sabe exactamente por que é que as duas partes não se conseguiram entender. "Quem garantiu e prometeu que iria resolver o problema foi o primeiro-ministro e não o conseguiu. O que fica é o fracasso e isso é mau para toda a gente – Governo, forças de segurança e país", apontou.

"O argumento da capacidade orçamental do Estado é importante, mas é a primeira vez que o oiço", fez questão de salientar o líder socialista, realçando que houve "muitas medidas sem previsão do esforço orçamental e a preocupação com isso nunca pareceu muita". E exemplificou com os impostos: "Só em IRS são 1500 milhões de euros de perda de receita por ano", disse, em tom de crítica, quando a proposta do PS também é desse valor.

Sobre a atitude de Ventura de apelar à manifestação dos polícias no Parlamento, Pedro Nuno Santos faz uma "condenação total e sem hesitação do aproveitamento do Chega. Não sossega ninguém. Nem os que votaram no Chega e valorizam a ordem pública concordam com a forma como o líder do Chega se comporta".

"A forma como o apelo foi feito é irresponsável por parte de André Ventura. (...) Não é forma de resolver problemas a ninguém. A única coisa que André Ventura está a fazer é a tentar aproveitar e instrumentalizar o descontentamento legítimo das forças de segurança."

Montenegro faz "combate às medidas aprovadas pelo Parlamento"

O jogo de acusações entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro subiu de tom nesta terça-feira: depois de o primeiro-ministro ter falado num "jogo de sombras" entre o PS e o Chega, o líder socialista veio recusar quaisquer jogos com o partido de direita radical populista e apontou o dedo ao chefe do Governo, de quem diz que "faz combate às medidas aprovadas pela Assembleia da República (AR)". "Que sinais podemos ver nisso? São sinais contrários à estabilidade política."

Pedro Nuno Santos insistiu na ideia de que o Governo não tem maioria absoluta no Parlamento – até frisou que PSD e CDS-PP "tiveram pouco mais" que os socialistas – e que, para passarem, as iniciativas do executivo precisam pelo menos do PS ou do Chega. "O povo português não quis dar a maioria absoluta ao PSD e ao CDS-PP. Isso implica que o Governo e o primeiro-ministro não continuem a comportar-se de forma a ignorar o Parlamento, porque ao fazê-lo está a desrespeitar o povo e a sua vontade e o facto de não ter maioria absoluta."

"Não há cá jogos de bastidores nenhuns", insistiu Pedro Nuno. "Um Governo que não tem apoios de uma maioria absoluta na AR tem de procurar de forma activa as condições que lhe garantam a sustentabilidade da governação. Não é o PS ou o resto da oposição que tem que o fazer", avisou, vincando que é ao primeiro-ministro que cabe o dever de procurar essa estabilidade. E acrescentou que os portugueses "não quiseram dar" essa maioria e "isso implica uma maior humildade por parte do primeiro-ministro e do Governo. Não está é à espera que o PS se torne num CDS para o Governo porque não é esse o papel do PS", apontou.

Apesar de todas as críticas, Pedro Nuno Santo voltou a garantir que "não será por causa do PS que haverá instabilidade política em Portugal", desafiando o Governo e o primeiro-ministro a darem "um passo em frente" e a "passar aos actos", ou seja, tentar negociar.

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